Braga, promessas mais rápidas que o metrobus
Braga arrisca-se a continuar como está: cidade vibrante, jovem, sim, mas refém de promessas que só funcionam em panfleto

DOSSIÊ NSF AUTÁRQUICAS 2025 [8]
por Rui A. Sá
Braga, o sétimo município mais populoso do país, prepara-se para votar e, como sempre, os candidatos descobriram uma mina de ouro: a imaginação popular. O eleitorado, cansado de forames nas estradas e rendas de luxo em T2 sem varanda, é bombardeado com anúncios que fariam enrubescer qualquer agência de publicidade.
PSD/CDS/PPM
João Rodrigues (PSD/CDS/PPM) aparece como o herdeiro natural de Ricardo Rio, que não se pode recandidatar, prometendo transportes gratuitos, circular urbana e espaços verdes para todos. É a velha receita, que junta uma pitada de obras vistosas e contas que depois logo se veem,
apresentando um catálogo tão vasto que só faltaria incluir uma praia artificial no Sameiro.
PS
Do lado do PS, que perdeu o bastião em 2013, António Braga regressa com pose de salvador, com metro de superfície em vez do metrobus de Rio, promessa de habitação modular e até uma Área Metropolitana de Braga,
como se fosse possível decretar urbanismo à mesa da esplanada
CHEGA
Filipe Aguiar (Chega) promete devolver “identidade” à cidade, reduzir impostos e ouvir os cidadãos “na rua”.
Na prática, uma espécie de democracia direta de megafone na mão, à boa maneira populista a que estamos habituados.
INICIATIVA LIBERAL
A Iniciativa Liberal manda à liça Rui Rocha, que sonha Braga como “capital do Norte”, com TGV, metro de superfície e variantes rodoviárias. O discurso é de grande escala, mas a cidade pode não ter fôlego (nem orçamento) para sonhos que exigem o Estado central a reboque.
INDEPENDENTE RICARDO SILVA
O independente Ricardo Silva (Amar e Servir Braga) apresenta 442 medidas
— quatrocentas e quarenta e duas.
É o único candidato cujo programa carece de índice remissivo.
CDU E BE
E, claro, a CDU (João Baptista) e o BE (António Lima) repetem a cassete que todos evitam – mas deveriam – mencionar: sem investimento público (real) em transportes e habitação, o resto não passa de confete eleitoral.
No fim, quase todos juram combater o metrobus, mas nenhum explica como financiar alternativas. Todos procuram resolver a habitação, mas não se mexe nos lucros da especulação. Braga arrisca-se a continuar como está: cidade vibrante, jovem, sim, mas refém de promessas que só funcionam em panfleto, enquanto os cidadãos sofrem com lengalengas vagas, facilmente levadas pelo vento.
Rui A. Sá