Para onde caminha o Bloco de Esquerda?
A responsabilidade da situação do Bloco
por Mário Tomé, in Facebook
Tenho visto muitos camaradas escandalizados com a imagem. Ela apenas representa simbolicamente a entrega da cabeça da coordenadora – evocando uma história bíblica de Herodes, Salomé e João Baptista – para limpar os mandadores da responsabilidade da situação do Bloco. Esta evocação simbólica é importante e adequada. Todos sabemos que a responsabilidade da situação do Bloco é:
Em primeiro lugar do colectivo dos seus militantes que se demitiram de criticar consequentemente a direcção e de gerarem ou apoiarem alternativas que lhes foram apresentadas ao longo do tempo nas várias convenções.
É em seguida dos fundadores/afundadores que contando com a atitude contemplativa da militância, de que abusaram com o prestígio ganho enquanto fundadores e primeiros deputados do Bloco, orientaram os aderentes para aceitarem o Parlamento como centro da actividade política dissuadindo a formação de núcleos e até condenando e atacando a sua formação a camaradas que se batiam consequentemente por isso na justa perspectiva de que é aí que se constrói e aprofunda a relação do partido com o povo. Os resultados conseguidos incluindo a Geringonça, foram gerando a disputa pelo poder entre tendências que são uma excrescência no pensamento revolucionário que deu origem ao Bloco substituindo a militância (até passaram a chamar-lhe adesão -ou aderência?) pela disputa cristalizada do poder, em vez de estimularem a luta pelo poder do povo e dos trabalhadores. Para tal o Bloco assentou a sua organização nos funcionários e na burocracia.
O funcionamento da Geringonça gerou a adequação à solução de poder com o PS (a Mariana convencida a dizer enfaticamente da Tribuna da Convenção de 2017: “vamos pró governo “ e essa ilusão transcorreu para o próprio eleitorado que quando o Bloco com razão chumbou orçamento do PS o penalizou brutalmente, só faltando chamar-lhe traidor!
O Bloco, os seus “afundadores” e logo a sua direcção passaram a pensar a política, quer nacional quer internacionalmente, contra a estratégia revolucionária que o fez nascer, logo adoptando tácticas ad hoc. O que interessava passou a ser estar à tona, manter a hipótese de alianças com o PS – que também já nem PS é: a bóia furou.
Do ponto de vista da geopolítica, mantendo o slogan contra a NATO, em tempo de guerra na Europa adequou-se à estratégia dos EUA primeiro, depois à da UE e completa cedência ao armamento- primeiro votou depois foi a correr abster-se- e já só quando não tinha outra hipótese passou a clamar pela paz mas…
Isto tudo quando nasceu para estar na primeira linha da luta contra o capital e contra a guerra.
A direcção do Bloco está a chapinhar na lama do oportunismo e muito dificilmente dela se escapará porque para além da quebra da sua alma política quebrou também eticamente, pela forma como tratou alguns dos melhores camaradas para pop o poder sectário, gerando ainda um espírito clubista de defesa da camisola e não da justeza politica.
Isto para saudar o Pedro Soares pelo seu “desplante” que parece ter perturbado alguns camaradas.
O pensamento crítico jamais se pode curvar a preconceitos “evangélicos”.
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