Grelos para o bacalhau
Ou como os adeptos da assimilação e da integração forçada de culturas deveriam ir dar uma volta ao bilhar grande
A cultura de quem acolhe [2]
Na Suécia, nos separadores das autoestradas, existem campos de grelos a perder de vista. São folhas e flores de couves que os suecos utilizam para várias finalidades exceção feita a alimentação humana.
Para os portugueses que emigraram para este país nórdico e para aqueles que desertaram da guerra colonial e que nele também passaram a viver as questões gastronómicas constituíram sempre uma pedra de toque identitária. Sardinhas assadas, frango no churrasco, feijoada, cozido à portuguesa e bacalhau cozido ou na brasa, entre outros, foram sempre pratos de “resistência” que foram juntando famílias e amigos à volta da mesa, sobretudo aos fins-de-semana.
Numa ocasião na qual a opção recaiu sobre o bacalhau cozido houve necessidade de procurar acompanhamento adequado ao dito e às batatas. Para tal uma expedição foi enviada à auto-estrada mais próxima com sacos de juta para realizar a devida colheita espontânea e informal.
Foi nesta circunstância, de todo inédita para os polícias suecos, que o grupo de “coletores de grelos” recebeu ordem de prisão e foi encaminhado para a esquadra.
A explicação em termos de gastronomia e de relação estratégica entre o bacalhau e o grelo não convenceu ninguém e os polícias intrigados foram exigindo uma clarificação séria e responsável para a situação.
Até que alguém propôs que os agentes da autoridade fossem ao “local do crime”, ou seja à cozinha onde o bacalhau já estaria em bom progresso e apenas a exigir companhia adequada. Assim foi e rapidamente se chegou à conclusão que os hábitos culturais e gastronómicos precisavam de ser mais partilhados entre imigrantes e autoridades.
Os polícias suecos não passaram a comer grelos com o salmão, mas também não lhes passou pela cabeça obrigar os portugueses a adotá-lo em vez do bacalhau. Às tantas o raspanete pela “invasão dos separadores da autoestrada” pareceu suficiente em troca da tomada de consciência da existência de outros hábitos culturais e gastronómicos na comunidade lusa que sendo radicalmente diferentes proporcionavam felicidade e espírito comunitário que reforçavam a coesão social entre a população local.