22 de Janeiro, 2025
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Nas pegadas de África, Portugal e Galiza

Semeio palavras na música. Não tenho pretensões de dar a estas minhas deambulações pela música qualquer outro rótulo. Faço, apenas, canções.

Entrevista a Maria Aurora e Nuno Gomes dos Santos, Jornal “Diário de Lisboa”, 24 /06/1972, foto cedida por Mário Correia

José Afonso

Pesquisar, estudar, organizar informação, escrever, editar, publicar e divulgar matéria verdadeiramente relevante, relacionada com memórias sociais e políticas, é algo que vale a pena. No caso presente a relevância prende-se com José Afonso e o seu percurso político e criativo. Esta iniciativa do Paulo Esperança vem dar forma às representações sobre as fontes de criação que os admiradores do cantor-andarilho construíram informalmente, sem terem descido à terra, ou seja ao contexto cultural, social e político que lhes deu forma. Pelos vistos o autor não quer prender ninguém a uma visão formatada de um percurso marcado pela errância e a liberdade de interpretar cada contexto de forma peculiar. A prova está no próprio triângulo anunciado que afinal tem quatro vértices. As Astúrias empurraram Paulo Esperança para uma nova geometria. E desta forma a curiosidade em torno do “mistério do 4º vértice” aumenta o interesse pela leitura de um livro que brevemente será apresentado ao público com a colaboração dos Sons da Terra e de Mário Correia. CR/ Sem Fronteiras

por Paulo Esperança

Três vectores fundamentais na vida e obra de José Afonso

Ao longo da minha actividade na ASSOCIAÇÃO JOSÉ AFONSO |AJA| fui achando que houve três vectores fundamentais na vida e obra de José Afonso que influenciaram o seu processo criativo e a compreensão do mundo que o rodeava. As pegadas de África, Portugal e Galiza, em cada período da sua vida, em minha opinião, imprimiram de uma forma marcante toda essa compreensão do mundo e grande parte desse  seu processo criativo.

A pandemia ajudou

Durante os últimos quinze anos tenho animado bastantes tertúlias em Núcleos da AJA, bares, associações de moradores e colectividades populares, cooperativas, autarquias e organismos sócio-profissionais, e claro em diversas localidades da Galiza. O tema tem sido recorrente: JOSÉ AFONSO – O TRIÂNGULO MÁGICO NA SUA VIDA E OBRA:  ÁFRICA, PORTUGAL, GALIZA.

A pandemia e os confinamentos ajudaram a que tivesse tempo e muita vontade de ir desenvolvendo o rascunho que fui apresentando no âmbito dessas tertúlias.

Aqui está!

Com este trabalho não pretendo criar uma tese nem descobrir nada de novo. Apenas transmitir o que tenho estudado e pressentido dessa envolvência a que chamo Triângulo Mágico.

Neste trabalho procuro tratar com alguma minúcia e de forma datada, nomeadamente com bastantes recortes de imprensa, as passagens de José Afonso  pela Galiza. Simplesmente porque será um aspecto menos conhecido e pela minha ligação de há muitos anos com aquela pátria espiritual, e também, porque sendo a informação bastante dispersa, a sua sistematização poderá servir de lembrança para o futuro.

Astúrias

Da aprendizagem que fui fazendo das idas de José Afonso às Astúrias – com os contributos de Benedicto Garcia Villar e Mário Correia – entendi por bem acrescentar um pequeno erro geométrico, ou seja,  incluir um quarto vértice.

Sem pretensões, mas com muito amor e carinho é isto que aqui vos deixo.

Se a canção de protesto pretende directa e concretamente atingir uma dada estrutura político-social num dado momento histórico com referência a factos, indivíduos e lugares, então eu não sou um cantor de protesto. De resto, as minhas canções são predominantemente lírico. Mas elas pretendem opor-se (quer as líricas quer as intencionais) a padrões de vida, gostos e predilecções vigentes entre nós. São a minha contrapartida, a minha revanche. Chamemos-lhes, então, canções de réplica. Reproduzem um meio, mas colaboram (ou pretendem colaborar)na sua reconstituição. Se, eu próprio as não considerasse uma forma de protesto, não me sentiria justificado como cantor, pela razão de não me sentir justificado, como homem.

José Afonso, entrevista a José Armando Carvalho, “Comércio do Funchal”, 01/06/1969

O Zeca Afonso nom é umha peça de museu, o Zeca é umha introduçom à poesia, à música, aos valores de solidariedade, amizade, justiça e rebeldia e também ao divertimento. O Zeca nom é para estar numha prateleira ou escuitar só cada 25 de abril,  o Zeca é companheiro e recurso para ter presente, à mao.

“Zeca para Crianças”, Bruno Vilela, 2018. edição da Escola de Ensino Galego Semente

Capa do livro “José Afonso – O triângulo mágico na sua vida e obra”

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