24 de Janeiro, 2025

Thomas Piketty: “A luta pela igualdade ainda pode ser vencida”

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ALTERNATIVES ECONOMIQUES | Edição e tradução Carlos Ribeiro | Entrevista AE

Reproduzimos parcialmente uma entrevista que Thomas Piketty concedeu à publicação Alternatives Economiques que desafia para uma reflexão sobre o tema crucial da igualdade nas sociedades modernas.

O reputado economista publicou recentemente um livro cujo tema é a história da Igualdade no qual aborda questões históricas mas também económicas e políticas como aliás é a marca da sua produção literária. Não deixa de ser significativo o fato de Piketty referir que a luta pela igualdade foi vencida em diversas oportunidades por via das lutas coletivas. Esta leitura é representativa de uma visão do economista sobre o processo histórico e social dos últimos dois séculos.

Por fim as interrogações que acompanham a sua reflexão são extremamente desafiadoras. Destas destacamos: Como dividir o poder nas empresas? Como lutar contra a discriminação? Como construir uma sociedade justa e participativa, baseada em uma organização descentralizada? Como financiar a vida política e os media?

Enfim, um debate, com estes e outros temas que vale a pena promover e dinamizar porque as soluções que estão á mão de semear pelo menos aparentam estar desfasadas no tempo ou a precisarem de ser refrescadas,

Estudo das desigualdades

Depois de O Capital no Século 21 (Seuil, 2013) e Capital et ideologia (Seuil, 2019), dois livros estimulantes de 976 e 1.197 páginas respectivamente, Thomas Piketty retorna aos seus assuntos favoritos no livro Uma Breve História da Igualdade (Le threshold, 2021) em apenas… 350 páginas! Tendo por base um estudo detalhado de dados históricos, identifica os períodos nos quais ao longo do século XX, podem ser verificados progressos na igualdade e tira lições sobre o que poderíamos fazer hoje (ou deixar de fazer) para ganhar novas lutas nesta área. Tudo isso constitui um forte apelo para dar continuidade à ação coletiva para “construir uma sociedade justa e participativa”.

Do estudo das desigualdades em seus dois livros anteriores, “O Capital no Século 21” (Le Seuil, 2013) e “Capital e ideologia” (Le Seuil, 2019), você passou para o da igualdade. Porquê essa inversão de perspectiva?

À luz dos dados que recolhi, o movimento que me surgiu como o mais profundo foi uma marcha de longo curso em direção à igualdade em todas as suas dimensões, seja a do rendimento, do património, dos direitos sociais e políticos, de género ou pertença étnica.

Iniciado há dois séculos, muito se deve às lutas e mobilizações políticas ocorridas em momentos específicos da história. A marcha para a igualdade começou notavelmente com a Revolução Francesa (1789) e a revolta dos escravos em São Domingos (1791), que marcaram respectivamente o início do fim das sociedades privilegiadas e das sociedades escravistas coloniais. Prosseguiu no século XIX com a abolição da escravatura, com o início da construção de um estatuto salarial e do direito do trabalho e, no século XX, com o advento da segurança social, dos impostos progressivos, do sufrágio feminino e das independências.

As lutas coletivas e a igualdade

A luta pela igualdade foi vencida em diversas oportunidades por via das lutas coletivas. Então ela pode ser vencida de novo. Insistir na marcha para a igualdade não é, no entanto, um apelo balofo, pelo contrário. Em vez disso, é um apelo para continuar a lutar numa base histórica específica.

As relações de força políticas desempenham um papel central neste processo e mas temos que perceber que por si só não chegam. A marcha para a igualdade também e acima de tudo depende da saída institucional a que essas lutas pelo poder levarão. Porque uma coisa é derrubar as instituições existentes, mas depois temos que pensar em novas regras fiscais, educacionais, sociais ou eleitorais que sejam genuinamente emancipadoras e igualitárias.

Não há consenso espontâneo sobre o que deveria ser uma sociedade justa. Como dividir o poder nas empresas? Como lutar contra a discriminação? Como construir uma sociedade justa e participativa, baseada em uma organização descentralizada? Como financiar a vida política e os media? São perguntas para as quais devemos encontrar respostas coletivamente, com base nas lições da história. Estou tentando contribuir com isso neste novo livro.

Thomas Piketty

Thomas Piketty, nascido em Clichy (França) em 1971, é professor catedrático na École des Hautes Études en Sciences Sociales e professor da École d’Économie de Paris.
De Thomas Piketty, a Temas e Debates publicou O Capital no Século XXI (2014), traduzido em 40 línguas e que vendeu mais de 2,5 milhões de exemplares em todo o mundo, Por Um Tratado de Democratização da Europa (em coautoria, 2017) e Capital e Ideologia (2019).

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