14 de Janeiro, 2025

PAZ SEM FRONTEIRAS – A diplomacia é agora urgentemente necessária para acabar com a guerra russo-ucraniana

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Peritos americanos de defesa, militares, atores políticos e professores, na maior parte aposentados, tomam posição pública

Retomamos o tema da Guerra da Rússia-Ucrãnia na TRIBUNA DO SEM FRONTEIRAS, admitindo vir a publicar, como já o fizemos no primeiro ciclo do conflito, opiniões e posições com perspectivas diferentes. O critério continua a ser como no passado que os textos contenham argumentos sólidos e não se limitem a declarações que pouco ajudarão a esclarecer assunto complexo e exigente como este. Ficamos assim disponíveis para acolher artigos originais e traduções de peças que tenham sido publicadas e que revelem um real interesse para o debate público.

Os EUA devem ser uma força de paz no mundo

Fonte Eisenhower Network Media

A guerra entre a Rússia e a Ucrânia tem sido um desastre absoluto. Centenas de milhares de pessoas foram mortas ou feridas. Milhões foram deslocadas. A destruição ambiental e económica tem sido incalculável. A devastação futura poderá ser exponencialmente maior à medida que as potências nucleares se aproximam cada vez mais de uma guerra aberta.

Deploramos a violência, os crimes de guerra, os ataques indiscriminados com mísseis, o terrorismo e outras atrocidades que fazem parte desta guerra. A solução para esta terrível violência não é mais armas nem mais guerra, com a inevitável consequência de mais morte e destruição.

Como americanos e especialistas em segurança nacional, exortamos o Presidente Biden e o Congresso a usarem os seus plenos poderes para levar a guerra russo-ucraniana a um fim rápido através da diplomacia, sobretudo à luz dos graves perigos de uma escalada militar que poderia ficar fora de controlo.

Há sessenta anos, o Presidente John F. Kennedy fez uma observação crucial para a nossa própria sobrevivência nos dias de hoje. “Acima de tudo, enquanto defendemos os nossos próprios interesses vitais, as potências nucleares devem evitar os confrontos que levariam um adversário a escolher entre uma retirada humilhante e uma guerra nuclear. Adoptar uma tal atitude, na era nuclear, seria apenas a confirmação da falência da nossa política ou de um desejo de extermínio colectivo do mundo“.

A causa imediata desta guerra catastrófica na Ucrânia é a invasão russa. No entanto, os planos e acções de expansão da NATO, até às fronteiras da Rússia, fizeram aumentar os receios da Rússia. E os líderes russos têm vindo a insistir nisso há 30 anos. Um fracasso da diplomacia conduziu a esta guerra. A diplomacia é agora urgentemente necessária para acabar com a guerra russo-ucraniana, antes que esta destrua completamente a Ucrânia e ponha em perigo a sobrevivência da humanidade.

O potencial para a paz

A actual tensão geopolítica sentida pela Rússia é estimulada pelas memórias das invasões de Carlos XII, Napoleão, o Kaiser e Hitler. As tropas americanas faziam parte de uma força de invasão aliada que interveio, sem sucesso, contra o lado vencedor da guerra civil russa posteriormente à Iª Guerra Mundial. A Rússia vê o alargamento e a presença da NATO nas suas fronteiras como  uma  ameaça directa; os Estados Unidos e a NATO vêem apenas a adopção de preparativos  preventivos. Na  diplomacia, há que tentar vislumbrar com latitude estratégica, procurando compreender os nossos adversários. Isto não é fraqueza: é sabedoria.

Rejeitamos a ideia de que os diplomatas, em busca da paz, devam escolher lados, neste caso a Rússia ou a Ucrânia. Ao favorecer a diplomacia, escolhemos o lado da sensatez. Da humanidade. Da paz.

Consideramos que a promessa do Presidente Biden de apoiar a Ucrânia “durante o tempo que for necessário” é uma licença para perseguir objectivos mal definidos e, em última análise, inatingíveis. Poderá revelar-se tão catastrófica como a decisão do Presidente Putin desencadear, o ano passado, a sua invasão e ocupação criminosas. Não podemos apoiar, nem apoiaremos, uma estratégia de lutar contra a Rússia até ao último ucraniano.

Defendemos um compromisso significativo e genuíno com a diplomacia, nomeadamente um cessar- fogo imediato e negociações sem condições prévias que o inibam ou proíbam. As provocações deliberadas conduziram à guerra entre a Rússia e a Ucrânia. Do mesmo modo, a diplomacia deliberada pode pôr-lhe termo.

As acções dos EUA e a invasão russa da Ucrânia

Quando a União Soviética colapsou e a Guerra Fria terminou, os líderes dos Estados Unidos e da Europa Ocidental asseguraram aos líderes soviéticos e depois aos russos que a NATO não se iria expandir até às fronteiras da Rússia. “Não haverá expansão da … NATO, nem uma só polegada para leste“, “assegurou” o Secretário de Estado norte-americano James Baker ao líder soviético Mikhail Gorbachev, a 9 de Fevereiro de 1990. Garantias semelhantes de outros líderes dos EUA, bem como de líderes britânicos, alemães e franceses, dadas por todo o lado, na década de 1990, confirmaram-no.

Desde 2007, a Rússia tem vindo a advertir repetidamente que as forças armadas da NATO nas fronteiras da Rússia eram intoleráveis, tal como as forças russas no México ou no Canadá seriam intoleráveis para os EUA neste momento, ou como os mísseis soviéticos em Cuba eram intoleráveis em 1962. A Rússia também classificou a expansão da NATO para a Ucrânia como especialmente provocadora.

Ver a guerra pelo prisma da Rússia

Tentar compreender a perspectiva russa, sobre a guerra, não é uma aprovação da invasão e da ocupação, nem equivale a admitir que os russos não tinham outra opção senão a guerra.

Tal como a Rússia tinha outras opções, também os EUA e a NATO as tinham antes deste conflito.

Os russos deixaram bem claras as suas linhas vermelhas. Na Geórgia e na Síria, demonstraram que usariam a força para defender essas linhas. Em 2014, a sua tomada imediata da Crimeia e o seu apoio aos separatistas do Donbas mostraram que estavam seriamente empenhados em defender os seus interesses. Não são claras as razões pelas quais os líderes dos Estados Unidos e da NATO não o compreenderam; a incompetência, a arrogância, o cinismo, ou uma mistura traiçoeira dos três, são provavelmente factores que, para isso, contribuíram.

Mais uma vez, mesmo com o fim da Guerra Fria, diplomatas, generais e políticos americanos alertaram para os perigos de expandir a NATO até às fronteiras da Rússia e de interferir ardilosamente na esfera de influência da Rússia. Os ex-funcionários do governo, Robert Gates e William Perry, lançaram estas advertências, tal como o fizeram os reputados diplomatas George Kennan, Jack Matlock e Henry Kissinger. Em 1997, cinquenta peritos de topo, em política externa, dos EUA, escreveram uma carta aberta ao Presidente Bill Clinton, desaconselhando a expansão da NATO, considerando-a “um erro político de proporções históricas“. O Presidente Clinton optou por ignorar estas advertências.

O mais importante, para a nossa compreensão da arrogância e do cálculo maquiavélico na tomada de decisões dos EUA em torno da guerra russo-ucraniana, é a rejeição dos avisos emitidos por Williams Burns, o actual director da Agência Central de Informações (CIA). Num telegrama enviado à Secretária de Estado Condoleezza Rice em 2008, quando era embaixador na Rússia, Burns, sobre a expansão da NATO e a adesão da Ucrânia, escreveu:

As aspirações da NATO em relação à Ucrânia e à Geórgia não só tocam num ponto nevrálgico da Rússia, como também suscitam sérias preocupações quanto às consequências para a estabilidade na região. A Rússia não só se apercebe do cerco e dos esforços para minar a influência da Rússia na região, como também receia consequências imprevisíveis e descontroladas que afectariam seriamente os interesses de segurança russos. Os especialistas dizem-nos que a Rússia está particularmente preocupada com as fortes divisões existentes na Ucrânia sobre a adesão à NATO ― com grande parte

da comunidade étnica russa a opor-se à adesão ― poderem levar a uma grande divisão, envolvendo violência ou, na pior das hipóteses, a uma guerra civil. Nessa eventualidade, a Rússia teria de decidir se iria intervir; uma decisão que a Rússia não quer ter de enfrentar.“.

Porque é que os Estados Unidos persistiram na expansão da NATO apesar de tais avisos? Os lucros com a venda de armas foram um factor importante. Perante a oposição ao alargamento da NATO, um grupo de neo-conservadores e de altos decisores dos fabricantes de armas dos EUA formou o Comité Americano para a expansão da NATO. Entre 1996 e 1998, os principais fabricantes de armas gastaram 51 milhões de dólares (o equivalente a 94 milhões de dólares à data de hoje) em lobbiese outros tantos milhões em contribuições para campanhas eleitorais.

Como resultado desta generosidade, o alargamento da NATO tornou-se um processo acelerado, com os fabricantes de armas americanos a venderem armas no valor de milhares de milhões de dólares aos novos membros da NATO.

Até à data, os EUA enviaram equipamento militar e armas no valor de 30 mil milhões de dólares para a Ucrânia, sendo que a ajuda total à Ucrânia ultrapassa 100 mil milhões de dólares. A guerra, diz-se, é uma trapaça, altamente lucrativa para um punhado de privilegiados.

A expansão da NATO é, em suma, uma característica essencial de uma política externa militarizada    dos EUA, caracterizada por um unilateralismo que inclui mudanças  de regime e guerras  preventivas.  As guerras que fracassaram, mais recentemente no Iraque e no Afeganistão, originaram massacres e mais confrontos, uma dura realidade criada pelos próprios EUA. A guerra russo-ucraniana abriu um novo cenário de confrontação e carnificina. Esta realidade não é exclusivamente obra nossa, mas pode muito bem ser a nossa ruína, a menos que nos dediquemos a forjar um acordo diplomático que ponha termo à matança e desanuvie as tensões.

Façamos da América uma força de paz no mundo.

Eisenhower Rede de Media

SIGNATÁRIOS

Dennis Fritz, director da Eisenhower Media Network; Sargento-Chefe do Comando, Força Aérea dos EUA (aposentado)

Matthew Hoh, Director Associado, Eisenhower Media Network; Ex-oficial do Corpo de Fuzileiros Navais e oficial de Estado e Defesa.

William J. Astore, Tenente-Coronel, Força Aérea dos EUA (aposentado),

Karen Kwiatkowski, Tenente-Coronel, Força Aérea dos EUA (aposentado),

Dennis Laich, Major General, Exército dos EUA (aposentado).

Jack Matlock, Embaixador dos EUA na URSS, 1987-91; autor de Reagan and Gorbachev: How the Cold War Ended.

Todd E. Pierce, Major, Judge Advocate, U.S. Army (aposentado),

Coleen Rowley, Special Agent, FBI (aposentado).

Jeffrey Sachs, Professor Universitário da Columbia University,

Christian Sorensen, Ex-linguista árabe, Força Aérea dos EUA.

Chuck Spinney, Engenheiro/Analista Aposentado, Escritório do Secretário de Defesa

Winslow  Wheeler,  conselheiro  de  segurança  nacional  de  quatro  republicanos   e democratas, Lawrence B. Wilkerson, coronel, Exército dos EUA (aposentado),

Ann Wright, coronel, Exército dos EUA (aposentado) e ex-diplomata dos EUA.

TIMELINE

1990 – U.S. assures Russia that NATO will not expand towards its border “…there would be no extension of…NATO one inch to the east,” says US Secretary of State James Baker.

1996 – U.S. weapons manufacturers form the Committee to Expand NATO, spending over $51 million lobbying Congress.

1997 – 50 foreign policy experts including former senators, retired military officers and diplomats sign an open letter stating NATO expansion to be “a policy error of historic proportions.”

1999 – NATO admits Hungary, Poland and the Czech Republic to NATO. U.S. and NATO bomb Russia’s ally, Serbia.

2001 – U.S. unilaterally withdraws from the Anti-Ballistic Missile Treaty.

2004 – Seven more Eastern European nations join NATO. NATO troops are now directly on Russia’s border.

2004 – Russia’s parliament passed a resolution denouncing NATO’s expansion. Putin responded by saying that Russia would “build our defense and security policy correspondingly.”

2008 – NATO leaders announced plans to bring Ukraine and Georgia, also on Russia’s borders, into NATO.

2009 – U.S. announced plans to put missile systems into Poland and Romania.

2014 – Legally elected Ukrainian president, Viktor Yanukovych, fled violence to Moscow. Russia views ouster as a coup by U.S. and NATO nations.

2016 – U.S. begins troop buildup in Europe.

2019 – U.S. unilaterally withdraws from Intermediate Nuclear Forces Treaty.

2020 – U.S. unilaterally withdraws from Open Skies Treaty.

2021 – Russia submits negotiation proposals while sending more forces to the border with Ukraine. U.S. and NATO officials reject the Russian proposals immediately.

Feb 24, 2022 – Russia invades Ukraine, starting the Russia-Ukraine War.

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