Visita guiada às Jornadas People realizadas em Lisboa e na Marinha Grande
24 de novembro, 2022
Um programa com três dias recheados de ideias e de emoções
As JORNADAS PEOPLE, pelo programa realizado, pelos parceiros que foram envolvidos e pelos inúmeros participantes que deram o seu contributo, irão certamente ter impacto nas ações futuras de uma corrente informal de cooperação que junta pessoas e entidades num objetivo comum: fazer tudo o que está ao nosso alcance para que as ações em torno das Memórias da Resistência Antifascista e do Exílio tenham efeito concreto e positivo na luta atual contra a ascensão da extrema-direita no mundo e em Portugal.
1- AS MEMÓRIAS E O MUSEU DO ALJUBE
As jornadas tiveram início em Lisboa com uma visita ao Museu do Aljube Resistência e Liberdade.
O objetivo foi enquadrar as iniciativas seguintes no contexto histórico do regime fascista e sobretudo nas suas ações de perseguição política, repressão e opressão.
2 – O PATRIMÓNIO IMATERIAL NAS REDES DE COOPERAÇÃO
Trata-se de ampliar as interações de todas as entidades e pessoas que se juntam e articulam em torno de iniciativas relacionadas com as Memórias com áreas próximas que inscrevem a sua ação no campo da história, do património e de outros domínios que podem colaborar reforçando as ações umas das outras. No âmbito das Jornadas PEOPLE o tema do património esteve bastante presente já que a entidade coordenadora do projeto europeu, a ATRIUM, é uma associação com um foco central nas temáticas do património relacionado com os regimes autoritários do século XXI.
Nesse sentido realizou-se no Museu do Aljube, no primeiro dia das JORNADAS, um encontro com a Redes Portugal entre Patrimónios que é coordenada pelo MNAC – Museu Nacional de Arte Contemporânea e que contou com a presença de Lúcia Saldanha que apresentou a rede e promoveu um debate sobre a importância e a atualidade desta matéria.
3 – ACOLHIMENTO NO SALÃO NOBRE DA CÂMARA MUNICIPAL DA MARINHA GRANDE
O Presidente da Câmara Municipal da Marinha Grande, Aurélio Ferreira, acolheu as delegações dos diversos países europeus que participaram nas Jornadas – Croácia, Bulgária, Albânia e Itália – e os diretores e membros dos Órgãos Sociais da AEP61/74- Associação de Exilados Políticos Portugueses José Martins, Joaquim Nunes, Beatriz Abrantes e Manuel Rodrigues Também estiveram representados na sessão de acolhimento os parceiros da Associação Cultural e Recreativa da Comeira através do Presidente Carlos Franco e de António Aires Rodrigues. João Teixeira responsável pela área do associativismo, da juventude e do desporto da autarquia que a par de Ana Carvalho da Cultura apoiaram desde o início a iniciativa, também esteve presente.
4 – ENCONTRO COM ALUNOS DA ESCOLA SECUNDÁRIA ENGº ACÁCIO CALAZANS DUARTE – MARINHA GRANDE
No encontro realizado no dia 28 da parte da manhã estiveram presentes, para além dos parceiros europeus do projeto, o Diretor do Agrupamento de Escolas Marinha Grande Poente, Cesário Silva, professores, alunos e membros da AEP e da ACR Comeira. O debate entre os participantes teve vários pontos de partida, desde a própria experiência da escola nas sucessivas iniciativas que tem vindo a realizar em cooperação com o SEM FRONTEIRAS, até às atividades realizadas por alunos na Albânia, na Croácia, na Bulgária e em Itália que foram apresentadas através de vídeos.
Vários alunos subiram ao palco ou utilizaram o microfone nas bancadas do auditório para apresentar temas e opiniões, sendo de destacar que na delegação búlgara constavam dois alunos que foram os principais protagonistas da apresentação das atividades realizadas no seu país.
No debate intervieram ainda ex-exilados políticos e membros das delegações europeias. No final, com a coordenação do Professor Nelson Faustino, 3 alunas apresentaram os Roteiros com História que não foram realizados nas ruas da cidade por estar a chover.
5 – FÓRUM “CONTA-ME COMO FOI”
O Fórum, realizado no dia 28 de outubro da parte da tarde, no Edifício da Resinagem, na Marinha Grande contou com vários momentos de apresentação, de conversa, de debate e de encontro informal que, no seu conjunto, envolveram os participantes de forma ativa e até apaixonada.
Irene Pimentel conversou com Helena Cabeçadas e com o público.
Maria Emília Brederode dos Santos, Helena Cabeçadas, Irene Pimentel e Amélia Redsnde testemunharam, como mulheres de resistência e luta, várias situações de opressão antes do 25 de Abril, ainda antes de terem deixado o país e vivido no exílio ou em interação com exilados e exiladas em terras europeias, americana e até africanas.
A conversa foi muito animada e as denúncias sucederam-se assim como as histórias que desenvolveram-se como as cerejas, vieram umas atrás das outras e instalaram no auditório em ambiente muito informal mas cheio de entusiasmo e interesse pelas situações divulgadas.
6 – VIDAS COM UM SENTIDO MUITO ESPECIAL
O terceiro momento do FÓRUM foi animado por Guadalupe Portelinha. As histórias de vida sucederam-se de forma quase complementar, muito da vida de uns tinha sido da vida dos outros. As ações contra a ditadura, as prisões, a deserção, a luta contra a guerra colonial, os movimentos estudantis e operários, o exílio, as amizades e o companheirismo, a solidariedade e os apoios que forma surgindo, a clandestinidade e a continuação da luta depois do regresso que o 25 de Abril proporcionou de forma libertadora.
Joaquim Nunes um ex-operário perseguido e um desertor ativo que continuou a organizar e a participar em iniciativas depois da deserção e do exílio. Depois do regressar ao país em 1974, foi funcionário político durante alguns anos.
António Aires Rodrigues um participante ativo nas lutas académicas em Coimbra que teve que se exilar em França onde continuou a militar. Já depois do 25 de Abril foi deputado à Assembleia Constituinte.e manteve uma forte ligação ao setor vidreiro.
Francisco Fanhais, ex-sacerdote que nos relembrou a ação única que ocorreu na Capela do Rato contra a guerra colonial e em confrontação com a vontade da hierarquia da Igreja Católica. Fez-nos visitar uma amizade com características e consequências absolutamente extraordinárias, a relação amiga e solidária com José Afonso.
José Augusto Martins, uma infância e uma adolescência marcada pelas prisões sucessivas dos familiares que foram quadros do Partido Comunista, e ele próprio preso com 15 anos em consequência de ações contra o regime. Refugiado em França nos anos sessenta do século passado, viveu e participou nos acontecimentos de Maio 1968.
Mário Tomé, um militar de Abril que foi deputado à Assembleia da República e que desenvolve uma intensa atividade política adiantou, para além das referências ao passado como militar ativo contra o regime fascista e contra a guerra colonial, posições sobre as formas de intervir nos tempos atuais atendendo aos perigos que ameaçam as populações mais pobres e desfavorecidas em Portugal.
José Zaluar acompanhou o percurso de praticamente todos aqueles que o antecederam no seu relato sintético de história de vida. Viveu intensamente as lutas no país e no exílio esteve mergulhado nos acontecimentos de Maio 68. A relação entre Paris e José Zaluar perdura para além desses tempos.
Guadalupe Portelinha teria matéria para o resto da tarde na sua missão de animadora do painel que implicava relançar o debate sobre muitos dos temas abordados pelos seis “narradores de experiências” mas a escassez de tempo não o permitiu, infelizmente. Ficou a ideia de promover uma nova iniciativa com este grupo de militantes, que pelo passado quer ainda pelas ideias que têm para o presente e o futuro.
7 – OS JOVENS TOMARAM A PALAVRA
Um grupo de jovens estudantes que no ano transato ainda eram alunos da Escola Secundária Engº Acácio Calazans Duarte e que entretanto seguiram o seu caminho e estudam atualmente em diversas faculdades da Universidade de Lisboa vieram ao Fórum para testemunhar das atividades realizadas em abril 2022 no âmbito da iniciativa Conta-me como foi e sobretudo para tomar a palavra sobre o potencial da relação “memórias da resistência e luta” e a ação que se impõe nos nossos dias contra a ascensão da extrema-direita e em defesa da democracia.
O diálogo estabeleceu-se entre o grupo de jovens que revelaram ideias próprias sobre estes temas e os restantes participantes no Fórum e o debate foi particularmente empolgante.
Ficou a ideia de no futuro ser organizada uma iniciativa com esta base de reflexão visando a co-construção de propostas que tenham como ponto de partida a intergeracionalidade nos comprometimentos políticos e cidadãos.
8 – A VOZ DOS PARCEIROS EUROPEUS
O Fórum foi encerrado com intervenções realizadas pelos representantes das delegações da Albânia, da Croácia, da Bulgária e de Itália, tendo sido esta última a comunicação de encerramento que foi proferida por Cláudia Castelucci a Diretora Geral da associação ATRIUM que coordena o projeto PEOPLE e que é a entidade que dinamiza a nível europeu a Rota do Património relacionado com os regimes autoritários na Europa do século XX.
João Teixeira, em representação da Câmara Municipal da Marinha Grande, deu por concluído o Fórum com palavras estimulantes em termos de continuidade da parceria entre o município e a Associação de Exilados Políticos Portugueses – AEP61/74.
9 – UMA NOITE CULTURAL NA ASSOCIAÇÃO CULTURAL E RECREATIVA DA COMEIRA
Concluídos os trabalhos levados a efeito desde a chegada ao Museu do Aljube, a vontade era sobretudo de confraternização e de partilha entre os participantes das Jornadas PEOPLE. E assim foi. Um jantar popular e com grande qualidade gastronómica por se basear nas tradições locais do vidreiro (sopa do vidreiro e coelho à vidreiro) foi organizado pela Associação da Comeira cuja equipa de organização revelou uma extraordinária capacidade de realizar um evento muito exigente com uma fantástica qualidade que surpreendeu pela positiva todos os participantes na refeição.
A noite cultural, por sua vez, foi vivida num crescendo de emoções com as presenças criativas da comicidade na abertura e logo de seguida o canto de intervenção com vozes e sons inesquecíveis.
A primeira presença em palco foi de Cristóvão Carvalheiro com o Inacreditável Wonderlei, uma produção do Teatro à Solta da Marinha Grande.
As Clowntinas apresentaram o espetáculo preparado para esta participação AS INTERVENTINAS. Um misto de comicidade com concertinas e vozes a darem luz e força a temas de Zeca Afonso e outras canções de protesto.
Francisco Fanhais interpretou algumas das suas canções mágicas e contou histórias que recordaram aos presentes a importância do canto de intervenção e principalmente a obra de Zeca Afonso,
E Manuel Teixeira encerrou o concerto com a sua energia muito peculiar e ainda com as suas variações entre a melodia empolgante e as canções que desafiam para a ação coletiva.
No final, um concerto cheio de criatividade e de emoções fortes.
10 – O VIDRO, NO MUSEU E NO NÚCLEO DE ARTE CONTEMPORÂNEA
Uma visita a alguns espaços da cidade relacionados com o VIDRO, recordou-nos que estamos no Ano Internacional do Vidro e que a Marinha Grande é cidade central nesta iniciativa de âmbito mundial.
11 – CONVÍVIO E DESPEDIDA DOS PARCEIROS EUROPEUS.
As jornadas ficaram concluídas com uma visita à Praia de S. Pedro de Moel que revelou aos representantes das delegações europeias um eco-sistema particularmente rico e por fim um almoço de despedida.
José Augusto Martins, em nome da direção da Associação de Exilados Políticos Portugueses, agradeceu a todos os participantes e colaboradores na organização do evento e deu por encerradas as JORNADAS PEOPLE.