Nem Marine…nem Le Pen!
OPINIÃO | Eleições em França
Por Artur Monteiro
Sim, vou votar mais uma vez… 2002/2017… como é que vim parar novamente a esta situação? Quando me apercebi que a esquerda não estaria na segunda volta, argumentei com a minha pertinência a necessidade do “voto em branco”. Depois de 10 de abril, reafirmei essa posição. Entretanto, as trocas de impressões, as reflexões, os confrontos de ideias levaram-me a rever essa posição que considerava (e continuo a considerar) política!
Como é que eu mudei, quem me convenceu? Ninguém e eu acho que é menos uma questão de ser convencido, mas principalmente a perceção para si próprio da posição que será a mais justa e a que mais me comprometerá com os dias de amanhã.
Convencido de que estava, e continuo estar sobre a imensa responsabilidade deste presidente-candidato que de certa forma preparou o terreno (como seus precedentes) para que a extrema-direita va ganhado terreno. Não porque tenha cometido erros estratégicos, mas antes porque sua intenção é usar tudo o que possa acautelar os seus interesses e os daqueles que ele representa e que o apoiam de de forma incondicional.
A violência do seu Ministro do Interior, as provocações e manipulações do titular da pasta da Justiça, as palhaçadas do da Saúde ou as cumplicidades entre o ministro da agricultura e o lobby da FNSEA (Federação dos Agricultores), as opções e tomadas de posição do detentor da pasta da educação ou do ensino superior. ., não só contribuíram para preparar o terreno, utilizando meios do Estado e dos contribuintes, para levar á prática as diretivas da consultora internacional Mckinsey!
Também estou consciente do perigo fascista representado pela dinastia Le Pen, que nos últimos 20 anos, em cada ato eleitoral, tem erguido a espada de Damocles sobre nossas cabeças.
Um voto a favor, como se fosse contra!
O que me convenceu ou, em todo caso, alertado foi constatar à minha volta de uma rejeição, que considero justificada, da política de Macron.
Numa reunião recente onde muitas pessoas, não necessariamente de esquerda, algumas até pouco politizadas, tradicionalmente abstencionistas, expressaram a sua decisão de ir votar em Le Pen porque não suportam a própria imagem de Macron. Sem querer ouvir o que poderia diferenciá-los e não tendo, em relação ao candidato à presidência, nuances diferenciadoras consideram-o igualmente demagogo.
Perceber que não se vão abster, que irão votar na extrema-direita, vão às urnas por rejeitarem Macron, fez-me refletir sobre o risco incorrido com a eleição de Le Pen.
Foi também a consciência do destino dos refugiados e migrantes se o pior acontecer quando o pior já estiver lá. Para nós, cidadãos, eleitores, ativistas, detentores das chaves da democracia, a consequência da tomada do poder por Le Pen é a luta e a decisão de voltar à resistência que nos é comum. As populações de origem estrangeira, atualmente dependentes da administração da prefeitura, esperando o OPFRA ou sofrendo com a ação da polícia teriam uma situação muito mais difícil e teríamos grande dificuldade para impor e organizar a nossa solidariedade (já sob Macron , como prova o exemplo de Cédric Herrou, o crime de solidariedade é instituído por este poder).
E desta feita, como escreve Le Canard de hoje, ”Nem Le Pen… nem Marine!”, votarei – como se fosse a favor – contra – Macron. Eu sei que ele está-se borrifando para as minhas intenções, as minhas críticas e ele vai considerar este voto como se fosse para ele porque para ele só contam os números: Macron só está interessado nos números, nos das finanças e nos dos votos…
Artur Monteiro | Originalmente publicada no Clube Mediapart – Paris | Colaboração do autor com o SEM FRONTEIRAS