António José Matias dirigiu a partir da cama do hospital grande parte da “Operação Mondego”
Nomes que nem tempo ou oportunidade tiveram para o exílio
por Pedro Cabrita
Há já algum tempo, na excelente festa que foi a apresentação do livro “Memórias do Exílio” de Ana Aranha e Carlos Ademar, vieram-me à memória nomes que nem tempo ou oportunidade tiveram para o exílio, permanecendo até hoje na penumbra da nossa memória.
Um desses nomes é o de António José Matias.
Muito poucos terão alguma vez ouvido o seu nome ou o conheceram.
Nascido no Algarve, creio que em Tunes, muito cedo aderiu aos movimentos antissalazaristas, iniciando movimentações e ações na clandestinidade que lhe custaram perseguições da Pide.
A J. Matias tinha um grave problema renal. O seu irmão, José Manuel Silva Matias, disponibilizou-se para lhe ceder um rim. Ao tempo essa operação só poderia ser efetuada na Bélgica. A Pide proibiu-o e António Matias caiu à cama de um hospital com uma insuficiência renal.
A Pide tentou por várias vezes interrogar António Matias no hospital. A médica que o assistia impediu-o sempre, o que foi conseguindo durante um bom período de tempo.
Um dia, essa médica, teve que se ausentar para uma conferência no Porto. A Pide entrou no hospital, desligou as máquinas e interrogou o A. Matias sob tortura e espancamentos. Morreu no dia seguinte. Tinha 22 anos.
A partir da cama no hospital A. Matias dirigiu grande parte da “Operação Mondego” (Assalto ao banco da Figueira da Foz) levada a cabo por Palma Inácio, Camilo Mortágua, Luís Benvindo e António Barracosa.
Utilizava o seu irmão como correio tendo um extremo cuidado nessa utilização.
As cartas que enviava iam sempre fechadas e o irmão José Matias nunca sabia o que continham. Era a forma de preservar alguma segurança para o irmão, caso fosse detido pela Pide.
Posteriormente à “Operação Mondego”, José Matias sentiu que estava a ser perseguido pela pide. O caminho foi o exílio. Hoje vive ainda na Bélgica.
António José Matias era um jovem de rara inteligência e capacidade. Coordenar a “Operação Mondego” em padecimento e a partir duma cama do hospital, prova-o.
Que nos sobre o tempo que chegue para deixar o testemunho possível de todos os heróis que povoam ainda a nossa memória de luta pela liberdade.
Pedro Cabrita
LIVROS PUBLICADOS
- “Não há Escola” – A Escola e a pedagogia (A publicar)-
- “Capitães do Vento” – Guerra Colonial (Esgotado)
- “A Junta” – Breve história… em terra de algarvios (Pedidos diretos ao autor por email
- – “O Último Inferno” – Guerra Colonial (Esgotado) –
- “Revolucionário Improvável” – Resistência anti fascista (Esgotado)
- – Aquém-mar – Edição de autor – Adquirir por email
- petruscabritas@gmail.com)