6 de Dezembro, 2024

José Afonso em Setúbal – Como se fora seu filho

Albérico Afonso Costa – Resumo | Congresso Internacional José Afonso

José Afonso viveu os últimos 20 anos da sua vida em Setúbal. Nesta comunicação propomo-nos analisar a intensa interação entre o cidadão José Afonso e a cidade rebelde que o acolheu durante estes anos.

Círculo Cultural de Setúbal no O Setubalense

Iremos tentar surpreender a sua presença, em Setúbal, numa dupla perspetiva: Na dimensão da sua intervenção como ator político e na profunda ligação que estabelece com a cidade neste período da sua vida.

Enquanto ator político encontramo-lo na azáfama quotidiana da luta contra a ditadura, na influência que tem nos circuitos oposicionistas, no dar o corpo às balas a nada se escusando, e, sobretudo, na casa que ajudou a criar e de que foi sócio fundador – O Círculo Cultural de Setúbal. Este espaço antifascista, que olha a cultura de frente, sem tibiezas, numa dinâmica de radicalização que se pressente à medida que o tempo vai passando, este espaço escolar, alternativo, espaço de palestra, de política, de formação de jovens quadros operários não teria sido o mesmo sem esta figura fundadora.

O Círculo constitui-se desde o seu início como uma segunda casa quer para José Afonso, quer para uma jovem colmeia, operária e estudantil, que o frequentava e nele operava, ia operando, as mudanças possíveis e impossíveis. Das janelas do Círculo respirava-se a cidade.

A cidade da situação que olhava com desprezo o professor demitido pelo regime e a outra cidade a que começou a pertencer, e que o acolheu com o calor próprio de uma urbe operária e industrial, inconformada e em mutação violenta, que encontra neste homem um arauto de uma mudança inevitável e profundamente desejada. E se é verdade que Setúbal se apropriou de José Afonso como se fora seu filho, também é verdade que José Afonso se referenciará a esta cidade como território seu, espaço que influencia e pelo qual é profundamente influenciado.

A Setúbal destes anos não teria sido a mesma sem o autor de Grândola Vila Morena; mas também este poeta, cantor, compositor teria sido outro, sem este chão que o conheceu no último vinténio da sua vida.


Nota Biográfica
Professor Coordenador do Ensino Politécnico. Investigador integrado do Instituto de História Contemporânea da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Doutorado em História Contemporânea, na especialidade de História Cultural e das Mentalidades, pela F. C. S. H. da Universidade Nova de Lisboa, tem colaborado e coordenado projectos na área da História, Formação de professores e Formação Profissional. Tem vários trabalhos publicados nestas áreas de investigação. Publicou, entre outros, os livros A FPA, A Fábrica Leccionada–Aventuras dos tecnocatólicos no Ministério das Corporações, 2008; Roteiro Republicano de Setúbal (coord), 2010, (esgotado); História e Cronologia de Setúbal (1248-1926), 2011(esgotado); Salazar e a Escola Técnica, 2011 e Setúbal sob a Ditadura Militar (1926-1933), 2014 (esgotado); Setúbal Cidade Vermelha–Sem perguntar ao Estado qual o caminho a tomar (1974-75), 2017; Lugares de José Afonso na Geografia de Setúbal, 2019; Setúbal no Centro do Mundo, 165 anos do jornal O Setubalense (coord). 2020, Setúbal Sob o Estado Novo – A Resistência a Salazar, vol 1. 1933-1949, 2021 e Setúbal Sob o Estado Novo – A Resistência a Salazar e a Caetano, vol 2. 1950-1974, 2023; O Círculo Cultural de Setúbal-De ninho oposicionista a quartel-general da Revolução. Um redondo vocábulo pela mão de José Afonso, (2024). Em 2019 a Câmara Municipal de Setúbal atribui-lhe a medalha de honra da cidade na classe de atividades culturais.

FONTE – Página da AJA dedicada ao Congresso

Editor

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