16 de Março, 2025
fra

16 de novembro, 2022

Ventura, Fournas ou como a extrema-direita racista tem que ser posta na linha

Artur Monteiro, partilha connosco, a partir de Paris, as crónicas que publica no Club Mediapart. Na sua mais recente peça escrita, sobre o Jornal O Alarme, estabelece uma ligação direta entre o comportamento do líder e deputado do Chega André Ventura e a vergonhosa atitude do deputado lepenista francês Grégoire de Fournas na Assembleia Nacional gaulesa. A situação merece ser retratada porque nos informa das formas de pensar e agir desta extrema-direita racista que atua transversalmente na Europa e dá-nos indicações sobre os meios e os métodos de salvaguarda dos procedimentos democráticos nos parlamentos nacionais.

por Artur Monteiro

Quando a 3 de novembro, o deputado francês, Carlos Martens Bilongo, cujos pais são de origem congolesa e angolana, questionava os ministros sobre a situação dos migrantes resgatados pelo navio da SOS Méditerranée Ocean Viking, impedidos de aportar, o deputado Grégoire de Fournas do Rassemblement National de Marine Le Pen (RN) começou a gritar das bancadas do grupo de extrema-direita, ‘‘volta (ou voltem) para a Africa’’. 

Sem retirar o que disse, tentou precisar que não se tratava do deputado mas do barco com clandestinos. Esta desculpa não modifica o carater racista da sua intervenção e a sessão foi suspensa para que o “bureau” da Assembleia decidisse do seguimento a dar a este insulto. 

Assim, no dia seguinte, o deputado foi condenado à exclusão física de 15 dias da Assembleia Nacional e a privação por dois meses de metade do seu subsídio parlamentar. A escolha desta “censura com exclusão temporária” foi decidida durante um encontro que durou mais de duas horas e meia, presidido pelaPresidente da Assembleia Nacional, dos vice-presidentes, dois dos quais são do partido de extrema-direita, os secretários e questores, bem como os presidentes de grupos políticos – incluindo Marine Le Pen. A decisão foi tomada por unanimidade, tendo os deputados RN presentes optado por sair da sala e não participar à votação.

O deputado De Fournas (abastado viticultor) devia ser investido três dias mais tarde como porta-voz do partido lepenista da extrema-direita francesa.

Segundo o diário alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung, publicado em 2022. Um jornalista revelou que “trabalhadores sazonais portugueses” acampavam atrás de um armazém do Château Vieux Cassan, terras vitícolas da família de Fournas. (citado no jornal Libération do 7 nov 2022)

Artur Monteiro, Paris

VÍDEOS | Assembleia Nacional Francesa e Assembleia da República

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.