A aventura da imprensa estudantil do ensino secundário no período terminal da ditadura
Livro de Rui Gomes e Jorge Ramos de Ó vai ter lançamento em Lisboa e Porto
Nos liceus, os números dos matriculados não enganam quanto ao caráter elitista da sua frequência. Em 1970 estavam matriculados 14 870 alunos e, embora em 1973 se confirmasse um acentuado crescimento de 50%, apenas 22 994 alunos frequentavam esta fileira do ensino secundário. Trata-se do maior aumento do contingente liceal durante o Estado Novo, facto a que não são alheios quer a recomposição do tecido económico e social da ditadura quer o crescimento das aspirações sociais e educativas de setores mais alargados da população.
As novas aspirações sociais têm repercussões visíveis e invisíveis, que se multiplicam em surdina, lentamente, ou que se apresentam de modo urgente e ruidoso. Os adultos destes grupos sociais aproveitaram a situação tornando-se notados pelos novos comportamentos de consumo e pela pressão ansiosa sobre o percurso escolar da descendência, mas alguns dos filhos adolescentes optaram por fazer um caminho mais rápido e concluíram muito cedo que a nova vida podia ser acelerada se tomassem a palavra e rompessem com as amarras institucionais da ditadura.
Criar uma nova esfera pública em que pudessem expressar a sua autonomia passa a constituir um programa. Uma parte da construção dessa nova esfera pública foi feita por meio de instrumentos que hoje são parte dos adquiridos pela geração que nasceu depois do 25 de Abril: a liberdade de falar, de escrever, de produzir e difundir informação a partir do livre arbítrio individual e da organização e cooperação em grupo. Para os que hoje participam diariamente nas redes sociais e conhecem a imprensa livre é difícil perceber esta história feita de algum arrojo, porque envolvia a perseguição de um estado policial. Porém, nos primeiros anos da década de 1970, estes meios não existiam; pior, a imprensa livre não existia e quem a quisesse construir teria de se dispor a desafiar os instrumentos de controlo, vigilância e repressão da ditadura. Foi neste contexto que se construiu a aventura da imprensa estudantil do ensino secundário no período terminal da ditadura. É dessa história que são feitas as páginas deste livro.
(Sinopse)
Título
Rui M. Gomes e Jorge Ramos do Ó (eds) (2023). A Urgência da Palavra Impressa. A imprensa dos “intrépidos adolescentes” contra a ditadura (1970-1974). Lisboa: Tigre de Papel, 192 pp.
Autores
Rui M. Gomes é doutor em Sociologia da Educação pela Universidade de Lisboa, professor catedrático aposentado da Universidade de Coimbra e investigador do Centro de Estudos Sociais. Foi dirigente do MAEESL entre 1971 e 1974.
Jorge Ramos do Ó é doutor em História da Educação pela Universidade de Lisboa e professor catedrático do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa.
Local da apresentação
Feira do Livro de Lisboa
Dia e hora
A anunciar em breve
Apresentação
José Neves, Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa
Rui M. Gomes, Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra.
Jorge Ramos do Ó, Instituto de Educação da Universidade de Lisboa