José Afonso, um grande poeta do séc. XX
9 de dezembro, 2022
Livro “JOSÉ AFONSO – OBRA POÉTICA” apresentado em Lisboa
No Centro Cultural Brotéria, em Lisboa, teve ontem lugar pelas 17h00 o lançamento do livro “José Afonso – Obra poética”. Anália Gomes, que esteve presente, relata-nos aqui a jornada ao mesmo tempo que nos revela os antecedentes deste tipo de publicações sobre a obra de José Afonso. SF
por Anália Gomes
A sala a abarrotar, muita gente de pé e mesmo sentados no chão, para assistir à apresentação do livro que reúne toda a poesia do José Afonso.
Com a participação de Rui Vieira Nery, Sérgio Godinho e Jorge Abegão, responsável pela organização desta edição, que segue critério diferente da anterior (“José Afonso Textos e Canções”). Leitura de poemas por Maria do Céu Guerra e Luís Lima Barreto.
“JOSÉ AFONSO – OBRA POÉTICA” reúne toda a poesia de José Afonso, desde o início dos anos 50 até 1985, quer tenha sido musicada ou não, incluindo alguns poemas inéditos que haviam sido publicados em jornais e revistas. Constata-se que os poemas não musicados são mais de 50% da totalidade de toda a sua produção poética. O título, bem escolhido, evidencia a qualidade da poesia de José Afonso. De salientar que a colectânea anterior tinha o título “José Afonso – Textos e Canções”, o qual vinha já do tempo de José Afonso (edição de 1975, coord. de José Viale Moutinho), colocando em evidência a poesia cantada e incluindo alguns textos em prosa, a que deu o título de “Prosemas”.
José Afonso a ser, portanto, finalmente reconhecido como um grande Poeta do séc. XX, não “apenas” como cantautor. Jorge Abegão justificou a diferente sequência dos poemas, que segue agora a ordem cronológica, conforme vontade de José Afonso nas primeiras edições, embora nem todos os poemas tenham indicação de data porque o próprio Zeca não os tinha datado. Os poemas que são também letras de canções são identificados como tal, mas entremeados de outros poemas escritos na mesma fase.
Duas épocas emergem como especialmente produtivas poeticamente falando: em 1973, quando da prisão em Caxias, incluindo várias canções do álbum “Venham mais cinco”, mas também vários outros poemas não musicados: seria a escrita um escape para José Afonso, privado da sua liberdade? O outro momento corresponde a um período marcado pela doença entretanto diagnosticada: 1981-1982. A sessão terminou com um belíssimo momento musical por Catarina Anacleto, violoncelista, a tocar “Benditos” com acompanhamento à viola.
Um poema não-musicado da época da prisão em Caxias
DESTA CANÇÃO QUE APETEÇO
Desta canção que apeteço
À espera do Maio ido
Chega-me agora um trinado
Do outro lado do rio
Quisera ser rio ou ave
Cair no chão que estremeço
Para cantar à vontade
Esta canção que apeteço
Esta canção a meu gosto
Vinda pela madrugada
Sai da garganta da gente
Aos magotes pela estrada
(Prisão de Caxias, 1973)
Fotos @ Anália Gomes | Editado CR-SF (referência às iluminações de Natal em Lisboa)