Um labirinto no qual valerá a pena perder-se com o autor
Esta quinta-feira, dia 11 de novembro, pelas 17H30, vai ser apresentado o livro «NO LABIRINTO DE OUTUBRO CEM ANOS DE REVOLUÇÃO E DISSIDÊNCIA» na Livraria Almedina / Atrium Saldanha. As intervenções de enquadramento da obra estarão a cargo de Paula Godinho (antropóloga e professora universitária), de Porfírio Silva (investigador de filosofia das ciências e deputado) e do próprio autor deste ensaio histórico sobre o longo impacto da Revolução Russa de 1917 saído nas Edições 70.
Título: No Labirinto de Outubro. Cem Anos de Revolução e Dissidência. Edições 70, 2020, 360 págs.
Autor: Rui Bebiano
No Labirinto de Outubro aborda o impacto e a crítica, bem como o eco histórico e simbólico, que Revolução Russa de 1917 foi produzindo nos cem anos que se lhe seguiram. Ensaia uma observação das diferentes representações daquele momento histórico, que não se limitou a produzir um modelo de sociedade ou um novo paradigma político, libertando igualmente futuros hipotéticos e plausíveis, abrindo caminho a diferentes experiências, associadas, entre avanços e recuos, a um século de transformação progressista da humanidade. O livro procura também encarar o modo como uma multiplicidade de lutas e de vivências coletivas, de algum modo herdeiras da Revolução de Outubro, correspondeu à infinita demanda humana, mobilizadora da mudança, por uma sociedade mais justa e igualitária.
Rui Bebiano Coimbra, Portugal | Professor do Departamento de História, Estudo Europeus, Arqueologia e Artes da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra | Investigador do Centro de Estudos SociaisDiretor do Centro de Documentação 25 de Abril
Concebido como um ensaio de história das ideias, este livro observa de forma crítica e documentada as representações da Revolução Russa de 1917 produzidas com a afirmação ou a contestação do modelo de construção do socialismo que se tornou dominante na União Soviética a partir do final da década de 1920, bem como as alternativas que lhe foram sendo propostas. O plano seguido parecerá arrojado, dada a amplitude cronológica e a grande diversidade de temas considerados, mas o objetivo é justamente produzir uma síntese interpretativa que justamente examine a diversidade, a incerteza, a dúvida e a procura de possibilidades onde tantas vezes se viu a aparente segurança de uma perspetiva linear, cumulativa e monolítica, tida como de «ciência certa». Pretende-se sinalizar, ao longo de seis capítulos, a diversidade e a dimensão constantemente problematizante do que, vezes demais, tem sido retratado um itinerário perfeito e previsível.
O primeiro capítulo, «Revolução, paradigma, dissidência», inclui uma reflexão analítica e crítica sobre a história da ideia de revolução e as formas contemporâneas das suas dinâmicas e ritmos. Partindo do modelo nascido da Revolução Francesa, estabelece uma conexão com a especificidade do momento revolucionário que irrompeu na Rússia em outubro de 1917, projetado a partir da influência de Marx e do marxismo. Segue-se uma abordagem dos conceitos de paradigma e dissenso, imprescindíveis para a compreensão do rumo assumido pelo estudo. Refere-se, por fim, o lugar e a intervenção, criadora ou resistente, do intelectual, porta-voz ou criador de novas possibilidades introduzidas no campo revolucionário, ao mesmo tempo que seu potencial fator de superação.
O segundo, «A construção do Outubro Vermelho», ocupa-se mais objetivamente da Revolução Russa, da sua história e da sua interpretação, das leituras do seu processo de construção e de desenvolvimento, sempre plural e jamais linear, aproximando-se o percurso revolucionário do trajeto de definição política da intervenção bolchevique. Abordará o contributo prático e teórico de Lenine e daquilo a que, após o seu desaparecimento, viria a ser chamado leninismo. Tratará também da composição inicial de um «paradigma de Outubro», cujos construtores e continuadores projetaram, a partir da interpretação de um percurso vencedor, a noção de que o modelo produzido se definiu como expressão de uma inevitabilidade histórica.
O terceiro capítulo, «Edificação, violência, centralismo», segue ao encontro de três dos elementos que ajudaram a compor aquele paradigma e possibilitaram a sua imposição: a organização de um sistema de poder e de propaganda que o alimentou dentro da União Soviética e que teve um forte impacto internacional, através da intervenção dos partidos comunistas; o controlo e o exercício da violência dentro de um regime centralista e autoritário, discutindo-se ainda a abordagem da vertigem totalitária a ele associada, com uma digressão pelo carácter problemático e polissémico deste conceito; e a afirmação do lugar proeminente de Estaline e do chamado estalinismo neste processo, associando-os ao sistema repressivo e concentracionário instalado e ampliado.
No quarto, «Os artistas, os intelectuais e a política», refere-se a importância da construção de uma «cultura comunista» autónoma, dotada de longo lastro e com forte dimensão internacional. Em ligação com esta, aborda-se a forma como neste domínio a atividade dos artistas, escritores e intelectuais foi equiparada a uma «engenharia das almas», bem como a organização de uma rede de proximidade de militantes e «companheiros de jornada» que no campo das artes, das letras e do pensamento político ajudaram a consagrar e a ampliar a influência do modelo. Refere-se ainda a forma como dentro deste mesmo campo se desenvolveram percursos e estratégias de crítica ou de resistência em relação à imposição e à indiscutibilidade do modelo dominante.
No quinto capítulo, «Percursos da crítica e da alternativa», acompanham-se itinerários, questionamentos e adaptações do modelo, na perspetiva do caminho para o socialismo como um processo integrador da diversidade. Identificam-se hipóteses politicamente divergentes dentro da União Soviética, ocorridas antes, durante e logo após a viragem de outubro de 1917, bem como experiências desenvolvidas noutros lugares, como os países da Europa do Leste, a China e Cuba. Consideram-se também as alternativas políticas internacionais às experiências de poder centradas no referido paradigma que foram surgindo desde a Revolução até à Queda do Muro de Berlim, e desta à dissolução da União Soviética, incluindo a intervenção inicial de Trotsky e do trotskismo.
Por fim, no sexto capítulo, «Dissidências e novos horizontes», apresentam-se casos exemplares de divergência orgânica e intelectual no campo da esquerda em relação ao paradigma preponderante na leitura, feita principalmente a partir do segundo pós-guerra, do impacto emancipatório da Revolução de Outubro, assim como do refluxo do seu prestígio durante os «longos anos sessenta», primeiro, e depois a seguir a 1989. O capítulo encerra com uma leitura sinóptica e crítica a abordagens temporalmente bastante mais próximas, tendentes a ensaiar novas possibilidades para a afirmação histórica do ideal de revolução e da utopia igualitária que, sendo parcialmente devedoras da viragem de 1917, reconhecem os limites a usá-la atualmente como bússola.
Num curto epílogo destacam-se algumas das ideias centrais contidas no livro, considerando-se ainda o modo como, sem ser como uma mera e repetitiva celebração sacralizadora do passado, o impacto de 1917 e das hipóteses que abriu continua a participar na construção subjetiva da esperança humana na grande hipótese de erguer um mundo mais justo.
Onde adquirir: À venda na maioria das livrarias e nas lojas online. Sendo obra recente, se não existir em stock pode sempre ser encomendada.
Palavras-chave
História, Memória, Comunismo, Socialismo, Revolução