22 de Janeiro, 2025
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OPINIÃO | 4 de junho 2022

por Nelson Anjos

O Fascismo Hoje

       O fascismo existe hoje? Para Paul Mason, sim. Como ameaça: Trump, o QAnon, o Capitólio, Bolsonaro, sem esquecer o que o autor designa por “mito central do fascismo moderno”: a Grande Teoria da Substituição.

“(…) o feminismo faz baixar a taxa de natalidade, possibilitando que imigrantes “colonizem” e destruam a “raça” branca; os colaboracionistas nesta ocupação são os políticos que defendem os direitos das mulheres e dos negros, bem como os meios de comunicação liberais que os apoiam.” (p. 327)

       Mas o fascismo está ainda presente

“(…) em ações de milícias nas cidades norte-americanas; infiltra-se nas manifestações contra o confinamento organizadas por teorizadores da conspiração; constitui células nas forças armadas e na polícia; pinta suásticas em túmulos judeus; e em seguida aflui às urnas para votar em pessoas que prometem “tornar o país novamente grande” (…)” (p.315)

“Em cada grande crise do capitalismo, há um terceiro desfecho potencial que não é o socialismo nem a sobrevivência do capitalismo: é o desabar da legitimidade da elite e da sua ideologia tradicional, e a rápida conversão das pessoas ao irracionalismo, à autodestruição e ao ódio. O tempo histórico não pode ser revertido, mas o progresso sim.” (p. 266)

       À queda das grandes civilizações, quando o seu potencial de desenvolvimento se esgotou, sucedeu a barbárie. Novos despertares, apenas séculos depois. Mason refere, a título de exemplo, Alexander Dugin, – pensador de extrema-direita considerado um dos principais mentores de Putin:

“Dugin acredita que, se um país como a Rússia pode reverter a sequência histórica prevista, do comunismo novamente para o capitalismo, então, pode revertê-la ainda mais, para o feudalismo ou para uma sociedade esclavagista, ou até para uma existência de caçadores-recoletores.” (p. 61)

       Mas, populismo ou propaganda enganosa à parte, quem esperaria das primeiras forças fascistas de Mussolini (Fasci Italiani di Combattimenti) esta tão grande manifestação de “espírito progressista”?

“(…) O primeiro manifesto que divulgaram, em junho de 1919, defendia o dia de oito horas, um salário mínimo e um sistema fiscal progressivo para “expropriar parcialmente” os donos das fábricas. “ (p. 146)

       Finalmente, e em especial para reflexão interna:

“Quando, a 31 de julho de 1932, foram divulgados os resultados das eleições, ficou à vista o custo de dois anos de ilusão e divisão: 13,8 milhões de eleitores tinham votado nos nazis. Hitler açambarcara ainda mais a base dos partidos tradicionais e – para consternação deles – socialistas e comunistas viram a sua periferia começar a saltar para o lado dos nazis.” (p. 230)

       Por cá, temos também o Chega – o atual ou qualquer outro e os respetivos Ventura(s). E, principalmente, o seu potencial para crescer, por enquanto resguardado à sombra das ruínas do liberalismo, nos seus mais diversos matizes: de uma “esquerda” que esqueceu há muito qualquer ideia de revolução (?), passando por uma “social burocracia” de guichet, ao neoliberalismo falido. A este fedor de cadáver junta-se também um “cristianismo de sacristia”, beato, pedófilo e cristianissimamente analfabeto. (A minha vénia ás exceções da casa, que continuo a ler sempre com um sentimento de apreço e gratidão. Sem excluir outros poucos, lembro Anselmo Borges e Frei Bento Domingues). Certamente que, como já alguém disse, Cristo se vivesse hoje seria tudo menos cristão. Da mesma forma que, acrescento eu, Marx dispensaria cartão de “sócio” de qualquer das agremiações que o têm como patrono.

       A boa nova (evangelho), o risco e a aventura que sempre estiveram presentes em toda e qualquer tentativa de busca da liberdade e desenvolvimento do homem – de Cristo a Marx, passando pelas Luzes –  encontram-se hoje em pequenos grupos e organizações marginais à tutela dos partidos tradicionais: o feminismo, os grupos LGBTQI+, as organizações de luta pela preservação do clima, os grupos de luta anti-racista, os grupos de apoio à integração dos migrantes, entre outros. São estes grupos que, para além dos seus objetivos específicos, poderão também participar no desenvolvimento de uma cultura anti-fascista – como defende Paul Mason –, alargada a um espaço social mais amplo do que o de cada um, e que simultaneamente constitua uma base para dar sustentação aos seus objetivos próprios.

       Como travar o fascismo? – Começa aqui, mas fica para a próxima.

nelson anjos

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