Deserção de oficiais não é tema presente nos museus militares portugueses
LIVROS & MÚSICA | Crónica de uma deserção-Retrato de um país no Porto | 6 de maio 2022
por Roland Baumann, Bruxelas
Na sexta-feira dia 6 de Maio, na Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto, Fernando Mariano Cardeira apresentou o seu livro Crónica de uma deserção-Retrato de um país. Este relato autobiográfico evoca um momento chave no movimento de rejeição das guerras coloniais: a deserção de dez oficiais das forças armadas portuguesas em 1970.
Júlio Gago, do Teatro Experimental do Porto (TEP), deu início à sessão evocando o contexto histórico desta deserção colectiva, desde a luta clandestina contra o salazarismo e as primeiras denúncias do colonialismo até ao crescimento progressivo da oposição aos “conflitos ultramarinos” e, finalmente, a deserção destes jovens oficiais. O grande impacto simbólico na altura na opinião pública, tanto no estrangeiro como em Portugal, foi sublinhado pelo apresentador.
Ao relato de Fernando Cardeira sobre a viagem colectiva da sua deserção e sobre o exílio na Suécia seguiu-se um animado debate e vários testemunhos de outros desertores e exilados. Albino Nascimento Costa, que participou neste debate, foi naquela circunstância histórica um dos oficiais desertores.
Como refugiados em Bruxelas, ele e dois outros jovens oficiais, Vítor Pires e Vítor Bray (entretanto falecido), expressaram a sua rejeição da guerra colonial portuguesa em África numa conferência de imprensa realizada no dia 22 de Dezembro de 1970.
Curiosamente, hoje, nos museus militares portugueses em Lisboa ou no Porto, não há qualquer menção ao acto corajoso destes jovens oficiais milicianos, cujo espírito de revolta prefigurava o dos insurgentes de 25 de Abril de 1974.
Roland Baumann, Bruxelas, Jornalista e editor. Fotos © Roland Baumann | Editado CR/Sem Fronteiras