Condeixa-a-Nova – Povo, envolve-te!
Cada debate em comunidade pode devolver à política a sua respiração humana

DOSSIÊ NSF AUTÁRQUICAS 2025 [5]
por Lina Cláudia de Oliveira Santos
A política e as eleições autárquicas assumem a atualidade dos nossos dias. De promessas por cumprir e palavras gastas, diz o povo cansado.
Mas, povo, não desvalorizes a política: ela vive o teu dia, desde o preço do pão ao transporte que chega atrasado, da saúde ao silêncio das assembleias locais, onde tantas vezes falta a tua voz.
O que falta na política não são ideias — é a tua presença nela, com a tua opinião, com o teu olhar. Escolhes um partido ou uma pessoa para te representar e, depois, desresponsabilizas-te, à espera que façam tudo por ti.
Não, povo: deves fazer a tua parte diariamente, e não apenas nas eleições.
A oportunidade de te reconciliares com a cidadania é agora. O mundo exige que cada um de nós se levante contra o ódio, o abuso de poder, o autoritarismo.
Ou preferes tu, povo, regressar à ditadura?
A poucos dias das eleições autárquicas, vemos um emaranhado de interesses que não se traduzem em consensos. Falta empatia, falta saber escutar, falta respeito pelas opiniões.
Em cada esquina, há um partido politico, parecem capelinhas, cada qual a defender a sua dama. Não há encontro de ideias, apenas imposições.
E dentro dos próprios partidos? Raramente se respira democracia. Impera a soberba, escasseia a humildade, falta caminhar juntos pelo único bem que importa: o bem do povo e do país. Muitos só querem ser donos da verdade e do poder.
Povo, envolve-te!
Mostra que tens opinião, que sabes ler o mundo, que não te deixas enganar por promessas vazias. Não te iludas com discursos fáceis.
Ou permitirás que regresse o miserável lema “Deus, Pátria e Família”, com palmatória, cintadas, ajoelhar-se no milho e chapéus de burro?
É isto que queres, tu povo de memória curta?
Há povo que anda cego, mas todos sabemos o rumo que isto pode tomar. Acorda, povo!
Lembra-te do Papa Francisco, filho e neto de emigrantes: acreditas que ele alguma vez aceitaria uma luta desmedida contra a migração?
A opressão não é destino.
Não se trata apenas de voltar à escola, mas de aprender a ler o mundo com olhos críticos, de reaprender a perguntar, de redescobrir o valor do diálogo.
Em cada casa, em cada sala de aula, em cada família, falemos do que foi viver em ditadura.
Só assim pode nascer uma consciência nova.
Cada debate em comunidade pode devolver à política a sua respiração humana.
Num tempo em que a desinformação corre veloz e as respostas fáceis seduzem, precisamos de cidadãos que não se contentem com o imediato, mas que saibam questionar, comparar, escolher e ponderar.
A democracia não vive de espectadores: precisa de participantes.
Precisamos, juntos, de acender luzes no presente e lançar sementes no futuro, aprendendo com um passado que não queremos repetir nunca mais.
Democracia é verbo: só existe se a conjugares no presente.
Povo, a tua voz é o primeiro ato de liberdade.