AMBIENTE E ECONOMIA | DOSSIÊ – Anexos
ANEXO sobre populações
As estimativas para a população mundial em 1800 apontam para cerca de mil milhões. De acordo com o quadro que a seguir se apresenta, essa população já era, em 1960, de cerca do triplo. E desde então o forte crescimento continuou e essa população já atingia cerca de 7,8 mil milhões em 2020.
Quadro estabelecido (populações) a partir de dados de United Nations Population Division
(“World Population Prospects: 2019 Revision”: e (áreas) de páginas da Wikipedia (em inglês)
O Quadro mostra que a China e a Índia são os dois países que, de longe, têm mais população, verificando-se ainda que a Índia está em vias de ultrapassar a China, vindo provavelmente a tornar-se em breve o país mais populoso do planeta. Na base de tal situação está sobretudo a elevada densidade populacional desse país em 2020 (uma média de 420 habitantes por km2), valor que só é aproximado pelo Japão (333/km2), o qual, contudo, face a uma área bastante inferior, se encontra bastante longe em termos de total populacional.
O critério que esteve por detrás da elaboração do quadro acima não é contudo o de comparar populações dos diferentes países, mas sim o de o fazer para grandes áreas do planeta e que levou, relativamente às rubricas que são apresentadas e que não se limitam a um único país, a só incluir nelas países cujos totais populacionais em 2020 ultrapassam os 50 milhões de habitantes. Foi o caso de “Outros Ásia”, rubrica em que só se inclui o Bangladesh, o Irão, a Coreia do Sul, o Myanmar, o Paquistão, a Tailândia, a Turquia e o Vietnam. Mas também de “África” (apenas República Democrática do Congo, Egipto, Etiópia, Quénia, Nigéria, Tanzânia e África do Sul), de “América Latina” (Brasil, Colômbia e México) e de “Europa” (Alemanha, França, Reino Unido e Itália). No respeitante à rubrica “Restantes países”, ela inclui em consequência todos os países que não constam especificamente do Quadro ou os que não estão incluídos nas rubricas acabadas de referir.
Como se pode ver no gráfico que se segue, em termos de percentagem do total mundial os países ou rubricas que mais contam são a China, a Índia e a “Restantes países”, verificando-se ainda que a “Outros Ásia” e a “África” se têm vindo progressivamente a destacar dos restantes espaços geográficos. Por outro lado, de entre os países ou rubricas ainda não referidos, verifica-se que Estados Unidos, “Europa”, Rússia e Japão têm vindo a perder importância relativa, enquanto “Indonésia e Filipinas” e “América Latina” têm subido ligeiramente em tal perspectiva (no último caso, contudo, mais avançado no sentido da estabilização).
Gráfico construído a partir de dados incluídos no Quadro acima
O segundo gráfico que se apresenta dá-nos indicações sobre o crescimento anual em cada década, permitindo inferir, mais claramente que o faz os dados do Quadro, uma tendência quase genérica para uma estabilização demográfica. A grande excepção é a rubrica “África”, onde o ritmo de crescimento se tem mantido a níveis muito próximos desde 1960. Por outro lado, a evolução que nos é facultada não permite esperar que o desenvolvimento demográfico se oriente já na década 2020/2030 no sentido de uma completa estabilização (e muito menos de decrescimento). De facto, apenas o Japão e a Rússia apresentam nas últimas décadas elementos de decrescimento ou de estabilização, enquanto áreas como os Estados Unidos e a “Europa”, onde os baixos índices de fecundidade conhecidos poderiam conduzir a decrescimento, veem tal tendência a ser contrariada por níveis de imigração elevados. No concernente à rubrica “Restantes países”, que no período 2010/2020 apresenta a segunda taxa de crescimento mais elevada, ela surge (ver também gráfico anterior) com valores superiores à China (e naturalmente também à Índia) em termos de total populacional a partir de 1990. Dado o valor extremamente elevado dessa rubrica, considerou-se conveniente dar uma ideia mais precisa dos valores relativos aos países que nela estão incluídos, o que se faz através do quadro que é apresentado mais à frente, embora apresentando unicamente dados para os países com totais populacionais superiores, em 2020, a 25 milhões e inferiores a 50 milhões. Assim, se aos “Restantes países” fossem subtraídos os 911,4 milhões relativos aos países incluídos no referido quadro, essa rubrica atingiria apenas 893,9 milhões de habitantes em 2020, o que a colocaria num patamar mais baixo (11,5% do total planetário em 2020) que a China e a Índia.
Gráfico construído a partir de dados incluídos no Quadro acima
Uma questão pertinente que se coloca sobre a dimensão da população do planeta é a da sua evolução nos próximos tempos, com particular destaque para o horizonte que se estende até 2100. De acordo com as projecções feitas pelas Nações Unidas (que são actualizadas de dois em dois anos) o total populacional continuaria a crescer até 2100, atingindo então 10,8 mil milhões. Esse crescimento contínuo explicar-se-ia em função do que se poderá esperar dos factores “mortalidade”, “fecundidade” e “migrações”, dada a evolução que se tem verificado nos correspondentes indicadores nas últimas décadas. É um pressuposto que poderá ser posto em causa, como acontece por exemplo com um estudo efectuado por investigadores do Institute for Health Metrics and Evaluation (IHME), órgão integrado na Universidade do Estado de Washington, em Seattle[1]. Antecipando uma baixa global do número de nascimentos por mulher, devido a um melhor acesso aos meios de contracepção e a um nível de instrução mais elevado, esses investigadores colocam o pico da população mundial bastante antes, em 2064, com 9,7 mil milhões de habitantes, prevendo a seguir um declínio que faria descer esse total a 8,8 mil milhões em 2100. Essa evolução estaria influenciada por certas políticas adoptadas pelos Estados, em particular em matéria de educação e de saúde, as quais iriam influenciar não só a fecundidade mas também as migrações.
De acordo com o modelo do IHME, 183 dos 195 países que foram estudados viriam a registar um número de nascimentos por mulher inferior a 2,1, abaixo portanto do nível de substituição, com a taxa de fecundidade mundial a passar de 2,37 em 2017 para 1,66 em 2100. Assim, apenas três regiões do planeta (África subsariana, África do Norte e Médio Oriente) veriam a sua população aumentar relativamente ao presente, enquanto em 23 países as suas populações diminuiriam para metade (em particular, o Japão, a Tailândia, a Itália, a Espanha, Portugal e a China). Por outro lado, o estudo do IHME prevê que os valores populacionais para alguns países (entre os quais a França e o Reino Unido) se manteriam, o que seria devido a uma fecundidade próxima do nível de substituição e a um saldo migratório positivo.[2]
Lisboa, 5 de Janeiro de 2022
Filipe do Carmo
[1] Conforme exposto num artigo publicado no Le Monde de 16 de Julho de 2020, página 7, intitulado “La population pourrait décroître avant 2100”.
[2] Ver também sobre estas questões o artigo acabado de citar. Dever-se-á ter em atenção que algumas das hipóteses admitidas são extremamente ousadas, nomeadamente no que respeita aos destinos das migrações. Considerar que os modelos migratórios actuais (tanto no que respeita a destinos como a outros factores) se vão manter durante um período de 80 anos poderá conduzir a erros enormes de previsão.