A Ucrânia invadida, o império russo e o PCP
OPINIÃO | Guerra Rússia – Ucrânia
por Carlos Ventura
O declínio do Partido Comunista Português revela-se inevitável, dada a repetição de posições que já se revelaram desastrosas no passado, mas que afinal, mais do que erros, fazem parte intrínseca da natureza deste partido.
Em 1956 as tropas soviéticas esmagaram a revolta húngara. Em 1968, as tropas soviéticas entraram na Checoslováquia e reprimiram a que ficou conhecida como a Primavera de Praga. Agora, em 2022, a Rússia está a invadir a Ucrânia. Em todas estas três ocasiões, o PCP esteve do lado do império russo. Em 1956, a memória da vitória contra o nazismo ainda estava bem viva, a resistência do PC à ditadura em Portugal era heróica, mas mesmo assim houve, até dentro do próprio PC, incompreensões do seu alinhamento contra a população húngara. Uma dúzia de anos depois, no ano quente de 1968, o contexto era já muito diferente e o apoio do PC à invasão da Checoslováquia provocou uma sangria de quadros e militantes, que foram engrossar as organizações de extrema-esquerda e outras sensibilidades políticas. Nestes dois casos havia, contudo, algumas explicações de confluência ideológica e de inegável dependência logística e diplomática do PC relativamente à URSS.
Mas hoje, sendo a Rússia uma ostensiva ditadura de oligarcas multimilionários, o que leva o PCP à posição suicidária de, em vez de claramente e sem tergiversações se demarcar frente à invasão de um país sobre outro, se isolar enredando-se em explicações rebuscadas e embaraçadas, alheando-se do que a opinião pública identifica como a defesa da democracia, da liberdade e do direito à auto-determinação e à paz de um povo, neste caso o ucraniano?
É muito possível que este seja o último grande e espectacular erro trágico do Partido Comunista Português que, reduzido já a um pequeno grupo parlamentar e lutando de eleição em eleição para não continuar a perder as suas posições autárquicas, verá mais uma significativa debandada de militantes e degradação da sua imagem, já de si muito fragilizada. Devo dizer que tanto antes de 1974 como neste quase meio-século de eleições livres em Portugal, nunca estive próximo do Partido Comunista (apesar de sempre ter tido amigos/companheiros que o foram ou são), mas dito isto, considero que o PCP faz falta à democracia e o seu definhamento e já risco de irrelevância parlamentar, empobrece a vida democrática portuguesa.
O abafamento, a expulsão, o abandono de muitos dos seus melhores militantes e quadros levou à perda gradual mas definitiva da muita importância que o PCP já teve, mas esta foi forjada na luta contra a ditadura em Portugal. Em sentido oposto, o seu posicionamento geopolítico sempre foi muito questionável, com posicionamentos sombrios e o de agora não é mais do que a continuação dessas caves obscuras, onde esqueletos cobertos de pó apodrecem falando sozinhos.
CARLOS CAMPOS VENTURA. 2022 Março 2