Ana Benavente regressa, estás perdoada!
OPINIÃO – Onde andam as políticas públicas para a educação de adultos sérias e consistentes? [1]
Por Carlos Valentim Ribeiro
Na apresentação dos resultados do PIAAC falou-se de histórico atraso e de uma equação difícil e longa, mas será que vai haver coragem para revisitar as orientações para a educação de adultos que vigoram no país há um bom quarto de século?
Ana Benavente coordenou o Estudo Nacional de Literacia que contou com a participação de outros investigadores tais como Alexandre Rosa, António Firmino da Costa e Patrícia Ávila.
O Estudo Nacional de Literacia realizado entre 1994 e 1996, coordenado por Ana Benavente, cuja finalidade consistiu antes mais avaliar “as capacidades de processamento da informação na vida quotidiana” principalmente por parte da população adulta, apontou um rumo para as políticas públicas para enfrentar os défices muito significativos então identificados.
O conhecimento da “distribuição das competências de leitura, escrita e cálculo” por parte da população ficou consolidado e serviu de base para desenhar algumas recomendações.
Adiantava-se na altura a necessidade de serem definidas “políticas educativas, culturais e socioeconómicas sérias e consequentes no quadro de um processo de desenvolvimento integrado e sustentável”.
Também se clarificava que a promoção da literacia deveria implicar “mudanças na educação pré-escolar, escolar, e de adultos, na sua articulação e interação à luz de um modelo de educação permanente, no sistema de formação profissional, mas também nos planos de desenvolvimento cultural, da produção e circulação de mensagens escritas, das estruturas produtivas e inserção socioprofissional dos recursos humanos”.
O último Relatório com os resultados do PIAAC (Programa Internacional para a Avaliação das Competências dos Adultos da OCDE) confirma a situação dramática na qual o país se encontra neste domínio.
“Portugal sai-se bastante mal no retrato, estando na cauda dos 31 países analisados”.
É que não se pode, pelo menos na educação de adultos, substituir a educação permanente e a sua relação fundamental com a vida quotidiana pelas batalhas quixotescas da Certificação.
O anúncio da conquista reza assim “Em setembro de 2022, o Programa Qualifica ultrapassou um marco importante: chegámos a mais de 1 milhão de certificações (totais ou parciais)” .
Pois…Não há milagres. Ou elevar o nível das qualificações [certificações] orientadas para a empregabilidade ou trabalhar o desenvolvimento de competências melhorando os níveis de literacia e simultaneamente produzir impactos nas qualificações, sobretudo através das micro-certificações que mais facilmente traduzem níveis efetivos de desenvolvimento de competências.