14 de Setembro, 2024

Uma teoria da democracia complexa

OPINIÃO | Nelson Anjos

Outra vez o Daniel Innerarity? – “Duas vezes é para os mais inteligentes: para os outros é sempre a dobrar”. Cito de memória mas é mais ou menos assim que diz Almada Negreiros (Poeta d’Orpheu Futurista e Tudo) no seu “Manifesto Anti-Dantas e por Extenso”. E esta Teoria da Democracia Complexa justifica também mais algumas visitas do Leituras de Salto Alto.

Hoje faço-o a propósito do espanto – que por sua vez me espanta também – que causou à nata da generalidade dos comentadores políticos o facto das sondagens eleitorais influenciarem os resultados das eleições.

A termodinâmica e as ciências sociais

Começo por estranhar que alguns dos mais elementares princípios da física moderna, muitos deles já não tão recentes assim e há muito divulgados, não tenham ainda, pelos nossos lados, substituído o venerável legado newtoniano/cartesiano para acrescentar mais algum conhecimento às ciências humanas. Que, como se sabe, também são ciência. Quem nunca ouviu falar no aquecimento ou no arrefecimento da economia? E quem nunca ouviu referir a entropia das dinâmicas sociais, grandeza representativa, neste caso, da desordem social? A verdade é que, uns e outros são parâmetros que tomaram forma no campo da física, mais concretamente na termodinâmica, tendo mais tarde sido importados pelas ciências sociais. É, afinal, a natureza holística dessa “coisa” – a realidade – a manifestar-se. No caso, tornando comuns às ciências sociais e às ciências da natureza os mesmos conceitos.

Uma sondagem é um olhar

Só que, Newton e Descartes envelheceram, morreram e não tiveram tempo de perceber mais umas quantas coisas: por exemplo, e simplificando, que olhar não é um ato passivo e que o sujeito, nesse ato, altera o objeto. E uma sondagem é um olhar. Claro que Einstein, que viu isto e mais algumas coisas, também não viu tudo. Ou seja: não foi mais do que os outros, os que já passaram e os que estão para vir. Era o que faltava!

Sabe-se também que o espaço e o tempo são aspetos – ou perceções – diferentes de uma mesma “coisa”. Tal como a energia e a matéria. Por exemplo, a água e o gelo são estados diferentes da “coisa” H2O. Quer um exemplo de correspondência no campo da sociologia? – por exemplo, o partido Chega, que num determinado quadro social, caracterizado pelos valores de determinadas variáveis é de extrema direita, se essas variáveis tomarem outros valores – tal como na física – transforma-se em partido fascista. Tendencioso? Eu? – pronto, tudo bem! Qualquer outro objeto social se encontra sujeito ao mesmo tipo de fenómenos.

Uma incursão pelas ciências da natureza

Ora, servem estes exemplos muito simplificados para fundamentar a necessidade dos programas académicos de ciência política, sociologia e vizinhança, conterem uma incursão pelo estado de desenvolvimento das ciências da natureza. E descobrir com espanto, aí sim, justificado, quão útil será a teoria da relatividade, a teoria quântica e os seus desenvolvimentos mais recentes, nas áreas das ciências humanas, para evitar gastar páginas e mais páginas de jornais a tentar explicar, sem o conseguir, porque é que o PS ganhou as eleições com maioria absoluta. Ou seja, passou de PS a PS (Partido Sistema). As voltas que a vida dá! – lembrar-me eu que sou do tempo em que alguns colegas iam para sociologia, porque aquilo não era muito complicado e nem sequer era necessário ir às aulas – dizia-se então.

Vai-se a ver e …!

Daniel Innerarity

Uma Teoria da democracia complexa

Outra vez o Daniel Innerarity? – “Duas vezes é para os mais inteligentes: para os outros é sempre a dobrar”. Cito de memória mas é mais ou menos assim que diz Almada Negreiros (Poeta d’Orpheu Futurista e Tudo) no seu “Manifesto Anti-Dantas e por Extenso”.

Nelson Anjos

Texto também publicado no blogue Leituras de Salto Alto

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