Corto maltese da Revolução, Dinis de Almeida
A morte de Dinis de Almeida surpreendeu toda a gente. Foi vítima de COVD-19. Sinalizamos pela pena de terceiros o seu contributo como capitão de Abril e como militar profundamente empenhado nos movimentos sociais e políticos pós-25 de abril.
Vasco Lourenço
É com profundo pesar que comunicamos o falecimento do Capitão de Abril, Coronel Eduardo Dinis Leitão dos Santos Almeida. O vírus que ataca o mundo há quase dois anos fez mais uma vítima. Desta vez, o Dinis de Almeida, um dos Capitães de Abril mais importantes da Conspiração que nos levaria à acção libertadora, de que continuamos a orgulhar-nos. Na Operação Viragem histórica, Dinis de Almeida comandaria uma força do Regimento de Artilharia Pesada n.º 3 da Figueira da Foz, que integrou o Agrupamento Norte, juntamente com uma força da outra Unidade da Figueira da Foz, o Centro de Instrução de Condutores Auto n.º 2, e também com uma força do Regimento de Infantaria n.º 14 de Viseu e outra do Regimento de Infantaria n.º10 de Aveiro – a tomada e controlo do Forte de Peniche, constituiria a sua principal acção, antes de diversas intervenções em Lisboa. Sempre entusiástico militante do seu 25 de Abril, numa postura que o colocou em posições pouco consensuais, Dinis de Almeida seria uma das figuras principais no processo revolucionário, sendo de realçar a sua permanente fidelidade aos ideais que o fizeram avançar para a epopeia colectiva que constitui uma das mais belas páginas da História de Portugal. Com as nossas condolências à sua companheira e aos seus dois filhos, até sempre, caro Dinis de Almeida. Um forte abraço de Abril
Vasco Lourenço
Mário Tomé
Ao Dinis de Almeida se deve uma intervenção sempre atempada na dissuasão de actos contra-revolucionários ou de actos ditos revolucionários na região e na cidade de Lisboa.Dinis de Almeida pertenceu desde os primeiros instantes ao núcleo duro do Movimento dos Capitães, integrou os principais centros de decisão do Movimento dos Capitães (depois MFA numa decisão que já prognosticava cedência à hierarquia derrotada) quer na vertente de mobilização, quer nas de planeamento e de acção.Com Otelo e Vasco Gonçalves foi alvo das mais imbecis e brutais calúnias por parte dos que, civis e militares, mesmo que rendidos a uma revolução que lhes trocou as voltas, tiveram sempre no pensamento e no coração um 25 de Novembro que haveria de chegar.O seu carácter e verticalidade ética assim como o seu desassombro na defesa do que considerava justo e de acordo com os objectivos que desencadearam a Revolução de Abril – o fim da guerra colonial, a defesa da liberdade e responder aos superiores interesses populares – marcaram todo seu empenhamento radical no Movimento e na Revolução.Tive, ainda jovem capitão empenhado na guerra colonial, a grande honra de comandar o Alferes Dinis de Almeida na minha Companhia de Cavalaria 1601, no Niassa, onde foi colocado para se iniciar na condução prática da guerra de contra-guerrilha. Um grandes profissional e um grande revolucionário. Como eu, aprendeu o suficiente para acabar com ela.Dinis de Almeida deixou-nos o mais importante acervo documental relativo à conspiração, à execução e desenvolvimento da revolução de Abril: «Ascensão, Apogeu e Queda do MFA», 2 volumes, e «Origens e Evolução do Movimento dos Capitães» ambas as obras das Edições Sociais.Tchau camarada. Muito te ficámos a dever
Juramento do Ralis
Lembremos: O JURAMENTO DO RALIS (#REGIMENTO DE ARTILHARIA DE LISBOA, COMANDADO POR DINIS DE ALMEIDA)”Nós, soldados, juramos ser fiéis à Pátria e lutar pela sua liberdade e independência. Juramos estar sempre, sempre ao lado do povo, ao serviço da classe operária, dos camponeses e do povo trabalhador. Juramos lutar com todas as nossas capacidades, com voluntária aceitação da disciplina revolucionária, contra a Fascismo, contra o Imperialismo, pela Democracia e Poder para o Povo, pela vitória da Revolução Socialista!”Este juramento, que ficou na história do PREC, foi pronunciado em 21 de Novembro de 1975, por 170 recrutas do RALIS. O texto, dito por um coro arrepiante de vozes poderosas, ficou como um eco da utopia perdida, quatro dias depois. Viria a ser anulado por despacho, a 8 de Dezembro, com o argumento de ser lesivo “da disciplina militar ”. »