Os companheiros da rádio
LIVROS & MÚSICA | Apresentação do livro Exílios Sem Fronteiras – Exílios.3
Ontem, dia 10 de março de 2022, fui entrevistado na Rádio Movimento. O ponto de partida foi a recente publicação do livro EXÍLIOS SEM FRONTEIRAS. Percursos e Memórias de Exilados Militantes. Vol. 3, no qual consta um depoimento meu, entre outros vinte de exilados políticos portugueses dos anos 1960 e 1970.
por Carlos Campos Ventura
O anfitrião do programa foi Joffre Justino, preso político em 1972-3. Foi uma conversa de dois companheiros que se conhecem bem, apesar de Joffre desconhecer muitas das histórias que eu fui desfiando.
Democracias toleravam as duas ditaduras ibéricas
Foram memórias de há meio século, de quando Portugal vivia com exilados e presos políticos, sem liberdade de imprensa ou de associação, sem eleições livres e com uma guerra sem solução militar e que levaria ao fim de uma ditadura anacrónica, vinda dos anos vinte da ascensão dos fascismos europeus, sobrevivente isolada, de braço dado com o franquismo, rodeada por democracias que toleravam as duas ditaduras ibéricas como famílias toleram à distância parentes que as impacientam e envergonham mas de que não conseguem desembaraçar-se.
Histórias de aventuras reais escritas por sobreviventes
Foi uma conversa solta sobre um tempo que felizmente já não existe. Como dizemos a certa altura, os depoimentos deste volume e dos dois anteriores são histórias vividas com muito sofrimento dentro, com perigos e esperanças, são histórias de aventuras reais escritas por sobreviventes. Cada uma destas histórias dava um filme ou um romance. Todas juntas, documentam uma época da História de Portugal, a História dos anos do fim da ditadura que governou Portugal durante quarenta e oito anos. As nossas histórias foram, conforme os momentos, a preto e branco ou a cores; foram muitas vezes sem som, com lágrimas e choros mudos, com raiva e desesperos, às vezes de desesperança apesar da luta.
Nesse dia só o presente interessava
Mas as nossas histórias e a História de Portugal tiveram um final feliz: a madrugada por que nós e Sophia esperávamos, o dia inicial inteiro e limpo onde emergimos da noite e do silêncio, o dia 25 de Abril. Nesse dia exultámos. Nesse dia, o futuro não existiu e só o presente interessava, porque o passado acabara.
Carlos Campos Ventura
Pode rever e ouvir toda a entrevista em Rádio Movimento.