SIEMPRE ABRIL SEMPRE
Um livro de poemas de Moisés Cayetano Rosado
Quando a “Fundación de Investigaciones Marxista” publicou meu livro “25 de Abril, el sueño domesticado” em 1999 (em colaboração com meu filho Moisés Cayetano Rodríguez), iniciei uma atividade de reflexões, buscas e contrastes que me levariam à publicação de várias monografias sobre a Revolução dos Cravos, suas causas, acontecimentos e consequências. Tudo isso daria origem ao livro “Salgueiro Maia. Das Guerras em África à Revolução dos Cravos”, editado em 2021 pelas Edições Colibri, de Lisboa, ao mesmo tempo que a Fundación Caja Badajoz o fazia em Espanha.
Mas o sentimento profundo que todo o processo produziu em mim precisava ser refletido em um livro em que a informação crítica sobre os acontecimentos fosse combinada com a emoção sentida por eles ao longo de toda a andadura. Assim nasceu “Siempre Abril Sempre”, um livro de poemas que teve a sua primeira versão no ano 2000, editado pelas Publicações “O Peloruinho”, da Diputación Provincial de Badajoz, e que agora ve à luz, ampliado, revisto e com grande contribuição fotográfica, sob a responsabilidade das Edições Colibri, com a colaboração da Fundación CB.
A coletânea de poemas utiliza a técnica narrativa, de forma que seja possível formar uma ideia do que significaram as dolorosas guerras coloniais, a consciência dos jovens Capitães de Abril, das forças progressistas e do povo em geral ; oposição à ditadura de Salazar e seus sucessores; o processo revolucionário do Golpe Militar e a luta por uma democracia avançada, plena de sonhos solidários; o difícil percurso dos anos seguintes, com suas conquistas e frustrações, até chegar à situação atual. Ao mesmo tempo, tentei envolver esta “mensagem informativa” com a expressão do sentimento pessoal perante as personagens essenciais individuais e colectivas, recorrendo tanto quanto possível às sublimes metáforas que a própria emoção me sugeria.
O livro consiste em seis blocos de comprimentos diferentes. A primeira é uma “Introdução” (após a “Apresentação” explicativa da coletânea de poemas em geral), com um poema exaltando o processo revolucionário. O segundo é um “Pórtico”, com dois poemas sobre a situação colonial e a opressão dos colonizados e dos próprios portugueses. O terceiro (“Amanecida”) contém seis poemas, dedicados a glosar principalmente as figuras dos militares envolvidos nos conflitos, dos cantores e compositores que se opõem à situação opressiva do poder político, das mulheres envolvidas na luta operária e sindical… O quarto (“Sombras e uma tênue luz esperançosa”), com nove composições, mergulha nos lutadores pela liberdade, pela democracia e pelo desenvolvimento social do país, durante o período essencial da Revolução (1974 a 1976), onde se misturam sonhos e ilusões com as dificuldades e frustrações, o desencanto e a travagem do progresso em matéria socioeconómica: esta é a secção mais emotiva, e seguramente a mais difícil de traduzir, pois está cheia de símbolos, metáforas, hipérboles… A quinta secção (“Amanhecer de novo?”) tem três poemas onde a esperança se retoma, a alegria da solidariedade muda, o compromisso com um mundo melhor, dentro daquilo que foi a luta revolucionária, expressa nos “famosos três D”: Descolonização, Democratização e Desenvolvimento. E, por fim, um poema como “Colofón” apostando num futuro melhor dentro da grandeza e simplicidade de um povo admirável, como é o português.
Cada um dos poemas é ilustrado com duas ou mais fotos de minha autoria (exceto as referentes a “ações de combate”, retiradas de relatos da época), algumas tiradas recentemente (com os principais protagonistas vivos da ação revolucionária) e outras ao longo dos últimos vinte e cinco anos de dedicação ao assunto.
A publicação pretende ser uma homenagem aos protagonistas da mudança histórica em Portugal, agora que entramos nas comemorações do 50º Aniversário da Revolução dos Cravos, que, embora tenha o seu ponto culminante em 2024, começou a tomar forma um ano antes, aqueles cinquenta anos atrás.
Moisés Cayetano Rosado