COMBATENTES DA LIBERDADE |Obrigada, Marias cheias de graça. E de garra.
SEM FRONTEIRAS | 15 de novembro 2020 | Combatentes da Liberdade
Depois de Ribeiro dos Santos e de Palma Inácio são três mulheres extraordinárias que vêm ocupar o seu legítimo lugar nos Combatentes da Liberdade. Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa fizeram estremecer a ditadura com a publicação Novas Cartas Portuguesas. Martha Mendes orienta os nossos passos, com uma rara subtileza, nesta revisita de 2020.
por Martha Mendes*
Foi há 46 anos, a 7 de maio de 1974 (apenas alguns dias após a revolução de Abril), que as Três Marias – Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa – viram terminar o processo judicial movido contra elas enquanto autoras do livro “Novas Cartas Portuguesas”.
Escrito a seis mãos e lançado em Maio de 1971, com direção literária de Natália Correia, o livro foi proibido, recolhido e destruído pela censura de Marcelo Caetano, sob a acusação de se tratar de uma obra pornográfica, que atentava contra a moral e os bons costumes.
Solidariedade internacional
As autoras foram acusadas e levadas a tribunal. O julgamento (alvo de atenções internacionais, com nomes como Simone de Beauvoir, Marguerite Duras, ou Doris Lessing em assumida posição de solidariedade para com as acusadas) e, acima de tudo, a coragem destas três extraordinárias mulheres, que ousaram desafiar a ditadura e escrever sobre temas proibidos no Portugal cinzento do início da década de 70 – a guerra colonial, o adultério, a violação, o desejo feminino, o aborto e a subordinação da mulher, limitada ao seu papel de esposa e mãe – ficaram para a história.
Luta pela igualdade de género
Esta foi uma das primeiras grandes lutas pela igualdade de género em Portugal. As Novas Cartas Portuguesas vergaram a lei e o conservadorismo e despertaram consciências, contribuindo de forma determinante para que a mulher portuguesa rompesse as fronteiras do lar e da opressão a que estava sujeita, e tornaram-se, tal como as suas três autoras, num símbolo da luta pela igualdade de direitos.
Obrigada, Marias cheias de graça. E de garra.
Martha Mendes é licenciada em Jornalismo, mestre em Comunicação e Jornalismo e doutoranda em Ciências da Comunicação. Tem 35 anos e trabalha há cerca de 15 na área da Comunicação. É mãe de duas meninas.