6 de Dezembro, 2024

Foi pequena a Biblioteca de Alcântara para acolher tantos abraços e emoções

O Exílios no Feminino foi apresentado em festa pelas coautoras

Edgar Feldman apresenta o Filme Documental “Exílios no Feminino”

A abrir esteve o coro da Junta de Freguesia de Alcântara que encantou. Uma maestrina ucraniana, uma composição quase exclusivamente feminina, uma indumentária na qual prevalecia o azul e um repertório diversificado e harmonioso.

E nada mais fácil que realizar uma transição entre a música e a poesia, com novos protagonistas a virem reforçar o elenco das declamadoras de poemas, também membros do agrupamento coral, no caso os representantes da Associação Cultural e Recreativa da Comeira da Marinha Grande. Estávamos entregues à cultura popular graças à cooperação da Junta de Freguesia de Alcântara e da associação marinhense.

O belo espaço da Biblioteca

Na passagem entre os espaços desta magnífica Biblioteca de Alcântara, que importa relembrar integra a rede de Bibliotecas de Lisboa, foi possível contactar com o livro recém-chegado e até adquiri-lo para uma leitura tranquila nos próximos dias.

Poemas de autoras, de Ary dos Santos e de outros poetas reputados pela seu grito em favor das mulheres tonificaram a sessão preliminar à apresentação do livro que acabou por ter início com um pequeno atraso por razões técnicas. Ainda antes, os produtores e realizadores do Filme Documental “Exílios no Feminino”, que passará na RTP2, Edgar Feldman. Eduarda Manso e João Paulo Guerra revelaram o genérico dos dois episódios que já se encontram prontos para serem transmitidos e informaram genericamente sobre os conteúdos da obra que produziram coletivamente. Os restantes protagonistas da produção do livro foram apresentados de forma sumária, no caso a fotógrafa Susana Chicó, a autora da capa e imagem do livro, a artista, designer e arquiteta Cristina Rodrigues e as Edições Afrontamento que se fizeram representar por Carlos Veiga Ferreira.

A apresentação do livro, já no quadro da Tertúlia Cidadãs, Cidadãos e Cidadanias, superiormente dinamizada e mediada por Carlos Ventura, teve então a sua fase decisiva e foi possível acompanhar, do lado do público, as diversas histórias e análises que estiveram presentes, algumas delas com uma grande vivacidade e até paixão criando por vezes um ambiente particularmente emotivo e cúmplice com as coautoras.

Fernanda Marques, que coordenou todo o projeto de organização dos encontros e das conversas que as protagonistas centrais do livro foram tendo ao longo de 2 anos, adiantou a sua visão do resultado final nos seguintes termos:

“1 – A ideia de uma publicação dedicada às mulheres exiladas esteve presente nos objetivos da AEP61-74 praticamente desde a sua fundação em 2015. Não posso por isso deixar de fazer uma referência expressa a 3 mulheres que não estão hoje aqui connosco: Ana Rosenheim, Conceição Cardeira e Teresa Perdigão.  Beatriz Abrantes está hoje aqui presente e é coautora do Exílios no Feminino.

2 – Por razões circunstanciais este projeto ficou adormecido até 2020 ano em que o fomos “buscar à gaveta” definindo-lhe os contornos e uma metodologia de trabalho que nos permitisse desocultar o olhar feminino sobre o exílio.

3 – Não estamos, pois, perante uma coletânea de histórias individuais.

O nosso objetivo foi ir mais longe e captar a subtileza e as tonalidades do sentir feminino nesse período tão especial das nossas vidas que foi o de viver longe do nosso chão e dos nossos afetos.

Aquilo que vos propomos é um mosaico de vivências, experiências de vida e emoções, construído coletivamente durante 2 anos em mais de 50 horas de gravações, onde as 7 personagens se cruzam na sua luta contra a ditadura, nos seus medos pelo desconhecido, na sua luta contra o machismo e pela afirmação do feminino. Resumindo na procura de uma sociedade livre, igualitária e democrática.

4 – Não vão encontrar heroínas neste livro. Vão encontrar 7 jovens mulheres comuns que ilustram a diversidade de circunstâncias, de motivações e de percursos de exílio de um número até hoje não determinado de jovens portuguesas das décadas de 60 e 70 que não sendo coautoras de livro estão assim aqui necessariamente presentes.

5 – Vão encontrar neste livro a afirmação clara de que não podemos falar de exílio, mas sim de exílios tal é a diversidade de motivações e de circunstâncias que levaram homens e mulheres a rejeitar a ditadura portuguesa e a procurar noutros países um refúgio seguro para continuarem a lutar contra o Estado Novo e a Guerra Colonial.

6 – Vão encontrar neste livro sete estórias que ilustram a importância do exílio no desenvolvimento da consciência política, da militância e da preparação destas jovens mulheres para a participação na construção do Portugal de Abril.

7 – Vão encontrar neste livro o trabalho diário, persistente e continuado que as mulheres exiladas desenvolveram junto das comunidades imigrantes na consciencialização política destas comunidades através da alfabetização, das atividades culturais, na denúncia da violência doméstica, no planeamento familiar, na igualdade de direitos entre homens e mulheres no seio da família, no apoio a desertores e refratários à Guerra Colonial, etc., etc.

8 – Vão encontrar neste livro as portas de liberdade que se abriram com o 25 de Abril, o regresso e o contributo para a construção de um Portugal democrático.

Boa leitura”.

Depois desta intervenção que resumiu a perspetiva de quem coordenou todo um processo e que alertou para o essencial do livro seguiram-se vários testemunhos das restantes sete coautoras Maria Emília Brederode Santos, Beatriz Abrantes, Helena Cabeçadas, Amélia Resende, Helena Rato e Irene Pimentel.

Para ilustrar esta abordagens mais individualizadas iremos recorrer às ilustrações do “fotógrafo solidário” o Carlos Martins Pereira que captou imensas situações dignas de serem publicadas na próxima peça sobre o evento.

Livro “Exílios no Feminino” à venda na Biblioteca e agora também através de pedido por e-mail para geral@aep61-74.org

Editor

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