O debate sobre o 18 de janeiro 1934
DOSSIÊS SF | TRL – TERRAS DE RESISTÊNCIA E LUTA – N1 Janeiro 2022 | Marinha Grande
A Marinha Grande destacou-se nos acontecimentos da greve geral de janeiro de 1934 pela relevância dos atos empreendidos que assumiram um caráter insurrecional. Mas a mobilização dos trabalhadores e da população local foi limitada se a compararmos com outras localidades como é o caso de Almada e Silves.
A paralisação das fábricas em consequência da greve geral que se propunha fazer retroceder o regime salazarista nos seus propósitos corporativistas e anti-sindicais, ocorreu principalmente noutras localidades. Na Marinha Grande fica um registo de coragem e de audácia dos operários vidreiros, com uma eficácia reduzida, com um curto período de apenas duas ou três hora, durante a noite, de controlo da localidade.
O que resta do 18 de janeiro de 1934?
O romantismo revolucionário produziu uma construção ideal para os propósitos de ataque ao regime do Estado Novo e de motivação para a ação combativa contra a ditadura. A mensagem otimista radicou na constatação voluntarista “afinal será possível lutar e vencer”.
Funciona nesta circunstância o imaginário alimentado pela ideologia e avalia-se uma experiência pelo lado do simbólico e não tanto pela expressão real que teve no plano dos resultados e sobretudo dos impactos a médio e longo prazo.
As consequências do 18 de janeiro 1934 foram dramáticas para os dirigentes e para os militantes do operariado da Marinha Grande, de Almada e de Silves assim como de outras localidades do país onde contou com menos mobilização e impacto. Mas podem e devem ser destacadas evidências de um período histórico que não minimizem as ações empreendidas mas que permitam uma leitura que reforce efetivamente orientações favoráveis ao movimentos de oposição e combate a regimes totalitários.
O que eu penso do 18 de Janeiro 1934
Em três frases curtas emito a minha opinião
O valor e os equívocos
A CORAGEM DE AGIR
Quem naquela madrugada saiu de casa e se juntou aos grupos que iriam realizar o plano de ataque estabelecido para fazer valer o que a classe vidreira pretendia afirmar na greve geral de janeiro 1934 deixa uma mensagem clara: A CORAGEM DE LUTAR por ideais e por objetivos é a energia fundamental para fazer avançar os movimentos de oposição aos regimes totalitários. SEM CORAGEM não há mudança quando os regimes são de opressão generalizada.
AS COMPARAÇÕES DESMEDIDAS e sem qualquer fundamento
Nas representações que foram sendo construídas assentes em imprecisões, em abordagens unilaterais, em interpretações propositadamente confusas, em referências heróicas, em imagens mitificadas ao longo dos tempos, foi surgindo uma espécie de comparação do levantamento insurrecional da Marinha Grande com uma COMUNA.
Trata-se de uma comparação sem qualquer fundamento. Podemos recordar alguns pontos centrais, por exemplo da Comuna de Paris, tais como:
Os processos eleitorais que marcaram a votação para deputados em eleições gerais, as eleições internas na Guarda Nacional até à constituição do Comité Central com representações dos vários bairros da cidade parisiense, as eleições nos bairros para eleição dos representantes e a dimensão federativa do sistema de representação.
A Guarda Nacional que respondeu ao apelo Paris está em perigo era uma força constituída por 180.000 homens, com armas e canhões, sendo no entanto a sua prioridade defender a República.
A Comuna de Paris, como início em 18 de março de 1871, durou NOVE SEMANAS e criou um sistema de governo independente que aliás de forma peculiar recusava a separação dos poderes legislativos e executivos e pretendeu dar primazia à influência dos representantes dos bairros em detrimento de estruturas de topo como o Comité de Salut Public.
A tensão existente entre anarco-sindicalistas e o Partido Comunista Português sobre os fatos dos próprios acontecimentos e sobretudo sobre a sua interpretação permanece nos dias de hoje com argumentos vários que no fundo interpelam o sentido histórico e as dinâmicas instaladas no seio das correntes sindicais e dos grupos oposicionistas ao regime e a forma de conduzir o combate à ditadura.
Com as orientações que a Internacional Comunista irá disseminar na Europa favorecendo movimentos de frente comum e de alianças duradouras contra o capitalismo e a opressão, este campo de pensamento e ação evoluirá rapidamente e cada corrente posicionar-se com maior clareza nas batalhas políticas do pós-1934.
Mas ficará para sempre este equívoco ou contra-senso que se traduziu na inversão de papéis. Enquanto que os anarco-sindicalistas, adeptos de ações diretas de lógica blanquista, conseguiam noutras localidades como Almada e Silves verdadeiras greves nas fábricas e apoio nas populações locais, na Marinha Grande, onde o PCP se organizava com solidez o partido avançou para uma iniciativa insurrecional quando preconizava que as ações contra Salazar e o Estado Novo deveriam basear-se em movimentos de massas e de mobilização dos trabalhadores.
O que sabe sobre o 18 de janeiro?
Alunos da Marinha Grande, jovens interessados na cultura e na identidade da terra, vieram para a rua e de microfone na mão dirigiram-se a quem passava para fazer perguntas sobre o 18 de janeiro de 1934.
O DEBATE NO AUDITÓRIO CALAZANS DUARTE
Realizado no dia 18 de janeiro de 2022 no Auditório Calazans Duarte com a organização do Grupo de História do Agrupamento de Escolas da Marinha Grande Poente, contou com a presença de Hermínio Nunes, Paulo Tojeira, Pedro Correia e Aires Rodrigues tendo sido moderador Carlos Ribeiro do SEM FRONTEIRAS: