A mulher que anda de mota
CINEMA – DOCUMENTÁRIO – Cortar pedra, abrir caminhos
Manuela Matos Monteiro, em Melgaço no MDOC
“Cutting Through Rocks” / “Cortar pedra, abrir caminho” é um documentário realizado por um casal de iranianos – Sara Khaki e Mohammadreza Eyni que obteve o Prémio Jean-Loup Passek no MDOC – Festival Internacional de Documentário de Melgaço.
O documentário acontece numa vila rural no noroeste do Irão de onde Eyni é natural o que facilitou as filmagens que duraram seis anos. A protagonista é Sara Shahverdi , de 43 anos, divorciada e não tem filhos. Como parteira acompanhou o nascimento de 400 bebés. É uma mulher reivindicativa, assertiva.
A única mulher que anda de mota na comunidade é eleita com a maioria dos votos para a assembleia o que acontece pela primeira vez na vila.
Para além de alterar padrões viciados de funcionamento político e administrativo, ela desafia regras patriarcais: contesta os casamentos infantis, estabelece a co- propriedade das terras entre as mulheres e as suas famílias, incentiva as raparigas a estudar e ensina-as a andar de mota.
O seu ativismo, a subversão das regras ditadas pela tradição vai provocar uma forte reação por parte sobretudo dos homens que se sentem ameaçados. A tentativa por várias vias de lhe retirar o poder conquistado pelo voto, não lhe retira a determinação.
A narrativa do filme tem componentes que o tornam particular ao cruzar a luta, a tenacidade de Sara com o doméstico, o afetivo e o poético. Quando esta mulher é assaltada pela angústia, pela dúvida, caminha e queda-se junto a duas árvores que plantou com o pai e reflete, falando consigo própria em busca de soluções.
Mostra que tenacidade também rima com vulnerabilidade.


A cena final do filme resume simbolicamente esta demanda em transformar a vida das mulheres subjugadas ao poder da tradição, ao poder patriarcal: raparigas com mães e pais experimentam a alegria de percorrer horizontes tendo por companhia o vento e a liberdade conquistada a pulso.
NOTA: No Sundance 2025, “Cutting Through Rocks” conquistou o World Cinema Grand Jury Prize: Documentary para além de outros prémios em festivais de cinema.
