Não apaguem a memória de Camilo Mortágua
NAM emitiu comunicado sobre o falecimento do combatente pela liberdade
Faleceu no passado dia 1 de novembro deste ano de 2024 o resistente anti-fascista e lutador pela Democracia e pela Liberdade Camilo Mortágua
Camilo Mortágua – Fonte © Enric Vives-Rubio
Nesta hora de mágoa e de luto, a Associação “Movimento Cívico Não Apaguem a Memória (NAM)” quer, em primeiro lugar, enviar as mais sentidas e solidárias condolências à Família enlutada – a viúva Maria Inês Rodrigues, as filhas Fátima, Joana e Mariana Mortágua, e os netos e bisnetos (infelizmente, o que é algo que nenhum progenitor deveria alguma vez ter de suportar, o filho Jorge faleceu antes do pai).
Mas este é – tem de ser – também um momento de evocação do passado de resistência e de luta desse homem de coragem que fisicamente deixou de estar entre nós. Um homem que nunca desistiu de defender os seus ideais de Igualdade, Bem Estar e Progresso Social para todos, quer nos tempos do Estado Novo, quando não era nem fácil nem seguro lutar pela Liberdade e pela Democracia, quer no período após o 25 de Abril de 1974.
São bem conhecidas e agora relembradas, as suas participações em bem sucedidos actos de grande espectacularidade contra o regime salazarista, como sejam a tomada de assalto, na madrugada do dia 22 de janeiro de 1961, do paquete Santa Maria, que transportava 600 turistas em viagem para Miami e mais de 300 tripulantes, o desvio à mão armada um avião da TAP, no voo Casablanca–Lisboa, no 10 de novembro de 1961, com o objetivo de sobrevoar Lisboa e outras cidades portuguesas a baixa altitude para lançar milhares de folhetos subversivos (foram largados sobre as cidades de Lisboa, Setúbal, Barreiro, Beja e Faro cerca de 100 mil panfletos), o assalto, em 17 de maio de 1967, à filial do Banco de Portugal na Figueira da Foz com o objetivo de financiar acções contra o regime encabeçado por António de Oliveira Salazar (acto que está na origem da fundação da Liga de Unidade e Ação Revolucionária, organização a que Camilo Mortágua pertenceu).
Mas, de igual modo, é indispensável recordar uma outra acção a que o seu nome está ligado, esta ocorrida em 1975. Referimo-nos à ocupação, em abril de 1975, da herdade da Torre Bela, então a maior área de terra agrícola murada de Portugal, com 1700 hectares, propriedade do
Duque de Lafões, que não estava a ser usada, há muito, para o cultivo, e que, durante um período temporal muito curto, foi palco de uma transformação radical na vida de dezenas de camponeses sem terra. E, passados que são tantos anos, essa experiência social revolucionária bem que merece que sobre ela fosse realizada uma análise crítica séria, isenta e serena.
Essa seria/será a melhor homenagem que pode ser feita à vida e à memória de Camilo Mortágua.
E ele bem a merece.
Lisboa, 02/11/2024