Sobre a beleza, no Mira Fórum
LIVROS – Amadeu Batista apresentou livro de poesia
MUITA LUZ! Notas de Manuela Matos Monteiro
A falta de luz – provocada por uma avaria no cabo subterrâneo de Miraflor – foi remediada por um candeeiro caseiro alimentado por uma puxada de luz vizinha. Assim, foi possível realizar a sessão de lançamento do livro “Sobre a Beleza” de Amadeu Baptista no MIRA FORUM.
José Ribeiro das Edições Afrontamento fez a intervenção inicial do livro que é, também, graficamente excelente.Fotos © Mira Fórum
Ultrapassámos a necessidade dos focos, dos microfones e da projeção porque, afinal, tínhamos o essencial: um público interessado, a poesia intensa, intervenções lúcidas e inspiradas sobre a obra, a fala do poeta a situar o livro na sua história de vida, a leitura justa de poemas por dois intervenientes e a poesia que foi celebrada. Concluímos que tivemos o que é preciso para uma noite cheia de luz a celebrar um longo poema de 63 páginas iniciado quando o poeta foi internado em 2022. Nele, confrontamo-nos com o que de mais humano define o ser humano: a consciência da sua vulnerabilidade e efemeridade e o sentimento da beleza.
- Começa assim:
- ontem estava bem, hoje nem por isso.
- será porque troquei a boa pressa
- dos meus passos e agora, na sexta idade,
- já não posso dizer a serena graça
- do teu nome sem que as lágrimas
- alaguem o meu rosto? será porque deixei
- de sentir a tua mão na minha e o precipício
- onde me encontro fica neste caminho
- onde tudo é escuro e faz de mim um estrangeiro
- a quem as marcas da discórdia ameaçam?
- em que lugar de luz ouvi a cotovia
- para que agora escute apenas o obscuro corvo
(…)
NOTA IMPORTANTE
De registar a qualidade do livro objeto das Edições Afrontamento : capa interior e exterior caladas, ajustadas, design gráfico elegante, papel e impressão escorreita a respeitar a beleza das 21 fotografias do Alfredo Cunha. Uma edição que pode deixar a editora e os autores orgulhosos.
Fotografias de Alfredo Cunha
Este longo poema foi inicialmente esboçado pelo autor aquando do seu internamento, em Janeiro de 2022, no Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia-Espinho, na sequência de um AVC. Testemunho do vivido e do lembrado, o que se dá a ler e desoculta nestes versos é a capacidade de resistência e de espanto que numa situação limite foi, ainda assim, possível encontrar em quem preserva todas as suas interrogações sobre as múltiplas encruzilhadas do destino, bem como a sua capacidade de sonho e de alvoroço, pese embora as contingências com que foi confrontado na permanente surpresa de estar vivo. O poema vai acompanhado de umas quantas fotografias de Alfredo Cunha que, mais do que ilustrarem a sequência poemática, harmonizam o que, sendo finito, afinal perdura em cada um de nós, como busca, interpelação e desassombro perante o mistério que a nossa inocência erige e estabelece.
Sinopse, Edições Afrontamento