EXTREMA-DIREITA |Levar a sério os neofascistas
SF | 21-08-2020 | Elísio Estanque leva-nos ao mundo das causas, das explicações. Fala-nos do desencanto e da incultura política de alguns, talvez de muitos. E não poupa os oportunistas que cavalgam sobre os problemas e as dificuldades.
Por Elísio Estanque,
Centro de Estudos Sociais/ Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra
46 anos após a Revolução de Abril, cujo maior lubrificante foi o clamor popular contra o fascismo, eis que regressam novos sinais de retrocesso. A democracia, com todas as conquistas e avanços que proporcionou, deixou-se corroer por inúmeros vícios, lógicas oligárquicas e outras perversões. Ao mesmo tempo, o crescimento das desigualdades, da pobreza e da exclusão, levou amplas camadas da sociedade a sentirem-se deixadas para trás, alimentando os ressentimentos que a demagogia populista explora.
Os viveiros do populismo
Em larga medida são esses setores desencantados que fornecem as bases do crescimento do partido Chega, cuja estratégia tenta apanhar o comboio de uma tendência internacional já em curso. A incultura política dessas camadas permite que os seus queixumes se tornem em viveiros do populismo de extrema-direita.
Saudosistas
Os grupos saudosistas do passado e o oportunismo de figuras como A. Ventura aproveitam a onda, enquanto tratam de transformar a “esquerda”, o “socialismo” e o “comunismo” em sinónimos do mal. Oferecem o paraíso numa bandeja, enquanto praticam o contrário do que proclamam.
A democracia pode vir a arder
Fazem da ameaça, do ódio e da violência as suas principais armas. E quando partidos e instituições democráticas são condescendentes com o discurso do ódio, estão a fornecer combustível à fogueira onde a democracia pode vir a arder. Há que levar a sério os neofascistas e denunciar quem objetivamente lhes está a abrir o caminho.
Elísio Estanque | editado CVR
© foto Expresso cedida pelo autor