5 de Dezembro, 2024

OPINIÃO – À procura de mais elementos sobre os silêncios e as versões sobre o novembro controverso

NSF – Carlos Valentim Ribeiro

INSERIDO NO DOSSIER O 25 DE NOVEMBRO E O EFEITO RASHOMON

O ponto de partida desta iniciativa é a página 392 do livro de Irene Pimentel Do 25 de Abril de 1974 ao 25 de novembro de 1975 – Episódios menos conhecidos. Nela a autora e historiadora recupera uma referência central do cinema japonês, o filme de Akiro Kurosawa Rashomon [1950], e mobiliza a expressão “efeito Rashodom” para introduzir as diversas versões dos acontecimentos e dos objetivos do 25 de novembro. 

Como a própria autora adianta “ [Rashodom] passou a caraterizar a incapacidade de se chegar a uma verdade única sobre um evento devido aos testemunhos em conflito motivado pelos egos individuais. As opiniões sobre o que se passou em 25 de novembro de 1975 dividem-se consoante o lugar no expetro político em que são expressas”. 

Assim, face ao 25 de novembro, estamos perante o desafio de lidar com as diversas fontes e respetivas versões tendo em conta várias perspetivas, admitindo que uma “verdade única e objetiva” nunca será atingida. 

Kurozawa coloca em cena quatro testemunhos de um crime, com versões contraditórias. Mas tudo indica que os acontecimentos do filme em si sejam pouco relevantes e que a dimensão simbólica da “verdade sobre os acontecimentos” adquira maior importância quando se trata, no plano das intenções, de questionar a versão oficial da participação dos japoneses na Segunda Guerra Mundial. 

O exercício roshomoniano afinal pode ter a finalidade de afirmar a impossibilidade da verdade única para interpelar a versão única ou dominante.  

Assim estaríamos, no domínio da psicologia, num terreno similar ao da injunção paradoxal ou no campo da política, ao da famigerada TINA que Margaret Tacher impôs aos britânicos durante os seus mandatos. 

Talvez, olhando para o futuro, aquele que seguiu ao período do 25 de novembro e aquele que ainda virá, poderemos ir mais longe neste campo de pesquisa e reflexão que poderá servir, não principalmente para ajustar contas com o passado, mas sobretudo encontrar novos elementos para enfrentar os desafios da conjuntura política nacional e internacional. 

O 25 de novembro PCID [PSD, Chega, Iniciativa Liberal e CDS] já teve uma resposta clara de Vasco Lourenço e de muitos outros defensores do 25 de Abril. Mas uma coisa é certa não se trata de comemorações populares. São tentativas de adulterar a História como escreveu Pacheco Pereira no Público. 

VÍDEO – Akiro Kurosawa

Carlos V. Ribeiro

Editor

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