9 de Outubro, 2025

Um grito global a exigir o fim da barbárie

As principais críticas feitas a esta flotilha anulam-se a si mesmas, pelo facto de dizerem a verdade

por Joana Manarte, cantora e ativista

Este conjunto de informações não é uma opinião, é informação disponível em livros, noticiários, relatórios, estudos de eficácia sobre activismo, ensaios sobre o conceito e a prática da desobediência civil não violenta, etc.

A flotilha humanitária não é um acto irresponsável feito por gente inconsequente. Pelo contrário, é um movimento altamente planificado, com objetivos claramente definidos, é estratégico e pretende ser consequente, como o ativismo em geral. As principais críticas feitas a esta flotilha anulam-se a si mesmas, pelo facto de dizerem a verdade:

“Eles querem é mediatismo”. SIM

Este é, justamente, um dos efeitos desejados pelos activistas, porque a atenção mediática ajuda MUITO a cumprir o objectivo de chamar a atenção da comunidade internacional (governos e sociedades civis) para qualquer causa. Neste caso, essa causa é o fim do genocídio que está a ser perpetrado em Gaza pelo Estado israelita. (Nota: De novo, infelizmente o genocídio não é uma opinião, nem é algo passível de ser confirmado ou desmentido por influencers. Está documentado e reportado por várias organizações internacionais com validade técnica para investigar e reportar sobre esta matéria.)

“A Mortágua quer é atenção.” SIM

Há políticos e ex-políticos na tripulação, porque aumenta a atenção mediática sobre a causa e aumenta a probabilidade de os Estados europeus se mobilizarem. Não é preciso gostar pessoalmente e/ou ideologicamente da Mortágua ou do tripulante A, B ou C para se apoiar a flotilha. Este movimento é colectivo e não é partidário, é civilizacional.

“Agora queixam-se? Eles sabiam muito bem que isto podia acontecer.” SIM

Também sabiam que, acontecendo a interceção das embarcações por parte de Israel, ajudariam a expor a indiferença do estado israelita à lei internacional, juntando-se esta operação ao rol de ilegalidades cometidas por este Estado.

“Então foram avisados para desistir e agora querem o apoio dos seus governos?”. SIM

Outro objetivo era despertar os governos europeus para o incumprimento da lei internacional por parte de Israel e pressionar os estados europeus a sancionar o Estado israelita, pelo menos por esta legitimidade “rápida”: apoiar os seus cidadãos sequestrados. Este objetivo não foi cumprido. Os governos europeus fecharam os olhos à ilegalidade da interceção israelita e abandonaram os seus próprios cidadãos.

Outras críticas frequentes

“Então e o Hamas? Esses já não faz mal apoiar?”

Quem exige o fim do genocídio, não é defensor de nenhum grupo terrorista.

“Então e os reféns do Hamas? Esses já não contam?”

Quem exige o fim do genocídio e a aplicação de sanções a Israel, defende a libertação de todos os reféns.

“Se queriam ajudar, por que não entregaram os medicamentos e bens alimentares para Israel fazer chegar à população de Gaza, como o Estado israelita propôs?”

Porque o Estado israelita bloqueou há muito tempo a entrada de ajuda humanitária internacional em Gaza, o que constitui crime. Entregar os bens de primeira necessidade ao Estado de Israel seria validar esse crime e desperdiçar essa ajuda, uma vez que esses bens não seriam efetivamente distribuídos à população de Gaza, como reportado por diferentes organizações internacionais.

“Se queriam ajudar, ajudavam de outra forma.”

Os activistas são, por inerência à sua militância e consciência política, das pessoas mais informadas e conhecedoras das formas mais eficazes de contribuir para as causas que defendem, sejam elas locais ou globais, nacionais ou internacionais. São também pessoas multi-interventivas, isto é, para além da flotilha, têm integrado a operacionalização de várias formas de tentar ajudar: petições a exigir o cessar fogo, vigílias, donativos, envio de material de ajuda humanitária, trabalho humanitário no terreno, ações de sensibilização, entre outras. Tem sido insuficiente para impactar os decisores políticos.

A flotilha é “só” mais um passo nesta luta lenta e estóica pelo fim da chacina, da fome provocada, da matança indiscriminada de civis, crianças, mulheres, homens, pessoas irmãs.

A histórica mobilização da sociedade civil à escala mundial, alavancada nas ruas e vielas deste planeta no dia 2 outubro, é já uma consequência da flotilha. O grito global a exigir o fim da barbárie e a salvação da humanidade é já obra destes insurrectos. Saibamos honrar a insurreição em prol dos Direitos Humanos. Saibamos pôr cabeça e coração a caminho, quando os governos falham.

Estamos juntos!

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