O valor eleitoral da promessa do retorno das empresas industriais e dos empregos perdidos
As eleições americanas estão aí e apesar de todo o seu discurso arruaceiro, anti-democrático, misógino e racista, Trump poderá ganhar
OPINIÃO | Francisco Melro
Conta com uma base social de apoio fiel, nomeadamente entre as comunidades operárias brancas sem formação académica das comunidades que mais sofreram com o encerramento e deslocalização das empresas industriais. Esta base social acorre aos seus eventos e constitui a sua tropa de choque contra os adversários e instituições, incluindo o recurso a vias violentas e insurrecionais.
Trump terá recebido nas eleições presidenciais de 2016 o apoio de cerca de dois terços desse eleitorado operário branco, segundo estudos então realizados, contribuindo decisivamente para a sua eleição.
Um outro estudo realizado em 2016 concluiu que 80% dos apoiantes de Trump acreditavam que a vida nos EUA era então pior que 50 anos antes e 70% acreditavam que ainda iria piorar na geração seguinte. Do lado oposto, 60% dos apoiantes de Hillary diziam que a vida estava melhor e só 30% antecipavam piores dias.
Trump soube detectar a frustração e o desencanto dessas comunidades, centrando nelas uma parte importante da sua campanha, captando o seu apoio, prometendo-lhes o retorno das empresas industriais e dos empregos perdidos. Foi durante o mandato de Trump que as famílias de menores rendimentos, incluindo as mais pobres, recuperarem o seu nível real de rendimento de 2000, cimentando o sua fidelidade e fortalecendo a convicção de que Trump é o mais competente para gerir a economia .
Os censos oficiais comprovam (gráfico anexo) que o rendimento real das famílias de menores rendimentos caiu significativamente a partir de 2000, atingindo com maior gravidade os mais pobres. A média dos rendimentos das famílias pertencentes ao grupo dos 20% mais pobres (quintil mais baixo) registou uma quebra significativa, contínua e prolongada até 2014, só retomando os níveis de 2000 em 2020. Sorte similar, embora um pouco menos agravada, sofreram os grupos do segundo quintil e até o do terceiro quintil de menores rendimentos.
A realidade vida da classe trabalhadora branca de Rust Belt foi muito bem descrita em 2016 por J. D. Vance, actual candidato à vice-presidência por Trump e então ainda apenas um jovem conservador.
O jornal Público publicou a seguir às eleições presidenciais de 2016 nos Estados Unidos um artigo assinado por Isabel Lucas, expondo as principais ideias contidas no livro de J. D. Vance. Pela sua actualidade, e com o devido consentimento, destacamos algumas das principais ideias reproduzidas nesse artigo.
White trash, ou a pobreza enquanto tradição americana
Público, 13 de Novembro de 2016
Isabel Lucas