5 de Dezembro, 2024

OPINIÃO | Manifesto NAH – Não apaguem a humanidade

Filipe do Carmo, proponente de divulgação do manifeste NAH

Militante e especialista dos temas ambientais Filipe do Carmo terá dado particular importância no conteúdo do manifesto à abordagem seguinte: O combate às alterações climáticas é fundamental, a subida do nível das águas do mar sendo o principal que elas irão causar. Só o degelo das superfícies da Gronelândia ameaça uma subida de 7 metros. E o degelo da Antártida? Quantos metros? Mas não é tudo. Actualmente já os recursos que as actividades produtivas transformam em lixos causam problemas enormes. Os plásticos inundam os oceanos, os lagos, os rios e as praias. A biodiversidade está em diminuição acentuada. E o lixo nuclear, o que irá causar?


O P I N I ã O    P ú B L I C A = conjunto de entes influenciáveis que, na sequência de sucessivas castrações, são continuamente moldados com o objectivo de ser colocados numa situação de dependência face aos interesses económicos e em que a melhoria da condição de vida requer uma progressiva sucessão de novas castrações

C L A S S E    P O L í T I C A = largo grupo de individualidades sujeitas a forte hierarquização, cujos elementos trepam na pirâmide à medida que vão provando competência na capacidade para impor castrações aos seres influenciáveis de modo a permitir o prosseguimento acelerado da reprodução capitalista

A televisão, poderoso instrumento castrador ao serviço dos oligarcas que dominam a economia, não perde uma ocasião para inundar os domicílios com notícias eivadas de parcialidade em que os interesses da oligarquia económica são sistematicamente defendidos. Acompanhada com menor eficiência pela sua parente em papel, esforça-se por identificar de entre os acontecimentos mais recentes aquele que tem capacidade para atingir durante tempo mais longo as consciências individuais – os casos, por exemplo, mais recentes do COVID e da GUERRA DA UCRÂNIA – para durante longos períodos as privar de informações sobre outros acontecimentos, mesmo os de grande relevância. Mas, preocupar-se com os atingidos pelos horrores da guerra dá boa consciência aos entes influenciáveis. E a televisão sabe-o.

Atingida por uma senilidade irreversível, a classe política confirma a sua impotência pela sua crença de constituir o agente fundamental de um soberanismo que se desfaz em cacos. No caso particular da Europa, a fé numa superação dessa condição através de uma participação acrescida nos mecanismos comunitários apenas confirma que se trata de uma participação alienada. Se a própria alienação das Nações tem vindo a ser agravada pela crescente dependência europeia face aos EUA e à NATO, a recente admissão de uma sujeição a condições económicas mais desfavoráveis em termos de aquisição de armas e gás americanos não faz senão tornar mais pesada a perda de soberania, condições que passam a reflectir-se pesadamente não só sobre a classe capitalista mas também sobre o comum dos cidadãos.

Reduzido a três Estados ainda realmente soberanos – os EUA, a China e a Rússia – o nosso mundo assiste a desenvolvimentos que começam por prenunciar a saída do grupo deste último Estado. A agressão em curso que ele exerce sobre um dos Estados subordinados à tutela americana – a Ucrânia, Estado fantoche em que a classe política, a que está estreitamente associada uma pandilha de oligarcas, se mostra disposta a sacrificar (a exemplo do que Salazar quis fazer com o exército português na Índia em 1961) a sua população para defender os ventres de tal pandilha – já se começa a revelar como um factor que tenderá a provocar o abastardamento referido.

Embrenhado por outro lado na defesa e promoção de regimes políticos que classificam de “democracias” – que com mais rigor deveriam ser denominados de “plutocracias” –, este nosso mundo ocidental, acompanhado aliás pelo restante do planeta e perdido não unicamente no desencadeamento de guerras mas também na perspectiva mesquinha do crescimento económico,

conduz à desgraça que é outro abastardamento, que é o da prossecução dos objectivos de carácter ambiental.

Muito deficientemente empenhadas em combater a desordem climática – promessas, compromissos, mas não acções sistémicas, criação de penalizações que visem prevaricadores, financiamentos adequados a Estados menos dotados de recursos – a CLASSE POLÍTICA e a OLIGARQUIA ECONÓMICA produzem facilmente manifestos de apoio à redução da emissão de gases com efeitos de estufa mas hesitam – ou ignoram a questão – quando se trata de outras agressões sobre o ambiente. E tais manifestos são rapidamente esquecidos para dar lugar a declarações sobre a necessidade de manter a promoção do crescimento económico, promovendo assim um consumismo destruidor do ambiente e continuando a apostar em hipotéticas revoluções tecnológicas. Dando destaque em tal contexto ao greenwashing, e não dando relevo a necessárias evoluções sociais e culturais.

O combate às alterações climáticas é fundamental, a subida do nível das águas do mar sendo o principal problema que elas irão causar. Só o degelo das superfícies da Gronelândia ameaça uma subida de 7 metros. E o degelo da Antártida? Quantos metros? Mas não é tudo. Actualmente já os recursos que as actividades produtivas transformam em lixos causam problemas enormes. Os plásticos inundam os oceanos, os lagos, os rios e as praias. A biodiversidade está em diminuição acentuada. E o lixo nuclear, o que irá causar?

Entretanto, o número de seres humanos no planeta aumenta continuamente e a miséria alastra. Os oligarcas, não obstante serem pouco numerosos, dão origem a uma enorme poluição em que avultam os consumos de combustíveis dos seus jactos privados. E, ao mesmo tempo, estão por detrás de desenvolvimentos tecnológicos que têm vindo a ser criticados por também contribuírem fortemente para novas poluições. Isso enquanto adquirentes de enormes parcelas dos rendimentos gerados, o que contrasta com a precaridade que atinge cada vez mais massas crescentes das populações, em particular os mais jovens. Mesmo na Europa Ocidental, tida como mais bafejada por elevadas remunerações do trabalho. Como irá evoluir o nosso país em tal contexto, onde já uma percentagem enorme dos trabalhadores, quando conseguem trabalhar, não estão acima do salário mínimo?

Em breve, o forte crescimento das populações africanas irá aumentar significativamente as migrações para a Europa. Como vão reagir as CLASSES POLÍTICAS? Acolher com agrado tais migrações para que sejam beneficiados os interesses da OLIGARQUIA no sentido do que já acontece em França ou na Alemanha e entre nós em Odemira? Ou vão procurar motivar os governantes africanos no sentido de criarem bons mecanismos de planeamento familiar que diminuam a natalidade e contribuir com fundos financeiros adequados para que os seus Estados possam criar condições para suportar adequadamente as suas populações? Ou ainda, vão continuar sem fazer nada de relevante para reverter as agressões ambientais e permitir que ocorram desastres que venham a ocasionar…

NãO APAGUEM A HUMANIDADE (mas, se apagarem, o Planeta agradece…)

MARÇO DE 2022

AS NOVAS GERAÇõES

Editor

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