11 de Julho, 2025
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Judeus radicais e os seus aliados não estão interessados em qualquer solução que envolva a criação de um Estado palestiniano

OPINIÃO por Francisco Melro

Não adivinho o que se seguirá. Mas, para já, o que salta à vista é a enorme fragilidade do Irão perante o anunciado e até datado ataque destruidor de Israel.

Os Estados Unidos tinham, nos últimos dias, retirado, por razões de segurança, com anúncio público, o seu pessoal civil das bases militares da região e os preços do petróleo tinham subido, na antevisão de um ataque iminente israelita. Mas, mesmo assim, cerca de 200 aviões israelitas, com eventual apoio de agentes infiltrados em território iraniano, atacaram, destruíram equipamentos e instalações, assassinaram dirigentes e cientistas iranianos, sem notícias de qualquer dano significativo destas forças agressoras. Muitas horas depois, os aviões israelitas continuaram a bombardear e o território israelita continuou ileso.

Tudo indica que o ataque coordenado dos israelitas destruiu, cegou, neutralizou ou descoordenou os sistemas de defesa iranianos, permitindo-lhe agir livremente sem qualquer resistência. Está por aparecer a sempre temida capacidade destruidora iraniana. Veremos o que se segue.

Netanyahu só desferiu este ataque porque beneficiou da cumplicidade dos Estados Unidos, que lhe garantiu cobertura segura e que intervirá em força na sua defesa contra uma esperada retaliação iraniana. Há, no entanto, dúvidas fundadas de que este ataque tenha sido desejado, inspirado ou incentivado pelos americanos.

Trump estava empenhado numa negociação com o Irão, que fica comprometida por esta agressão israelita, e tem vindo a empreender negociações com os dirigentes árabes. Estas negociações em nada beneficiam com a instalação de um estado de guerra na região. Parece-me frágil a versão de que o ataque foi coordenado com Trump para forçar os iranianos a cederem nas negociações com os americanos, ainda que esta fragilização do regime iraniano possa acabar por forçá-lo a resignar-se às propostas de Trump.

De resto, não seria a primeira vez que Netanyahu agiria cirurgicamente para sabotar negociações tendentes ao estabelecimento de um ambiente de paz regional. Diversos analistas já tinham avançado com um fundamento similar aquando dos incidentes que precederam a invasão de Gaza. Nessa versão, ter-se-á verificado uma actuação cúmplice entre os dirigentes dos movimentos radicais palestinianos que atacaram os colonatos israelitas e os radicais israelitas, que “fecharam os olhos” aos preparativos desse ataque, com a finalidade e sabotarem as negociações, então em curso, entre dirigentes árabes e americanos. Negociava-se então um acordo de paz, em torno de uma solução, não desejada pelos elementos radicais, de reconhecimento de dois Estados.

Netanyahu e os judeus radicais seus aliados não estão interessados em qualquer solução que envolva a criação de um Estado palestiniano. Prosseguem um plano de ocupação e domínio de todo o território da Palestina, aproveitando cada pretexto e consequente conflito para alargarem o seu domínio territorial, quer na Palestina quer nos países vizinhos, do Líbano e da Síria, rumo ao sonho do Grande Israel. O ataque ao Irão também serve para desviar as atenções internacionais dos massacres que Israel continua a desenvolver em Gaza e das ocupações e da opressão ilegais que prossegue na Cisjordânia, já para não falar, de tentar livrar o próprio Netanyahu da ameaça de prisão.

Estas aventuras guerreiras israelitas ocorrem num espaço temporal de transição para um mundo diferente. O domínio incontestado dos Estados Unidos e do Ocidente acabou. O resto do Mundo, e sobretudo a China, têm emergido com força crescente, em pujança económica e financeira, em domínio territorial, em influência regional e em controle de fontes de energia de matérias-primas, sobretudo das mais críticas para a inovação e domínio das novas tecnologias. O poder militar desse resto do Mundo tem evoluído em conformidade e a China já dispõe de bases de apoio na zona e realiza até exercícios militares conjuntos com países da região. E nem a China, nem o resto do Mundo, nem os povos do Ocidente democrático, olham com simpatia para o que se está a passar. Por estas razões, estes sonhos e aventuras israelitas são, pelo menos a prazo, muito pouco avisados e ainda bem menos benéficos para os interesses do Ocidente.

Os apoios e as conivências dos dirigentes ocidentais com as políticas israelitas têm retirado autoridade moral e política aos Estados Unidos e aos países europeus, isolando- os das suas populações e enfraquecendo-os na arena internacional, abrindo terreno para o contínuo avanço dos regimes autoritários, com destaque para a China. E isto é sentido e bem percebido por vários dirigentes ocidentais que evidenciam desconforto e pouco entusiasmo pelas ambições e agressões arrogantes e pouco responsáveis dos israelitas.

Francisco Melro

13 de Junho de 2025

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