14 de Setembro, 2024

Marc Ollivier, refratário, investigador e autor

AGENDA | Conferência-debate dos 50 anos da ODTI – Grenoble | Editado CR-SF

Marc Ollivier vai ser um dos intervenientes na Conferência-debate que se realiza em Grenoble por ocasião do 50º aniversário da Associação ODTI estando prevista uma comunicação do Investigador do CNRS jubilado com o tema das resistências populares à Guerra da Argélia.

Refratário à guerra da Argélia (1959), exilado na Suíça e em Marrocos, o militante de causas bem conhecido na região de Grenoble foi co-autor com Mario Pinto de Andrade do livro “La guerre en Angola” que foi editado pela Maspero no início dos anos 70. Numa curta mensagem enviada aos seus amigos para os convidar para a Conferência Internacional Ollivier adianta:

“Se as nossas partilhas de ideias e de informação forem orientadas positivamente na direção de uma luta coletiva internacional contra as guerras motivadas por formas de domínio colonial ou imperialista, não é impossível que neste nosso encontro surja a criação de uma organização mundial de resistência a essas guerras e de solidariedade com os povos que delas são vítimas”.

A Guerra em Angola

Trata-se de uma obra na qual os autores se esforçam por discriminar as características socio-económicas da luta anti-imperialista em Angola. Trata-se de uma análise com tripla dimensão: estruturas económicas até 1960; consequências da guerra de libertação; Angola face à estratégia imperialista. Nesta abordagem são evidenciadas as consequências da ação dos movimentos anti-coloniais no equilíbrio financeiro do Império Português.

O livro teve uma distribuição alargada e foi até traduzido em países africanos. Recordemos a mensagem de Leopold Senghor a Mario Pinto de Andrade valorizando o conhecimento e a cultura como forma de libertação do jugo colonial:

Por sua vez Marc Ollivier tem publicado de forma persistente posições relacionadas com a recusa da guerra o que aconteceu recentemente numa tomada de posição na qual o autor primeiro coloca duas questões: por que o movimento de recusa foi tão fraco entre os jovens franceses mobilizados para a guerra? E por que teve uma ressonância relativamente forte no contexto muito mais amplo de todas as formas de resistência à guerra da Argélia?

Após um breve lembrete histórico, e a observação de que “esta guerra combinou as características de uma luta de libertação nacional e de uma verdadeira guerra civil na sociedade francesa”, o autor se pergunta “poderíamos parar a marcha que levou ao paroxismo do Guerra da Argélia ?” Durante anos, os partidos políticos e sucessivos governos trapacearam, não querendo encontrar nenhuma solução de paz satisfatória. Témoignage Chrétien afirmou em setembro de 1955: “faça o que fizer o governo, a força não será capaz de superar a vontade de libertar o povo argelino (…) a guerra argelina é uma loucura”.
Mas alguns recrutas questionaram o sentido da guerra: essa guerra é uma loucura, tudo bem, mas o que fazer A desobediência e a deserção são decisões difíceis. O sentido do dever, a vergonha de desertar, a honra da família, deixar tudo para ir para o exterior são obstáculos. Tanto é verdade que o pequeno número dos que ultrapassaram essas dificuldades só o puderam fazer em ordem dispersa, em forma de solidão, exceto por um pequeno número apoiado pela Ação Cívica Não Violenta (ACNV). Outros, talvez os mais numerosos, deixaram a França para se refugiar no exterior: Alemanha, Suíça, Tunísia, Marrocos …

Mas se os refratários eram poucos, Marc Ollivier sublinha “o impacto da sua recusa, que ajudou a mobilizar grande parte da opinião pública contra a guerra”. Para o autor, a sua luta ainda hoje é relevante.

Marc Ollivier
Pesquisador CNRS em ciências sociais
Viveu em Marrocos e depois na Argélia entre 1957 e 1972, rebelde “ilegal” no Marrocos em 1959
Membro da associação 4ACG

Manuscrito da correspondência entre Mario Pinto de Andrade e Marc Ollivier na preparação da obra sobre a Guerra em Angola, que também foi traduzida em Portugal em 1975.

Fontes : editores e Casa Comum © fotos e arquivos

Informação Manuel Branco – Sem Fronteiras Grenoble

Editor

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