A Guerra Contra a Democracia
OPINIÃO | De Trump a Putin
por Nelson Anjos
Do curriculum do autor de “De Trump a Putin – A guerra Contra a Democracia”, Álvaro de Vasconcelos, destaca-se na primeira linha a sua atividade como investigador no CEIS20 na Universidade de Coimbra. Ora, como se sabe, a investigação, seja em que área do conhecimento for, tem como objetivo descobrir – ou produzir – o novo. Algo que dá muito trabalho e que não descobri neste livro.
Nem o facto de se tratar de crónicas importadas da atividade de jornalismo, género de que se dirá ser pouco afeito à apresentação de teses – não se pedia tanto – justifica a total ausência de algum odor, que fosse, a novidade. Ainda assim, o “sabor a pouco” não justifica palavras de maior desmerecimento da obra.
O conjunto de crónicas publicadas no jornal Público, entre os anos 2015/2022, que fazem objeto do livro, proporcionam uma boa panorâmica, através de acontecimentos marcantes ocorridos em várias latitudes do planeta, do que tem sido, na perspetiva do autor, a luta da democracia liberal pela sua sobrevivência, face aos ataques dos seus inúmeros inimigos.
Na falta do tal novo, relembre-se algo do que já foi dito/escrito mas que faz sentido continuar a dizer/escrever:
“(…) À semelhança de outros grandes criminosos da História, Putin, antes de transformar a vida dos ucranianos num inferno, começou por desumanizá-los.
(…) A desumanização do outro, como tão bem descreveu Primo Levi, é a condição necessária para lhes negar o direito à vida. É um traço de todos os déspotas, dos que acreditam na superioridade da sua raça, cultura ou etnia. Os ucranianos que não falam russo, que não se reveem na Rússia eterna de Ivan o “Terrível”, no império colonial dos czares, na Rússia de antes da Revolução de Outubro, não têm direito a ter direitos. (…)” (25-02-2022)
É verdade que:
“(…) As marchas da extrema-direita, fascista, sem representação parlamentar, alimentaram a narrativa de Putin da necessidade de intervir para proteger a minoria russa supostamente ameaçada.
Mas também é verdade que:
(…) Tudo o que sabemos da política de Putin faz com que seja incompreensível que políticos que se dizem de esquerda justifiquem a ingerência russa na Ucrânia. Quem foi contra a guerra do Iraque, tem, necessariamente, de ser contra a da Ucrânia. (…)”
Finalmente:
“(…) Nada disso, porém, significa que as perceções de segurança da Rússia não devam ser tomadas em consideração na procura de uma solução pacífica para o conflito da Ucrânia. (…)” (30-01-2022)