Por razões de agenda
1 de dezembro, 2022
A Revolução não será fofinha | OPINIÃO
por Nelson Anjos
Vale a pena voltar à Breve História do Progresso. Razões de agenda assim o recomendam. Que é como quem diz: razões de urgência. Hoje, tudo acontece mais depressa. Fazer crescer a população do planeta em 200 milhões, depois de Roma, levou 13 séculos; o crescimento dos últimos 200 milhões levou apenas três anos – lembra Ronald Wright. Suméria, Ilha de Páscoa, Roma e os Maias, com o ritmo de destruição dos recursos naturais de que dispunham, e as técnicas que dominavam, duraram mil anos cada. Mantendo o modelo de vida que levamos, num mundo caracterizado pela incerteza, há uma certeza que podemos ter: não chegaremos aos mil anos de existência pós-revolução industrial.
Em matéria de agenda, lembrava o autor em 2004:
“(…) Há 12 anos, mesmo antes da cimeira ambiental do Rio de Janeiro, que levou au acordo de Kioto sobre as mudanças climáticas, mais de metade dos prémios Nobel do mundo avisaram que poderemos só ter mais ou menos uma década para tornar o nosso sistema sustentável. Agora, num relatório que a administração não conseguiu esconder, o Pentágono prevê fome mundial, anarquia e guerra “dentro de uma geração” se as mudanças climáticas atingirem as piores projeções. No seu livro de 2003, Our Final Century, Martin Rees, da Universidade de Cambridge, Astrónomo Real e antigo presidente da Sociedade Inglesa para o Avanço da Ciência, conclui: “As hipóteses não são melhores do que 50% de que a nossa presente civilização … sobreviva até ao fim deste século … a não ser que todas as nações adotem políticas sustentáveis de baixo risco, baseadas nas tecnologias atuais.”
(…) Os cépticos dizem que as anteriores previsões de desastre não se realizaram. Mas trata-se de um paraíso de loucos. Algumas das situações de que escapamos – da guerra nuclear, por exemplo – foi mais por sorte do que por ter consciência da situação, e não são definitivas. (…)”
Finalmente, muito embora algumas considerações ambíguas relativamente ao modelo de economia capitalista, que referi no texto anterior, Wright não se escusa a reconhecer que:
“(…) A revolta contra a redistribuição está a matar a civilização, desde o gueto à floresta tropical. Na maioria dos países, os impostos não foram de facto reduzidos; foram simplesmente mudados para a parte inferior da pirâmide dos rendimentos, e mudados dos programas sociais e de ajuda, para os militares e as empresas. (…)” (Onde é que eu já vi isto? …)
Termino com o título da crónica da Luísa Semedo no jornal Público do passado dia 17 de Novembro de 2022: “A Revolução Não Será Fofinha”.