Telefonei há pouco para Kiev
OPINIÃO | Guerra Rússia – Ucrânia
por Carlos Pereira Martins, 10 de março 2022
Já me custa falar ou ouvir falar da Ucrânia, a sério. Ligo um televisor, um rádio, abro um jornal ou mesmo sem o abrir, logo na capa, tenho Ucrânia. Bom, mas a guerra é a guerra e dizem os crentes “Deus nos livre dela” ! Os agnósticos e os ateus dirão o mesmo mas com outras palavras, ou ainda, o que dá mais força pois retira-lhe qualquer ponta de folclore politico ou religioso, dizem o mesmo sem palavras.
Liguei há pouco para Kiev. Atendeu-me, a nossa amiga que trabalhou cá em casa uma meia dúzia de anos e regressou à capital ucraniana há já três anos. Regressou com o marido. A filha, que é professora na universidade local, visitou-me naquela cidade. A nossa amiga e o marido permanecem ainda hoje em Kiev, na sua casa e não querem de lá sair. É o seu “ninho” de sempre e se tiverem que acabar ali, assim será. A filha vai a caminho da Roménia com o filhote e o marido. Que tenha sorte e que viva!
Tenho-lhe falado algumas vezes e fico contente por os saber vivos mas, ao mesmo tempo, ando muito inquieto. Há pouco, vinha a pensar na chamada que acabara de desligar. O meu sentimento era que daria boa parte do que posso dispensar sem colocar a minha subsistência em risco para tirar da guerra e do sofrimento aquela gente boa nossa amiga.
E acabei por aportar aqui, nesta conclusão: se as pessoas fossem capazes de mudar alguns valores e, muito em especial, passar a gostar mais de pessoas do que de dinheiro ou bens materiais, seria, a meu ver, o caminho directo para a PAZ.
Não só entre russos e ucranianos, mas em todo o lado. E claro, a enorme dose de hipocrisia que todos os dias nos bate na cara, ou nas trombas, como dizia o meu avô materno, também “iria à vida”, como dizemos nós. Se voltar a escrever sobre a Ucrânia falarei apenas de pessoas. São elas os verdadeiros sofredores, os protagonistas, os que morrem ou ficam, os que me merecem sofrer ao pensar neles.
Que viva a vida. Aqueles que fazem a guerra, ali e em tantos países, em Africa, na América Latina, em todo o sitio, que nos deixem de vez o mais rápido possível.
Carlos Pereira Martins