Valeu!
Colóquio Internacional sobre a Revolução dos Cravos teve lugar na Universidade da Sorbonne em Paris
Colaboração Amália Resende | Editado CVR-NSF
Foi Muito Mais Que Um Colóquio!
As palavras de uma das organizadoras do Colóquio Internacional sobre ” A Revolução dos Cravos: 50 anos depois, olhares centrados e descentrados” que teve lugar na Universidade de Letras da Sorbonne em Paris, nos passados dias 2 e 3 de Maio, com apoio do Instituto Camões, sintetiza bem o espírito de abertura, empatia e outras sinergias culturais, políticas e afectivas que se viveram naqueles dias.
Um programa rico, cobrindo várias áreas, da História às Ciências Políticas passando pela Sociologia. Cruzaram- se com a Literatura e as Narrativas de Exílios e lançaram perspectivas diferentes sobre uma das revoluções mais belas do século XX, no dizer de um historiador português. Olhares centrados, olhares descentrados.
Oradores do Colóquio Internacional que teve lugar na Sorbonne – Paris
Temas em debate
A Metrópole e as Colónias. O Movimento das Forças Armadas e os Movimentos de Libertação Nacional. O golpe de Estado militar e a Revolução social. As repercussões da Revolução dos Cravos nos vários países da Europa, da África e das Américas.
Competentes especialistas destas áreas, na maioria académicos de alto gabarito a nível internacional e provenientes de diferentes universidades ( Barcelona, São Paulo, Rio de Janeiro e diversas cidades francesas), mas também realizadores de cinema, debateram durante dois intensos dias estas questões.
Painéis
Para referir só alguns exemplos e a estrearem- se no primeiro dia.
Primeiro painel:
– José Luís Cabaço ( antigo ministro de Samora Machel, actualmente professor universitário no Brasil e escritor) proferiu uma palestra sobre o tema: “A Revolução dos Cravos: implosão da ditadura e estilhaços do colonialismo”.
– Isabel do Carmo – “No coração da Revolução”- apontando dados e fazendo um historial das lutas em Portugal desde os tempos do Liberalismo até aos nossos dias.
No 2º painel:
– Anne Marie Pascal – historiadora -Universidade Lyon2 : ” o 25 de Abril e a canção de protesto”
– Vítor Pereira – historiador – Universidade de Pau: ” As recepções da Revolução dos Cravos em França”
– Yves Leonard – historiador – Centre d’ Histoire de Science PO ( CHSP): ” Comemorar o 25 de Abril”
E por aí adiante.
A língua utilizada maioritariamente no colóquio foi o francês, dado haver além dos alunos do departamento de estudos ibéricos , muitos outros estudantes de outros departamentos, a quem a Revolução dos Cravos desperta curiosidade e interesse.
Debates
Seguiram- se debates animados após cada painel e no final da manhã, os convidados juntaram- se num almoço na sala dos professores da Sorbonne. Ao final da tarde e depois de mais uma sessão de trabalhos, caminhámos pelo Boulevard St Michel até umas instalações junto ao Jardim do Luxemburgo, onde assistimos ao icónico filme – Deus, Pátria , Autoridade, com a presença do realizador Rui Simões. Muito pedagógico, o documentário suscitou várias questões junto da assistência e evoluiu para um diálogo muito pertinente.
Exílios em França
No dia seguinte, logo pela manhã, o 1º painel abria sob o título- “O 25 de Abril e os Exílios em França”. Seguiram- se as intervenções dos 3 convidados:
– Vasco Martins e Manuel Tavares ( Memória Viva): Testemunhos de exílios em França durante o Estado Novo: a recusa da guerra colonial.
– Eu própria, com a palestra “A Revolução dos Cravos a partir de Paris: exílio e aprendizagens”- (testemunho pessoal pontuado com algumas reflexões e dados)
Manuel Tavares, optou na sua intervenção por ser entrevistado pela escritora Marie Christine Volovitch Tavares, também autora do livro ” Portugais à Champigny, le temps des baraques”, que lhe foi colocando questões. Curiosamente no final, tive oportunidade de falar com ela por me encontrar exactamente a ler o livro na altura. Referi também a nossa presença enquanto colectivo na apresentação do livro ” Exílios no feminino”, edição em língua francesa em Champigny no último mês de Abril.
Finalmente Vasco Martins deu o seu testemunho, em voz pausada e convincente, ficando – me na memória a alcunha que lhe tinha sido dada em França, logo na sua chegada: le Silencieux.Tudo a ver com ele.
Participação do auditório
Após estas intervenções, os alunos e alguns participantes convidados colocaram uma série de questões interessantes, apontando sobretudo para detalhes, dizendo respeito a opções pessoais, o que leva a crer que sobretudo para os jovens, os pormenores concretos da narrativa, as circunstâncias em que as emoções se manifestam, são de suma importância. Tornam a experiência substantiva.
Além destes aspectos mais particulares, o tom das sessões durante todo o Colóquio foi de uma troca plural e múltipla, a todos enriquecendo com os vários olhares que a Revolução dos Cravos, 50 anos depois ainda permite. E com as dinâmicas e desafios com que as questões da actualidade, como a guerra, a emigração, o colonialismo nas suas diferentes formas e as novas forças da direita podem e devem ser encaradas.
Numa palavra: Valeu!
Amélia Resende | Paris- Sorbonne, 13 de Maio de 2024