Caldas TRL, últimas notas
DOSSIÊS | Caldas TRL – Território de Resistência e Luta
Produzimos informação e organizámos vários subtemas numa varredura temática mais ou menos completa que teve principalmente profundidade nas abordagens aos protagonistas centrais de algumas peças que envolveram a família Maldonado Freitas e, na derradeira fase, Humberto Delgado.
Muito material foi recolhido e colocado em cima da mesa, mas nem todo ele foi objeto de um tratamento adequado. Numa tentativa de compensar algumas destas lacunas encerramos o Dossiê (certamente de forma provisória) com alguns apontamentos dispersos e sem a articulação temática que se impõe.
Antes de tratar as notas soltas, um agradecimento aos facilitadores deste DOSSIÊ TRL nas Caldas da Rainha, que foram a base de toda a produção realizada coletivamente.
António João Freitas apresenta-se como um “jogador de matraquilhos”, não se coloca no centro do palco dos acontecimentos. E não precisa. Todos lhe reconhecem uma qualidade que supera todas as outras (de arquivista exímio, de músico, de desportista, de contador de histórias, etc…), a capacidade de fazer amigos e de ser amigo dos seus amigos.
Teresa Perdigão que é uma “fazedora de pontes” que liga aquilo que aparentemente não tem hipóteses de se conectar, que regista de forma metódica os chamados “acontecimentos de pequena intensidade” e que cria obra através da mera observação dos pormenores das coisas. Por isso é uma investigadora do raro que percorre todos os caminhos que forem necessários para trazer para o campo de observação o que aparenta estar escondido para sempre.
Joana Tornada e o 16 de março | Entrevista SEM FRONTEIRAS
História das Caldas da Rainha aos quadradinhos por José Ruy
Zeca Afonso e as Caldas da Rainha
A DEMONSTRAÇÃO DE JUDO NAS CALDAS DA RAINHA
por Rogério Ribeiro
Foi em 1983. Em Fevereiro, como na canção do Maxime Le Forestier, Février de cette année lá. Ainda soprava uma brisa das mudanças ocorridas no pós-25 de abril e cantava-se pelo país fora, em auditórios, clubes e associações as Cantigas do Maio e muitas outras. E a Festa da Amizade aconteceu, com judo, com Zeca Afonso e com muitos outros.
Rogério Ribeiro foi ao baú das memórias e só lamenta não recuperar todos os pormenores da situação que viveu aquando da homenagem ao Zeca Afonso realizada nas Caldas da Rainha, mas as suas recordações estão cheias de emoções “no Pavilhão Gimnodesportivo da Mata, participámos na Festa da Amizade na primeira parte do programa com uma demonstração de judo. Houve judo e karaté e depois vieram as canções e a música” recorda o treinador e árbitro da modalidade, que na ocasião tinha apenas 20 anos.
Foi o próprio Augusto Coutinho, então seu mestre e treinador que lhe deu a notícia antes do início da homenagem ” Conheço bem o Zeca Afonso e para tua informação ele é judoca como nós! Praticou judo para os lados de Setúbal e até no Judo Clube de Portugal, isto nos anos sessenta”. Coutinho que já orientava atividades da modalidade em 1974, quando Rogério Ribeiro iniciou a sua prática como judoca, na altura apenas graduado em 2º kyu (cinto azul) fazia das demonstrações uma das formas de divulgar o judo junto das populações locais.
No Gimnodesportivo da Mata naquela noite algo de muito especial iria acontecer se tivermos em conta que aqueles tempos, em termos musicais, eram dominados pelo rock português. Rogério Ribeiro recorda que ” o cartaz de divulgação musical era um cartaz que era visto de uma maneira geral como um cartaz de esquerda, comunista, músicas de intervenção. Quando fomos convidados para fazer uma demonstração de judo , pouco tempo antes do acontecimento, em conversa com o meu mestre, comentei: – não será que pavilhão vai estar com pouca gente? Caldas sempre foi mais virada para centro direita”. Rogério recorda-se da resposta otimista do seu mestre como se fosse hoje “se estiver pouca gente, estamos nós que vamos fazer uma ótima demonstração e depois deliciarmo-nos com a musica”. E o pavilhão estava cheio e a música e as canções aconteceram.
“Na altura eu era um grande fan do Zeca e dos outros todos também, mas principalmente do Sérgio Godinho. afinal o pavilhão estava cheio e bem cheio, gente em tudo quanto era lugar. Lembro me que fizemos a demonstração de judo com todos os praticantes do clube, tipo um treino normal e no fim eu fui uke do meu mestre na demonstração do nage-no-kata. A demonstração do karaté tinha sido antes e quando acabámos o concerto teve início.”
Rogério recorda-se ainda que “alguém da organização nos indicou um local para irmos jantar a cerca de 500 metros mas o meu mestre, dois alunos mais velhos e eu próprio , não fomos, pois estávamos nos bastidores e não queríamos sair dali para estar em contacto com os músicos. Estes iam subindo ao palco para cantar de forma alternada. Lembro-me ainda do meu mestre e eu termos dado uma entrevista para o jornal local, a Gazeta das Caldas, durante a qual o meu mestre adiantou que já conhecia o Zeca há muito tempo”.
Sobre o Zeca, Rogério Ribeiro recorda-se que ele só veio mais tarde, quase no fim “tenho ideia que só cantou uma canção e com todos no palco a fazerem a justa homenagem. Na altura ele já estava algo debilitado”.
E concluindo este relato de combinação absolutamente peculiar entre judo e Zeca Afonso, o treinador que também é membro da Comissão Nacional de Arbitragem e tem o grau de 3º Dan rematou ” na minha vida de judoca onde já tive imensas histórias durante 47 anos, esta tarde noite ficou na minha memória para sempre!”.
A Tertúlia na Taberna do Zé Povinho
Um derradeiro encontro para contactar com várias propostas que o o António João Freitas adiantou quer na releitura de jornais raríssimos do início do século passado, quer na declamação de poemas sobretudo de familiares, quer ainda na revisita aos LP de 33 rotações (exemplares muito especiais) e aos livros e materais de divulgação que eram utilizados na oposição ao regime.
A Tertúlia e a Boémia
As experiências de João Amaral Antunes muito a partir da gestão e animação de um restaurante em Paris, o Azulejo, proporcionaram contactos regulares com algumas figuras públicas da música, do cinema e da pintura como foi o caso de Georges Moustaki, Vieira da Silva, Bonga e muitos outros.
O Café Central uma referência dos espaços da oposição ao regime
Atualmente com uma modernização das suas instalações e com esplanada exterior, o café mantém no seu interior um painel de Júlio Pomar particularmente apreciado.
Termo do DOSSIÊ 20 DE ABRILde 2022 | CR – SF