José Afonso – O triângulo mágico na sua vida e obra – África, Portugal e Galiza
PAUSA CAFÉ – Livro | Apresentação na AJA Lisboa – África [1]
Foi no dia 12 de janeiro, ao fim da tarde, que Paulo Esperança encheu a sala do Núcleo de Lisboa da AJA sito na Rua de S.Bento na capital de referências vivas do percurso de José Afonso. Acompanhado na mesa da sessão por Guadalupe Portelinha, que coordena a instituição lisboeta, as primeira palavras do autor do livro “José Afonso – O triângulo mágico na sua vida e obra – África, Portugal e Galiza” foram para África.
São de Paulo Esperança as palavras que se seguem.
Disse José Afonso:
Sou, no fundo, fruto de muitas gentes, de muitos lugares, de muitos dissabores .
Foi daqui que parti para este livro.
Apesar dos “MUITOS LUGARES” considero haver um triângulo mágico no imaginário de José Afonso que, talvez de forma não muito perceptível, influenciou a sua vida, obra, criação artística e abertura para a compreensão do mundo que o rodeava.
África, Portugal, Galiza são esses vértices!
Durante os 15 anos em que fui membro da Direcção da ASSOCIAÇÃO JOSÉ AFONSO – dos quais 9 como Vice-Presidente, fui desenvolvendo esta ideia promovendo inúmeras tertúlias quer em Portugal quer na Galiza.
ÁFRICA
José Afonso vai para Angola com três anos. Com seis anos regressa a Portugal, com sete vai para Moçambique e com 8 anos regressa de novo ao então território continental.
Homem já formado, está em Moçambique entre os trinta e cinco e os trinta e oito anos.
Essas permanências em África traduziram-se nas aquisições e aprendizagens que foi fazendo guardando na memória conhecimento que mais tarde vai utilizar no seu processo criativo.
Do ponto de vista político José Afonso, é claro:
O meu baptismo político começa em África. Estava ali a dois passos do oprimido.
Certo é que durante a sua permanência em África não produz qualquer registo discográfico. Mas isso não significa que não tenha deixado voar a sua inspiração poética e musical.
Em Moçambique, 1965, criou “Vejam Bem” (Cantares do Andarilho/1968) incluída no filme de José Cardoso, “O Anúncio” compondo também cinco músicas para a peça “A Excepção e a Regra” (Bertolt Brecht) levada à cena pelo Teatro de Amadores da Beira.
Algumas músicas vêm sobretudo das minhas quase reminiscências daquilo que vivi em África, disse.
São esses ritmos, essas harmonias, alguns dos sons desses instrumentos da África negra que se foram acumulando no seu subconsciente e irão habitar algumas das suas canções futuras.
Apenas três exemplos:
– “Avenida de Angola” (Traz outro Amigo Também / 1970). Avenida de Angola era a principal Avenida de Maputo, Moçambique. Canção que naquela época reflectia o problema da prostituição consumo dos colonizadores brancos.
Canta José Afonso:
há sempre um botão de punho / Num braço de fora preto.
– Em “Ailé, Ailé” (Coro dos Tribunais / 1974, mas todo escrito antes do 25 de Abril) sentimo-nos debaixo dos embondeiros que nos acolhem como se fossem os pais e as mães de toda a terra;
– “Lá no Xepangara” (Coro dos Tribunais / 1974) sobre o percurso de um menino em Moçambique: Lá no Xepangara vai nascer menino dentro da palhota…se morrer de fome tapa-se com um pano (…).
De facto, João Afonso dos Santos (irmão de José Afonso) tinha razão quando escreveu em “Um Olhar Fraterno”:
Influências? As africanas subsistem teimosamente até ao último disco.
Uma nota curiosa que se irá estender também à Galiza: apesar da clara influência africana na sua criação, José Afonso – que no conjunto da sua obra “usa” cerca de 40% de palavras de outros ou de recolha popular – não musica nenhum texto de poetas dessa região do mundo apesar de ter lidado com muitos deles.
Vindo de Moçambique, José Afonso regressa a Portugal em 1967 .
Em 1968 cria o álbum “Cantares do Andarilho” onde começa a antecipar, com substância ideológica, o que viriam a ser todas as aquisições da vida percorrida.
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