Campo Maior acolhe apresentação do livro de Moisés Cayetano Rosado sobre Salgueiro Maia
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SALGUERIO MAIA, DAS GUERRAS EM ÁFRICA À REVOLUÇÃO DOS CRAVOS
Moisés Cayetano Rosado regressa ao contacto dos leitores com a segunda edição do livro que publicou sobre Salgueiro Maia. Revista e aumentada a obra passou a integrar o catálogo do Plano Nacional de Leitura. Marcelo Rebelo de Sousa assina o prefácio e o posfácio é da lavra de Vasco Lourenço e de João Andrade da Silva.
O livro vai ser apresentado por Luis Silveirinha no próximo dia 5 de novembro no CIFA – Centro de Interpretação da Fortificação Abuluartada de Campo Maior com a presença do autor.
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Para uma melhor compreensão dos objetivos e dos conteúdos do livro, Moisés Cayetano Rosado fornece um conjunto de elementos de elevada utilidade que permitem ao leitor antecipar o contacto com a publicação.
INTENCIONALIDADE.
A Edições Colibri publica o livro Salgueiro Maia. Das Guerras em África à Revolução dos Cravos, enquanto que a Fundação Caja Badajoz o faz com o título: Salgueiro Maia. De las Guerra en África a la Revoluãó dos Cravos y su evolución posterior, livro no qual trabalhei intensamente ao longo de 2020 e início de 2021, mas que tem como pano de fundo as minhas pesquisas sobre a “Revolução dos Cravos”, os seus antecedentes nas Guerras Coloniais de África e o desenvolvimento depois da Revolução, com as suas luzes e sombras.
Comecei a investigar há mais de duas décadas, entrevistando militares e civis envolvidos nos acontecimentos e pesquisando nos mais variados arquivos. Realizei pesquisas na vasta biblioteca dos principais jornais e em revistas, bem como no abundante acervo académico, memorial e bibliografia de ensaio.
Queria focar o estudo num personagem extraordinário. Alguém que foi um protagonista crucial do levantamento militar e das ações de 25 de abril, que esteve claramente envolvido nas terríveis lutas coloniais, que tivesse participado no tempestuoso processo de confrontos entre civis e militares em 1975, bem como a sua posterior evolução: Fernando Salgueiro Maia.
Este jovem militar tinha 29 anos quando chefiou a coluna que de Santarém se dirigiu a Lisboa na madrugada de 25 de abril e exemplarmente superou obstáculos até à rendição de Marcelo Caetano no Quartel da GNR. Falecido prematuramente, com apenas 47 anos, teve tempo de sofrer a decepção pela ingratidão dos seus superiores hierárquicos e o esquecimento dos políticos que, graças a jovens soldados como ele, subiram ao poder da Nação.
No verão de 2022 este meu livro foi incluído no Plano Nacional de Leitura de Portugal.
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EIXOS FUNDAMENTAIS.
São três os eixos fundamentais deste trabalho
– Descrição do confronto bélico em Portugal de 1961 a 1974 antes da revolta dos movimentos de independência de Angola, Guiné-Bissau e Moçambique. Participação do Capitão Salgueiro Maia (alentejano nascido em Castelo de Vide a 1 de julho de 1944) nos cenários de Moçambique e da Guiné, onde -em meio ao sofrimento das tropas, emboscadas, mutilações, mortes e hostilidade ambiental- chega à consideração final que está “do lado errado da história”, visto que o processo de “retenção colonizadora” não faz sentido no momento histórico mundial de descolonização que foi vivido.
– Desenvolvimento de 25 de Abril de 1974, dia do golpe militar coordenado por jovens capitães contra a ditadura fascista e colonialista que se arrastou por meio século em Portugal. Salgueiro Maia comandou a coluna que de Santarém se dirigiu a Lisboa para derrubar o Governo, correspondendo ao papel histórico de subjugar as poderosas forças governamentais na Praça do Comerço, com uma coragem e domínio sóbrios; prender o ditador Marcelo Caetano no Quartel da GNR, executando-o com temperança, coragem e exemplaridade, depois de ter conseguido colocar a seu lado as forças que, enviadas pelo Governo para reprimi-lo, encontrou em outras partes da capital; facilitar o trabalho no Quartel do Carmo do General Spínola, que chegou para assumir o comando de Caetano, e ordenar a retirada das tropas sem nenhum revés.
– Os eventos subsecuentes da Revolução e, especialmente, a renovação democrática, que não fará justiça a este corajoso militar (como aconteceria com os jovens militares mais proeminentes que lideraram o golpe). Polêmico para alguns seriam suas atuações no golpe spinolista de “11 de março de 1975” e os confrontos de “25 de novembro de 1975” (como havia sido antes do “Golpe de Caldas de 16 de março de 1974”), mas que documental e testemunhalmente podemos demonstrar que eles estavam corretos.
Salgueiro Maia morreria no dia 4 de abril de 1992, após uma dolorosa enfermidade, desencantado com a evolução do processo e do tratamento recebido, o que o “aproxima” da frase que Simón Bolívar pronunciaria em 1830: “Quien sirve a la revolución ara en el mar”. Salgueiro Maia escreveu que gostaria que “Grândola, Vila Morena” fosse cantada no seu funeral, tendo confessado ao também “Capitão de Abril” Vasco Lourenço que assim o desejou porque figuras relevantes da política e dos militares compareceriam ao seu funeral, quem seriam forçados a cantá-lo ou pelo menos ter que ouvir-lo.
PROCESSO DE GUERRA E REVOLUCIONÁRIO.
Neste trabalho, procuro alternar a análise, comentário e reflexão crítica dos fatos, remontando ao final da Segunda Guerra Mundial e a posição das nações vitoriosas em relação ao colonialismo e seu necessário fim, para posteriormente descrever as agruras dos cenários de guerra, bem como os sacrifícios, massacres e mortes de ambos os lados do confronto. Aí, destacando o papel de sensibilização que adquirem os jovens oficiais, entre os quais se destaca o capitão alentejano de vinte e poucos anos na sua primeira missão africana.
Concentro-me nas lutas que decorreram entre 1961 e 1974 na Guiné, Angola e Moçambique, passando daí para o aprofundamento do desconforto dos capitães à frente dos seus soldados e suboficiais maltratados em plena selva, cheias de “minas antipessoal”, que causam numerosas e traumatizantes baixas. A partir daí, passei a analisar as reuniões destes militares em 1973 e nos primeiros meses de 1974 para realizar uma contundente ação contra o Governo (incluindo contactos com civis, especialmente no e após o “III Congresso da Oposição Democrática” de Aveiro de 4 a 8 de abril de 1973), levando à “Revolução do 25 de Abril de 1974”.
É emocionante ver como nesse dia de tensão, emoção e triunfo, os soldados são massivamente abraçados pelo povo, que os anima de forma eufórica, sendo a “cabeça visível” daqueles soldados na Baixa de Lisboa e na Praça do Carmo o Capitão Salgueiro Maia, cujas ações são detalhadas no livro.
Então virá um processo convulsivo, revolucionário por um lado, contra-revolucionário por outro, e nesses altos e baixos os mais ativos “Militares de Abril” não se sairá bem, em meio à inveja e ao medo de sua liderança. Assim, Salgueiro Maia será afastado de cargos operacionais e relegado a funções burocráticas e de “escritório”, o que pouco lhe atraiu, por ser um homem de ação. Sua morte prematura, de câncer, aos 47 anos, corta uma vida admirável.
Refleti também sobre o processo de nacionalização dos meios de produção, a reforma agrária e a importante Constituição de 1976, que nos anos seguintes sofrerá uma involução, rompendo com as esperanças depositadas durante o PREC (Processo Revolucionário em Curso), como a unidade dos protagonistas militares e civis da oposição à ditadura.
GESTAÇÃO DO LIVRO
A ideia de escrever este livro foi motivada pelo pedido que o Presidente da Fundação Caja Badajoz, Emilio Vázquez, me fez numa visita conjunta a Castelo de Vide, há pouco mais de um ano, e na qual falei com ele e um pequeno grupo de companheiros (em visita organizada pela Fundação) do corajoso militar. Com esta anedota, precisamente, começa o livro: em frente do túmulo de Castelo de Vide; aí é também encenado o final da publicação, em homenagem ao “Capitão de Abril”.
A edição portuguesa – em tradução do “Capitão de Abril” Carlos de Almada Contreiras- (simultaneamente a referida Fundação publicou-a na sua colecção de “Personagens Singulares”) é o resultado do entusiasmo com que o director das Edições Colibri, Fernando Mão de Ferro, recebeu o “manuscrito inicial”. Conseguiu que o prólogo fosse publicado pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. E que a edição traz a marca da editora juntamente com as importantes “Associação 25 de Abril”, que acolhe 90% dos militares vivos que participaram da Revolução (cujo presidente, coronel Vasco Lourenço, faz o posfácio), e “Associação Salgueiro Maia” (também seu presidente, coronel Andrade da Silva, faz um posfácio), para além do apoio da Câmaras Municipais de Santarém (onde Salgueiro Maia estava destinado e de onde saiu para efectuar o Golpe Militar) e de Castelo de Vide (onde nasceu e está sepultado).
Conta ainda com um importante contributo fotográfico, em grande parte doado pelas duas associações nomeadas, pelo Coronel Vaso Lourenço e pela própria viúva do Salgueiro Maia, Natércia Maia. Alguns versos do poeta Manuel Alegre, de grande ressonância literária e política, também foram doados por seu autor para serem incluídos na publicação.
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