Ler com Filipe Carmo
Continuando a explorar as ideias e a visão de Peter Turchin
Uma primeira incursão ao Le Chaos qui Vient: Élites, Contre-Élites, et la Voie de la Désintégration Politique foi sugerida aqui no NSF com Filipe Carmo a guiar a leitura através das suas notas e reflexões. Continua-se o exercício, desta feita com maior profundidade, e com alguns resumos e tabelas da nossa autoria [em amarelo] para apoiar o percurso que nos é proposto por Filipe Carmo que já nos habituou a uma abordagem rigorosa e sistemática.
O texto explora o trabalho de Peter Turchin, destacando sua rejeição da ideia de “grandes génios” como motores do progresso histórico, e a sua transição das ciências naturais para o desenvolvimento da Cliodinâmica, campo que integra História, Matemática e Ciências Sociais para modelar e prever crises em sociedades humanas. Aponta, como Turchin previu, a instabilidade nos EUA em 2020, analisando causas estruturais recorrentes como sobreprodução de elites, empobrecimento das massas e falência da autoridade central. O texto discute ainda a importância das ações coletivas, o papel das ideologias, a integração social e o valor da multidisciplinaridade na pesquisa, ressaltando que a Cliodinâmica ainda está em amadurecimento, sendo crucial o debate e a crítica para seu desenvolvimento. CVR- NSF Cood. Editorial
Por Filipe Carmo
PREFÁCIO por Peggy Sastre
Turchin evidencia relutância em atribuir progressos científicos, em particular nas áreas política, social, económica, a génios, homens providenciais. É algo que se aplica a quem usa o seu cérebro exaustivamente para apreender a realidade na sua vasta e durável complexidade.
Os génios são simples sintomas de movimentos claramente estruturais da espécie humana e das suas sociedades. Algo que já se verifica há uma dezena de milhares de anos. Assim, as grandes figuras são apenas o resultado de uma série de contingências e de variáveis nelas imbricadas que ocorreram num local adequado e num bom momento.
Tais indivíduos poderão ter tido uma acção decisiva sobre a evolução das coisas, dos acontecimentos, mas não se terá tratado senão de uma gota de água que fez entornar um recipiente. Ou seja, uma última dedada que levará enfim a que algo que já estava em curso desde há muito tempo tenha então adquirido uma forma que reveste uma muito notável importância na sociedade.
Referências ao passado de Turchin e sua família {em particular o pai (físico, cibernético e pioneiro da inteligência artificial), cuja carreira conduz a perseguição pelo KGB e o leva, com a sua família, a exilar-se e, após algumas peripécias, a conseguir um posto de professor e investigador na Universidade de Colúmbia em Outubro de 1977}. Piotr (que na altura tem 20 anos e altera o seu nome para Peter Turchin) envereda por uma carreira de biólogo teórico (estudando a dinâmica das populações nos insectos e nos mamíferos), mas, em 1997, farto de ter encontrado respostas à maioria das questões que o empurraram para tal via, aproveita as facilidades que encontra na Universidade de Connecticut e muda-se para um novo campo: sai das ciências naturais e entra nas ciências humanas e sociais. E, seis anos depois, acompanhado por colegas que haviam optado pelas ciências da complexidade, cria um novo campo de investigações que combina a História, as ciências da evolução e as matemáticas aplicadas: a então designada Cliodinâmica: uma exploração de dados, cuja quantidade pode chegar aos milhões, para conceber um modelo matemático que viesse a permitir compreender e fazer previsões relativas à trajectória do sistema indubitavelmente mais complexo que existe: uma sociedade humana.
Pessoa | Relação | Profissão/Área | Evento/Realização | Ano |
Pai de Turchin | Pai | Físico, cibernético, pioneiro da inteligência artificial | Perseguição pelo KGB, exílio, professor/investigador na Universidade de Colúmbia | Outubro de 1977 |
Piotr/Peter Turchin | Filho | Biólogo teórico | Estudo da dinâmica das populações em insectos e mamíferos | – |
Peter Turchin | Filho | Cientista social | Mudança para ciências humanas e sociais na Universidade de Connecticut | 1997 |
Peter Turchin e colegas | – | Cientistas da complexidade | Criação da Cliodinâmica, combinação de História, ciências da evolução e matemáticas aplicadas | Seis anos depois de 1997 |
Em termos práticos, um pouco mais tarde, em 2010, num artigo numa revista e aplicando o modelo referido, Turchin utiliza os seus cálculos para mostrar que a sociedade americana iria estar sujeita cerca de 2020 a um pico de instabilidade económica, social e política. Como, mas como, seria isso aceitável para quem segue as realidades deste Mundo Novo que, precisamente em 2010, acreditavam que viviam uma idade de ouro em que não só o progresso tecnológico era evidente como aspectos negativos das realidades políticas e sociais – como as existentes com tiranias e fontes de discórdia nos domínios raciais e sexuais – estavam em curso de desaparecer do quotidiano. O que, como primeiro opinava Luther King e mais recentemente Obama, sendo o arco do universo moral bastante longo, ele tendia de modo resoluto para a justiça.
Quando se chegou a 2020, na América, não foi possível ignorar o conjunto de ocorrências que determinaram uma clara instabilidade económica, social e política. Instabilidade essa em concordância com o que haviam calculado os “cliodinamistas” (termo que eu prefiro a cliodinâmicos). Foi de facto um ano caótico em que se destacam acontecimentos violentos (derivados do Covid-19 – oposição às vacinas e aos confinamentos –, confrontos entre antifascistas e extremistas de direita e partidários de Trump a invadir o Capitólio já no início de 2021). Tudo isto de características algo superficiais; no entanto, se tentarmos avaliar em termos de profundidade (situação em que tendemos a ver indefinição, confusão), as causas da crise não deixam de se parecer com todas aquelas com que se defrontaram as sociedades humanas desde que é possível estudá-las. Tal como faz Turchin com os seus estudos (incidentes sobre o período iniciado há 10 mil anos e muito em particular a última metade desse período, a das “ultra-sociedades” em que já existem Estados), em que dá relevo particular aos colapsos ou meros abalos estatais iniciados com a Saint-Barthélemy (1572), a Revolução francesa (desencadeada em 1789), a revolta dos Taiping na China (1851-64) e a guerra de Secessão americana (1861-65).
E Turchin acrescenta que todos esses colapsos ou abalos são precedidos de um mesmo cocktail de causas estruturais:
Conflitos entre poderosos oriundos de uma sobreprodução de elites
Descontentamento das massas provocado por um empobrecimento das classes populares
Falência da autoridade central causada pela sua frágil saúde fiscal e um sistema profundamente injusto de extracção de riqueza que deixa (quase) toda a gente à beira de um ataque de nervos, incitando os mais revoltados – cada vez mais numerosos – a querer cortar cabeças, dando livre curso a essa tão peculiar propensão humana que é a busca de desculpas para odiar.
Tais causas constituem factores que tendem a provocar o caos, situação em que às elites que controlam o poder político tendem a opor-se contra-elites, grupos de indivíduos em geral provenientes de etnias ou classes sociais diferentes das que detêm o dito poder. Tais elites procuram naturalmente influenciar as massas populacionais que se sentem crescentemente desprovidas de controlo sobre as condições do seu quotidiano e vêem com bons olhos esforços no sentido de derrubar o poder instalado. E é com a percepção dessa realidade e tendo presente a perspectiva enunciada por um autor americano –”Politics is the gentle art of getting votes from the poor and campaign funds from the rich, by promising to protect each from the other” (Oscar Ameringer, que viveu de 1870 a 1943) – que Turchin parece ir trabalhar no livro Le Chaos qui Vient: Élites, Contre-Élites, et la Voie de la Désintégration Politique.
Fator | Descrição |
Conflitos entre poderosos | Sobreprodução de elites |
Descontentamento das massas | Empobrecimento das classes populares |
Falência da autoridade central | Frágil saúde fiscal e sistema injusto de extracção de riqueza |
Caos | Elites opõem-se a contra-elites de etnias ou classes sociais diferentes |
Influência sobre massas | Elites procuram influenciar massas desprovidas de controlo |
Citação | Politics is the gentle art of getting votes from the poor and campaign funds from the rich, by promising to protect each from the other (Oscar Ameringer, 1870-1943) |
Livro | Le Chaos qui Vient: Élites, Contre-Élites, et la Voie de la Désintégration Politique |
Entrevista a Turchin por Peggy Sastre (primeira parte)
A França menos avançada na via do caos que os EUA
A resistência que o Estado opôs aos Gilets Jaunes só foi possível porque não havia contra-elites bem organizadas e dispostas a derrubar o poder.
Havendo manifestação de estranheza devido ao facto de em França não ter havido interesse em conhecer, seguir, os trabalhos no domínio científico em que Turchin se notabiliza, o autor pensa ser possível que a razão esteja associada ao facto de o país ter tido uma grande escola histórica como a dos Annales. Ou então porque os historiadores e investigadores franceses em ciências sociais não gostam de comunicar em inglês.
Sabendo-se que, em princípio, o facto de não ter nascido nos EUA terá dado a Turchin alguma vantagem para poder compreender o estado em que se encontra esse país, o autor recorre a ideias que ocorrem na ficção científica para se poder avançar nos estudos da dinâmica das civilizações humanas. É que, para estudiosos que se encontrem longe da Terra, existe a possibilidade de estarem em condições de propor e testar empiricamente, sem paixão e sem se preocuparem de detalhes como o politicamente correcto, teorias sobre as sociedades humanas. E isso é essencial porque os preconceitos ideológicos nos impedem de chegar à verdade; tudo isso devido a que é necessário compreender à partida as causas profundas dos problemas que se quer resolver. Para isso é essencial começar por uma compreensão desprovida de paixão e, a seguir, perceber como nos devemos servir dessa compreensão para melhorar a vida para a maioria dos humanos. Turchin terá decidido contribuir sobretudo para a primeira etapa e daí procurar adoptar não só uma atitude política tão neutra quanto possível, ficando também satisfeito por não ter vivido mais jovem nos EUA, o que lhe terá permitido não ter subscrito os preconceitos culturais americanos sem se aperceber disso.
Confrontado com a possibilidade de os indivíduos virem a ser influenciados com a possibilidade de as suas investigações os perturbarem no sentido de ficarem conscientes de que contam muito pouco (tornando-se meros joguetes de forças impessoais), Turchin refere o desejo de muitos leitores de saber mais sobre a nossa sociabilidade única e sobre a maneira como os humanos desenvolveram a capacidade de cooperarem no seio de imensos grupos de indivíduos geneticamente não aparentados. Face a tal desejo, ele sugere a leitura do seu livro Ultrasociety. O facto é que os humanos são seres intensamente sociais (e não meros “átomos sociais”, indivíduos isolados), o que significa que nós realizamos o nosso pleno potencial ao colaborar em grupo. E, para sair de uma crise, será necessária uma acção concertada por parte de grupos que cooperem sob a direcção de líderes pró-sociais. Assim, cada um de nós pode envidar esforços no sentido de uma mudança positiva ao juntar-se a, ou mesmo dirigir, um movimento social.
Resumo da apresentação do livro Ultrasociety
As ideias centrais de Turchin sobre cooperação humana
Turchin destaca, na apresentação do livro Ultrasociety, que a humanidade se distingue pela sua intensa sociabilidade, sendo capaz de formar grandes grupos de cooperação entre indivíduos não aparentados geneticamente. Segundo o autor, a nossa capacidade de colaborar em larga escala revela que realizamos o nosso verdadeiro potencial enquanto grupo, e não como entidades isoladas.
Para enfrentar crises profundas, Turchin argumenta que é necessária uma ação concertada, liderada por grupos e líderes pró-sociais, reforçando que as mudanças positivas dependem da mobilização coletiva. Esta visão contrasta com a ideia do indivíduo isolado, insistindo que a cultura e a integração social são essenciais para o pleno desenvolvimento humano.
Assim, Ultrasociety propõe que compreender a dinâmica social e agir de forma colaborativa são caminhos fundamentais para superar desafios e promover o bem-estar da maioria.
Confrontado ainda, face à importância que atribui à acção organizada, com uma possível desvalorização das ideologias, Turchin explicita que há boas e más ideologias, considerando que, em particular e por exemplo, o darwinismo social dos anos 1900 é uma má ideologia. E esclarece a sua posição afirmando que o conhecimento do conteúdo das ideologias professadas por diversos grupos revolucionários não constitui uma linha útil a seguir para compreender as suas acções e o seu sucesso final. Será que tais grupos acreditam, de modo sincero, nos maravilhosos slogans que avançam? Ou então o conteúdo de tais ideologias é bastante maleável e pode ser alterado de um momento para o outro.
E Turchin, que diz desenvolver tais questões mais à frente no seu livro, dá como exemplo o slogan dos bolcheviques quando chegam ao poder (“a terra aos camponeses!”), o que é seguido, dez anos mais tarde, pela colectivização forçada, e que equivaleu, de facto, a um regresso à servidão…
Turchin refere também que existem indivíduos livres, no sentido de não se filiarem em nenhum grupo (o que deverá equivaler a “nenhum partido”), mas acha que eles não são verdadeiramente humanos. Tal como os Mowgli (tal como foram designadas crianças selvagens descritas em livros publicados por um autor no final do século XIX), que eram criaturas completamente patéticas. É que, para ser plenamente humano, é preciso crescer na sociedade, ou seja, ser “aculturado”. A cultura é muito importante, pelo menos tanto como os genes.
Para o autor, todas as eras caóticas são precedidas de uma sucessão de conflitos entre elites e a situação que actualmente vivemos não é excepção. E será aparentemente positivo que em vez de soluções para tais conflitos caracterizados sistematicamente, como em casos conhecidos do passado, por mortes de um lado e de outro – sejam elas causadas por assassinatos ou por duelos (tenhamos presente a história dos Três Mosqueteiros) ou ainda sangrentos tumultos citadinos (por exemplo, o que se passou com os irmãos Gracos na Roma Antiga) –, tenham passado a ocorrer meros assassinatos de reputação.
Entrevista a Turchin por Peggy Sastre (segunda parte)
Referindo-se ao excesso populacional[1], Turchin considera que era muito mais importante no decurso do período pré-industrial[2]. Considera, por outro lado, que o despovoamento, com alguma frequência a consequência de uma crise nos Estados agrários, conduzia à reinicialização do ciclo económico, diminuindo a oferta de mão-de-obra e aumentando os salários dos trabalhadores. Daí o impacto negativo sobre o sistema de acumulação de riquezas (e logo a diminuição das desigualdades), “reequilibrando” as sociedades históricas e permitindo-lhes entrar num período de integração (caracterizado pelo bem-estar crescente da maioria populacional, pela paz interna e uma maior ordem).
Colocado perante a realidade de a civilização industrial ter conduzido ao crescimento económico e tornado menos explosivo o cocktail da acumulação de riquezas, diminuído também as desigualdades e o empobrecimento das classes populares, Turchin admite que o carácter sustentado do crescimento económico tenha mudado a natureza do “jogo”, passando de uma soma nula a uma soma positiva, o que, em teoria, deveria permitir a cada geração de viver melhor que a dos seus pais.[3]
Confrontado com a hipótese de a Cliodinâmica se estar a revelar como uma boa plataforma entre a História, as Matemáticas, a Sociologia, as Ciências da Evolução, a Cibernética e não só, Turchin considera que, hoje em dia, a quase totalidade da investigação de ponta é multidisciplinar (as diferentes disciplinas a trabalharem lado a lado, mas cada uma a manter o seu próprio método e perspectiva) ou mesmo transdisciplinar (as disciplinas cruzam-se e integram-se de forma profunda, criando novas abordagens ou mesmo novos conhecimentos que não pertencem a uma única disciplina) e que as barreiras académicas constituem um obstáculo que é necessário superar.
Por outro lado, numa hipótese pessimista de um colapso estatal em que nos poderemos encontrar, com a Cliodinâmica a defrontar-se com problemas de acesso a recursos e logística, Turchin considera que a sua última preocupação será a de poder aceder a um grande volume de dados.
A opinião de Turchin sobre o lugar dos cientistas na estrutura social, em particular no respeitante ao seu poder como elite política, é de que isso depende bastante do país em que se encontram. Se por exemplo estiverem em França, alguns Professores, nomeadamente os que estão ligados a grandes instituições, fazem de facto parte da elite e têm poder político (o caso exemplar de Bernard-Henri Lévy, com um grande poder ideológico). Nos Estados Unidos tudo se passa de um outro modo: o único meio para um Professor de fazer parte da elite dirigente é o de ser eleito para uma posição de nível político (exemplos: Woodrow Wilson e Henry Kissinger) ou de ser cronista no New York Times (o exemplo de Paul Krugman).
Para Turchin, a Cliodinâmica está ainda longe de constituir uma “disciplina amadurecida”. Daí, e não só, que críticas de fundo sobre as ideias desenvolvidas sejam bem-vindas, e que um debate sobre as nossas abordagens genéricas, os nossos dados e os nossos modelos, seja algo bastante útil. O facto é que, sendo sua inquietação, quando escreveu o Le Chaos qui Vient, que o livro fosse ignorado, isso felizmente não se verificou. Assim, noções como o excesso de produção de elites e o crescimento das desigualdades derivado do sistema de acumulação de riquezas têm vindo a ser cada vez mais discutidas na infoesfera.
Na altura em que foi entrevistado, Turchin precisou que era então sua prioridade a elaboração e análise de uma base de dados relativa a sociedades passadas que tinham atravessado crises e que as tinham superado. Além de facilitar a compreensão das eras caóticas históricas, essa diligência permitiu também a elaboração de modelos de previsão semelhantes a outro que foi utilizado em 2010 para poder prever as turbulências dos anos 2020 nos EUA. Hoje está-se em vias de desenvolver uma tal abordagem para a aplicar a dez Estados contemporâneos (entre eles a França), para tentar saber como será a próxima década para cada um deles. O que representa um trabalho monumental, dado que cada modelo específico para um país deve ser adaptado à organização social que corresponde ao Estado em causa. Sendo bastante difícil, por outro lado, obter alguns dos dados que são necessários (porque não são recolhidos pelos governos e ainda menos reunidos num mesmo local para poderem ser facilmente transferíveis), não é por isso que o trabalho não continua…
CONCLUSÃO
Em suma, as reflexões de Turchin revelam que a compreensão profunda dos ciclos sociais e políticos exige não apenas rigor científico, mas também uma abertura ao diálogo multidisciplinar e ao questionamento das ideologias dominantes. A análise das dinâmicas entre elites, massas e estruturas institucionais mostra que o caminho para superar crises reside na capacidade de criar movimentos coletivos e lideranças pró-sociais capazes de promover mudanças estruturais. Ao mesmo tempo, Turchin defende que o estudo imparcial, livre de paixões e preconceitos, é fundamental para desvendar as causas profundas das convulsões sociais e, assim, abrir caminho para soluções duradouras. A colaboração, a cultura e a mobilização coletiva emergem como pilares essenciais para a construção de sociedades mais equilibradas e resilientes diante dos desafios do presente e do futuro.

Filipe Carmo
[1] Tema também abordado como “pressão malthusiana sobre os recursos”, que Turchin desenvolve num seu livro anterior que incide bastante sobre os Estados agrários: War and Peace and War.
[2] O que é certamente discutível, dada sobretudo a relevância que os grandes números (embora não só, quando se sabe que os gastos dos bilionários e de outras categorias de grandes consumidores têm também grande importância) têm actualmente no impacto incidente sobre os recursos naturais do planeta e, portanto, sobre os problemas ambientais. Convém observar que o termo “bilionário” (tradução de “billionaire”), que irá ser utilizado com frequência nesta tradução do livro de Turchin, referir-se-á a quem detém riquezas de um valor mínimo de mil milhões de dólares (tal como no original em inglês). Isso porque não parece haver utilização na língua portuguesa de um termo específico para uma correcta tradução do dito termo da língua inglesa (o termo “bilionário” em português refere-se a valores de “milhões de milhões”, ou seja, a partir de 1012, e não de 109, sem que sejam atingidos valores de “triliões”).
[3] Embora, para que se mantenha uma constância no bem-estar, será necessário fazer recuar a realidade do crescimento das desigualdades. Mas não houve neste enquadramento referência ao problema dos excessos populacionais nos países industrializados (ou, pelo menos, nos mais desenvolvidos economicamente). Além de que o que se verifica actualmente, pelo menos em países como o nosso – Portugal – é que as novas gerações vivem bastante pior que os seus pais.