8 de Outubro, 2024

AGENDA – 50 ANOS do 25 de Abril | Dia 9 de fevereiro 21h30

Uma iniciativa da AJA – Norte em torno do filme-documentário Cartas a uma ditadura.

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O Filme

“Sabe que naquele tempo a mulher era diferente, não é?” (Maria Hermínia Rodrigues, uma das entrevistadas de Cartas a uma Ditadura)

Estamos em Portugal. O ano é 1958, mas também 2006, a época em que o filme foi realizado por Inês de Medeiros. Esta obra constitui um ponto importante na carreira da realizadora, tendo ganhado cinco prémios, entre eles o Prémio de Melhor Filme Português no DocLisboa em 2006. A localização espacial e temporal de Cartas a uma Ditadura é importante porque estamos perante um documentário. As principais técnicas utilizadas na obra fílmica confirmam esta afirmação: a existência de uma narradora e de entrevistas, e a utilização de imagens de arquivo.

Cartas a uma Ditadura parte de um conjunto de cartas inéditas encontradas, por acaso, num alfarrabista.

Estas cartas foram posteriormente doadas à Torre do Tombo, em 2011, pela historiadora Irene Pimentel.

Como nos explica a voz off, também feminina, estas cartas encerram em si a narrativa subjetiva de uma centena de mulheres que respondem a um apelo feito pelo “Movimento Nacional das Mulheres Portuguesas”. Este movimento terá sido criado para apoiar Américo Tomás, o candidato de Salazar, contra Humberto Delgado que, no ano de 1958, se apresenta nas eleições presidenciais, constituindo uma ameaça ao regime. Quem são estas mulheres e o que referem nas suas cartas? A sua situação social é muito variada: professoras primárias, costureiras, donas de casa, mulheres pobres, mulheres ricas, outras casadas com homens influentes do regime. Mas se revelam admiração por Salazar e pelos valores que regiam aquele regime, a realidade irrompe por entre o simulacro da aparente perfeição, e a tristeza e a pobreza deixam a sua marca escrita e visual.

No documentário, algumas destas mulheres são entrevistadas na atualidade (2006), e, ao serem confrontadas com o que escreveram, apresentam sobretudo uma reação ambígua: “Não me lembro bem de ter respondido a esta circular. O Pai já tinha ensinado: Vocês não se metam em política! Mas apareciam estas cartas a chamar… (…) A ideia deste movimento era ter uma tropa feminina, mas não era para combater. Era uma tropa forte, que se todas tivéssemos que dizer não, era não. Mas também não sabíamos bem a quê.” (Madalena de Lancastre). Assim, Cartas a uma Ditadura constitui em si mesmo um documento histórico que, para além de revelar documentação inédita, é um valioso contributo para a compreensão da condição feminina portuguesa no contexto dos anos 1950 e dos reflexos que esta deixou até aos nossos dias.

[Introdução da Brochura sobre o filme produzida pelo Plano Nacional de Cinema, Autora Ana Bela Morais]

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