3 de Outubro, 2025

Autárquicas 2025 em Loulé, hora de escrutínio 

As eleições de 2025 não devem ser vistas como um fim, mas como um ponto de partida

DOSSIÊ NSF AUTÁRQUICAS 2025 [1]

Por Ana Poeta 

As eleições de 12 de outubro são uma oportunidade para que Loulé escolha não apenas quem vai gerir o município, mas como este será gerido. Não são apenas mais uma troca de nomes ou listas. São um momento de escrutínio, de nascimento de um novo ciclo político: o fim da hegemonia PS / PSD e a necessidade de se aprender a governar sem maioria mas de forma concertada e de partilha democrática. 

O que está em jogo 

O concelho tem hoje recursos sem precedentes — o orçamento municipal de Loulé para 2025 é o maior de sempre –  206 milhões de euros –  investimentos em saúde, habitação, cultura e ambiente. A verdade, porém, é que o sucesso orçamental não responde sozinho às fragilidades estruturais e a abundância orçamental não elimina as perguntas fundamentais: 

  • Quem beneficia dessas prioridades? 
  • Como se distribuem os recursos entre freguesias? 
  • Que voz têm os cidadãos no desenho dessas políticas? 

As sombras do poder local 

Por cada investimento anunciado, há perguntas que ficam no ar: 

  • Como se explicam milhões gastos em festas e concertos sem relatórios de impacto claros nem transparência nos contratos? 
  • Por que razão freguesias como Alte, Ameixial ou Salir continuam a sentir-se periféricas nas prioridades, enquanto Quarteira e Loulé absorvem a maior parte da atenção política? 
  • Que políticas estruturadas têm sido criadas para fixar jovens, para apoiar quem trabalha em condições precárias ou para responder ao envelhecimento acelerado da população? 
     

É aqui que a governação mostra os seus limites: quando a comunicação é mais eficaz do que a partilha de poder, e quando a política local se torna espetáculo mais do que diálogo. 

Continuar, mudar ou aprofundar? 

É natural que a continuidade seja uma força em Loulé: obras e investimentos anunciados, projetos em curso. É igualmente natural que surjam propostas de mudança, de maior fiscalização, de reorganização de prioridades. Mas talvez o mais importante não seja colocar continuidade e mudança como termos opostos, e sim perguntar: o que precisamos aprofundar? 

A proximidade com as populações, a escuta dos cidadãos, a justiça territorial, a gestão sustentável dos recursos — são áreas que não podem ficar reféns de ciclos eleitorais. 

O papel do cidadão 

A verdadeira questão das autárquicas é até que ponto cada munícipe se sente parte ativa do processo. Participar não é apenas votar; é acompanhar, questionar, propor, estar presente. Uma democracia local robusta precisa de cidadãos informados, críticos e envolvidos. 

As eleições em Loulé podem, assim, ser um exercício de renovação cívica. Independentemente da vitória de um partido ou coligação, o resultado será tanto mais saudável quanto maior for o debate público e a capacidade de envolver quem normalmente se sente afastado da política. 

Um olhar para além das urnas 

As eleições de 2025 não devem ser vistas como um fim, mas como um ponto de partida. O desafio não é apenas escolher representantes, mas repensar que comunidade queremos construir nos próximos anos: 

  • Uma comunidade que valorize a sustentabilidade ambiental e social.
  • Uma comunidade onde a transparência seja regra, não exceção.
  • Uma comunidade em que o poder político se mantenha próximo das pessoas e das suas realidades diárias. 
     

Loulé tem todas as condições para ser exemplo de governação democrática no Algarve. A questão é se teremos, coletivamente, a coragem de exigir e praticar essa democracia todos os dias. 

Conclusão 

Loulé está num ponto decisivo. O concelho pode continuar a crescer apenas em números, em obras e em visibilidade, ou pode dar o salto qualitativo que a democracia local exige: mais transparência, mais equilíbrio territorial e mais proximidade com os cidadãos. 

As eleições de 2025 não devem ser lidas apenas como um confronto entre partidos, mas como uma oportunidade de redefinir a relação entre poder e comunidade. Porque o verdadeiro progresso mede-se não na obra feita, mas na confiança construída.

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