MICAR no Batalha
Mostra internacional de Cinema Anti-racista no Porto
Apresentação 2024 | Organizado por SOS Racismo
Na 11ª edição da MICAR, o SOS Racismo vem denunciar estas e outras histórias de OCUPAÇÃO como projetos de OPRESSÃO e combatê-las
A OCUPAÇÃO
A 7 de Outubro de 2023 o mundo indigna-se com o massacre de pessoas em Israel. Dias depois, Israel invade a Faixa de Gaza na Palestina. STOP. Esta história não começou assim.
A OCUPAÇÃO em curso na Palestina dura há mais de um século; às forças do Império Otomano, seguiu-se a ocupação britânica e a israelita. A violência foi uma constante e intensificou-se com a criação e desenvolvimento do Estado de Israel: milhares de pessoas foram expulsas das suas casas e forçadas a abandonar as terras onde nasceram e sempre viveram; milhares de pessoas foram assassinadas, agredidas e detidas; as que ficaram, em Israel ou nos territórios ocupados, foram sujeitas a processos diários de humilhação e desumanização. A Palestina é, hoje, um território retalhado, aprisionado, desenhado em múltiplos enclaves, sem viabilidade económica e sem condições, efetivas e suficientes, para abraçar a desejada independência e liberdade. O Estado de Israel tem vindo a desenvolver um projeto de apartheid, estabelecendo regimes jurídicos distintos entre judeus israelitas e as demais minorias religiosas que ainda residem dentro das suas fronteiras, e apoiando a multiplicação de colonatos na Cisjordânia, com o patrocínio, ora mais direto, ora mais velado, dos EUA e da União Europeia. A faixa de Gaza é o exemplo mais doloroso de toda esta opressão: uma pequena linha de terra de cerca de 365 km2, habitada por mais de 2 milhões de pessoas, que vivem numa verdadeira prisão a céu aberto há demasiado tempo.
Desde 7 de outubro de 2023 que o problema se agravou. A brutalidade e a perda de vidas alcançam proporções alarmantes e, no dia em que escrevemos este texto, já eram mais de 35 mil as pessoas que morreram em menos de um ano, um número que continua a aumentar a cada dia.
Deslocados à força, sem terra, sem casa, sem direitos, o povo palestiniano é vítima de políticas genocidas do Estado de Israel. Mulheres, crianças e homens inocentes são vítimas de uma violência sem sentido, enquanto o mundo observa em silêncio ou se mostra incapaz de tomar medidas eficazes para pôr fim a essa carnificina.
Infelizmente, a OCUPAÇÃO como projeto de opressão existiu e existe em muitos outros contextos. É um dos elementos centrais da história do colonialismo e seu legado e um dos principais grilhões à autodeterminação de povos como os do Tibete, Sahara Ocidental, Caxemira, entre outros.
Num contexto mais amplo, a ocupação assume diferentes formas, estendendo-se para além das fronteiras geopolíticas. Nas cidades, deparamo-nos com a limitação da ocupação do espaço público para atividades culturais e ativistas propostas pelas organizações cívicas, e por outro lado, a ocupação do espaço habitacional pelo turismo desenfreado que expulsa as populações locais para as margens urbanas. Num reverso da medalha, políticas de guetização impõem restrições discriminatórias, forçando populações racializadas a ocupar apenas bairros periféricos, muitas vezes privando-as das condições dignas de cidadania.
Por sua vez, para além das cidades, temos também os territórios indígenas frequentemente ocupados por políticas extrativistas que desconsideram direitos ancestrais e sustentáveis.
Na 11ª edição da MICAR, o SOS Racismo vem denunciar estas e outras histórias de OCUPAÇÃO como projetos de OPRESSÃO e combatê-las procurando ampliar a voz, espaço e força das histórias de OCUPAÇÃO como projetos de RESISTÊNCIA e LIBERTAÇÃO. OCUPAÇÃO do ESPAÇO PÚBLICO para reivindicar o pleno e igual direito a EXISTIR, da MIGRAÇÃO à HABITAÇÃO, da EDUCAÇÃO à COMUNICAÇÃO, entre muitos outros. Mais uma vez, o palco será o do cinema, montra de histórias, perspetivas e momentos, Mais uma vez, a visibilização, a reflexão e a discussão serão o seu produto. Para OCUPAR para (RES)EXISTIR e não para OPRIMIR.
DIA 14 às 21h15
AYKA de Sergey Dvortsevoy | Rússia, Alemanha, Polónia, China, França e Cazaquistão | 2018 | Ficção | 1h40 |M/16
Realizado por Sergey Dvortsevoy, o filme acompanha Ayka, uma jovem imigrante oriunda do Quirguistão, que vive e trabalha irregularmente em Moscovo. Numa situação de pobreza extrema, Ayka tenta sobreviver ao frio da cidade, às precárias condições de habitação e aos abusos laborais a que é constantemente sujeita. Para além da luta pela sobrevivência, Ayka é ainda confrontada com as difíceis decisões pessoais que vai tomando ao longo do percurso. O filme retrata temas de exploração, xenofobia, desigualdade, misoginia e maternidade, e constitui um retrato cru e implacável da vida de imigrantes no contexto das sociedades atuais.