Sou Alam, os filhos do Salto
LIVROS & MÚSICA | Concerto na Scène do canal, 10 de fevereiro 2022
João Heitor não foi de meias emoções. Pôs preto no branco o que a alma lhe ditou. As lágrimas que o Sou Alam provocou no concerto na Scène do Canal não terão tido só um protagonista isolado. O entusiasmo foi geral e o espetáculo terá tido magia. Não só pelas máscaras e pelas pinturas faciais que emergem no palco como uma espécie de obras sobrenaturais, mas também pela música, pela voz e pelo ambiente que só uma nova geração consegue criar com os “velhos temas” de Zeca Afonso e não só.
Chorei. Chorei de emoção na passada quinta feira quando assisti ao concerto do lançamento do disco do Sou Alam São estes filhos do SALTO, diplomados nos grandes conservatórios de Paris que nos arrebentam com as lágrimas. Transcrevo as suas palavras lavradas no livro editado com o CD:
” Este álbum é o fruto de um encontro…Entre o meu contexto familiar de origem, impregnado da sua cultura portuguesa (mirandesa) e um ambiente ambiente cultural distante desta: Paris. Neste duplo contexto ligado à história da imigração, tenho procurado durante algum tempo o meu lugar… aquele que um dia daria sentido a esta ambivalência. Assim, fui às minhas raízes para encontrar possíveis pontes entre as línguas, espaços geográficos e culturas… como se quisesse quebrar as distâncias. Em suma com este disco, tento ligar as diferenças , deixando os ecos responderem uns aos outros… numa assembleia de facetas específicas da minha identidade.
Dar voz a um Portugal aberto ao mundo
SOU significa EU SOU…Em muitas ocasiões tive a oportunidade de abordar a cultura mirandesa (Nordeste de Portugal) dentro do seu contexto geográfico e cultural… desde das festas religiosas onde surgem rituais pagãos até ao encontro com figuras poéticas como Amadeu Ferreira. Também tive acesso ao património cantado de José Afonso no que é inelutável, porque é profundamente humano e universal . Abraçar estes vários contextos, reunindo-os num movimento apaixonado e compositivo, foi para mim uma forma de dar voz a um Portugal aberto ao mundo, de tentar fazê-lo vibrar com o seu carácter ancestral e, rodeado por esta bela equipa musical, de tentar iluminá-lo na sua contemporaneidade.
O profano e o sagrado, a natureza e o homem, a sua liberdade, tanto filosófica como social, são alguns dos temas que têm alimentado as minhas atrações e motivado as minhas escolhas. Espero que o resultado lhe toque …SOU”
E, o espectáculo, empolgante e mágico, contou com um agrupamento musical composto por Aurore Daniel, Patricio Lisboa , Guillaume Percussions Arbonville, Florian Juillard, Maxime Perrin.
Fotografias © David Rito