5 de Dezembro, 2024

Esta um lindo dia de sol e o Benfica tem de ganhar ao Bayern

OPINIÃO – Francisco Melro

Ontem tinha programado ficar desperto madrugada fora a acompanhar o apuramento dos resultados das eleições presidenciais dos Estados Unidos. Previa uma disputa apertada com de resultado incerto até ao final. Temia o desfecho mas reservava uma ténue réstia de esperança para a vitória de Kamala. Para bem de todos. 

Às 2 da manhã já não tinha ganas. Às 3 fui para a cama. A percentagem de resultados apurados ainda era reduzida mas a minha sensibilidade para a análise estatística de tendências subjacentes não me deixava dúvidas. Trump iria ganhar.

Quando acordei, ignorei as desgraças, fiz os meus exercícios físicos matinais, tomei o exigido banho e saí para a minha caminhada . Dei de caras com um lindo dia de Sol, óptimo para curtir mágoas. Passei por um anúncio de um jackpot de 100 milhões no Euromilhões. Decidi arriscar. Sabe-se lá…Só no início do almoço tive coragem para ligar a televisão e espreitar a dimensão do desastre.

O que é que me acode dizer?

Tenho medo do que se avizinha. A ordem internacional em que nasci e os valores que a inspiraram ficaram de rastos. O seu histórico pilar, os Estados Unidos, estará durante quatro longos anos nas mãos de um ignorante irresponsável, aldrabão, troca-tintas, sem um mínimo de decência, com tendências vincadamente nacionalistas, autoritárias e fascizantes, que menospreza as Nações Unidas. Terá a partir da Presidência poder absoluto, temor absoluto e reverência absoluta, nos membros do Partido, no Senado, na Câmara dos Representantes e até no Tribunal Constitucional.

Poder com raio de acção e eficácia absolutamente ampliados por interessados magnatas da comunicação social americana, com destaque para Elon Musk, garantia de uma capacidade ilimitada para a manipulação da opinião pública e ataque a opositores através de fake news e campanhas orquestradas nas redes sociais.

Segue-se um futuro complicado e inseguro para a União Europeia, criada e protegida desde o fim da Segunda Guerra Mundial pelo guarda-chuva protector dos Estados Unidos, de que Trump não gosta. Os amores de Trump com Putin e a eventual concretização das suas ameaças enfraquecerão e limitarão a acção da Nato, podendo conduzir à rendição da Ucrânia aos ditames de Putin e à fragilização da segurança dos países do Leste Europeu. Sem forças armadas nem indústria militar própria, à altura, quem é que na Europa conterá os apetites e ditames de Putin?

Os movimentos nacionalistas populistas e autoritários, inspirados, estimulados e financiados por Trump e Putin, ganharão novo impulso na EU, incentivando a sua desagregação. Basta ver o entusiasmo com que porta-vozes de Putin, Orban e Ventura saudaram os resultados.  Os dirigentes europeus foram enterrando a cabeça na areia à medida que as ameaças foram surgindo. Estão agora “entalados” entre as dependências e as investidas de Trump, de Putin e da China. Neste âmbito, a pragmática Hungria de Orban faz três em um, podendo servir de tentação como modelo para a resignação dos países europeus às novas realidades. 

Para a economia mundial trata-se do enterro definitivo da globalização e a institucionalização de uma grande desordem, com os últimos pregos do caixão a serem cravados pelas vítimas ocidentais do processo. Anunciam-se protecionismos, taxas alfandegárias, guerras comerciais, americanas contra o resto do Mundo, incluindo EU, da EU contra a China e condizentes medidas retaliatórias. A conflitualidade dificilmente ficará limitada às trocas comerciais.

Com a provável liberdade ilimitada de acção para Netanyahu, poderá ser o fim da legítima aspiração dos abandonados palestinianos ao reconhecimento do seu Estado independente e um agudizar de tensões de consequências imprevisíveis para o conjunto do Médio Oriente.  A enorme satisfação de Netanyahu fala por si. E quem poderá estar confiante na gestão americana das relações com a China e da conflitualidade na zona de Taiwan e dos países aliados ocidentais com fronteiras marítimas com este país?

Paz no Mundo com Trump? E combate às alterações climáticas? E financiamento da acção das Nações Unidas em diversos continentes nos domínios, das crises, da saúde, da pobreza e da fome?

Reservo o resto dia para o meu apoio ao Benfica.  Vamos ganhar em Munique. 

Editor

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